O cuidado com a fragilidade da fama repentina

Reflexões

Um espelho útil para quem ainda não percebeu que está sendo engolido pela própria imagem.

A busca de aprovações nas redes sociais mostra esse lado um tanto quanto narcisista das pessoas. É uma ansiedade muito grande que demonstram, buscando acompanhar cada publicação e quantos "likes" obteve com sua postagem. Muitos até acabam tornando-se um "influencer" e se tornam famosos, gerando vários tipos de situações devido essa "fama". Aparecem os que admiram e também os contrários que por visível inveja tentam desconstruí-lo.

As redes sociais potencializaram essa dinâmica de forma brutal. A lógica do "curtir" como validação criou um tipo novo (ou ao menos amplificado) de relação entre autoestima e aprovação externa. É como se o espelho moderno fosse a tela do celular: o reflexo depende dos olhos alheios.

Esse narcisismo digital — que nem sempre é clínico, mas cultural — se manifesta em vários níveis:

- A ansiedade por aprovação imediata;

- A sensação de invisibilidade quando uma postagem “não performa”;

- A dificuldade em separar o “eu real” do “eu editado”;

- A euforia da ascensão repentina (o "viral");

E, como observei inicialmente, ocorre também o surgimento dos opositores, os haters, os que tentam desconstruir a figura pública por ressentimento, inveja ou puro prazer sádico.

A fama nas redes é ainda mais cruel porque:

1) vem rápido e vai embora ainda mais rápido;

2) não depende de talento consistente, e sim de algoritmos;

3) não prepara para o fracasso — porque o sucesso é, muitas vezes, acidental;

e

4) não perdoa deslizes — porque a vigilância é constante.

Muitos jovens (e até adultos) não percebem que estão construindo sua identidade em cima de uma plataforma instável, regida por métricas e volatilidade. A consequência? Fragilidade emocional, crises de ansiedade, distorções de autoimagem, comparações compulsivas e até quadros depressivos.

Como sabemos, a autoimagem é a forma como uma pessoa se percebe e se avalia, envolvendo a aparência, as habilidades, os traços de personalidade, as emoções e os pensamentos.

Se você integrar a psicologia a esse conteúdo, vale pensar em tópicos como:

- Dependência de validação externa;

- Autoconhecimento vs. autoimagem pública;

- O impacto da hipervisibilidade na saúde mental;

- A arte de lidar com a crítica e a rejeição;

- A construção de identidade sólida fora da fama.

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À seguir, um retrato fictício de um influencer para representar isso. Serve como espelho simbólico para quem lê — e ajuda na reflexão sem parecer um sermão. Confira:

A Influencer do Espelho Quebrado

Ela se chamava Júlia, mas a internet a conhecia como @JuGlow. Começou postando dicas de maquiagem, vídeos de “transformação”, frases motivacionais. Era linda, carismática, doce no tom e afiada nas respostas. Em poucos meses, saiu dos 2 mil seguidores para 400 mil. Parcerias, recebidos, viagens — tudo parecia se encaixar no sonho.

Com o tempo, cada postagem virava uma batalha: ângulos certos, filtros específicos, palavras estrategicamente pensadas para parecer espontâneas. O número de curtidas virava um termômetro do valor do dia. Se bombava, sorria. Se flopava, não dormia.

Quando um vídeo viralizou negativamente — por uma opinião mal interpretada — ela foi atacada, cancelada, difamada. Perdeu contratos, seguidores, confiança. Tentou se defender, mas toda fala era distorcida. Sumiu por uns tempos.

Hoje, Ju mora com os pais e trabalha remotamente com edição de vídeos para outros criadores. Quase nunca posta. Às vezes, abre o próprio perfil antigo como quem visita um túmulo digital.

— Fui seguida por milhares, mas nunca estive tão sozinha — disse certa vez a uma amiga.

Agora, estuda psicologia. Quer entender o que aconteceu com ela — e com tantos outros. Ainda não decidiu se vai apagar o perfil. Ainda não decidiu se vai voltar a ser apenas Júlia.

MARCO ANTONIO PEREIRA
Enviado por MARCO ANTONIO PEREIRA em 15/04/2025
Reeditado em 15/04/2025
Código do texto: T8310217
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