O MACHISMO DE BABY, O PAPEL DO REACIONARISMO RELIGIOSO E O COMBATE À VIOLÊNCIA SEXUAL

Por Adriano Espíndola Cavalheiro

A fala de Baby do Brasil (ex-cantora e pastora evangélica), ao sugerir o perdão irrestrito a abusadores sexuais, revela uma profunda desconexão com a realidade das vítimas. Sua declaração não apenas ignora o trauma e a dor infligidos, mas também os minimiza, culpabilizando as vítimas pela violência sofrida. Essa fala ocorreu durante um culto intitulado "Frequência com Deus", realizado na casa noturna D-Edge, em São Paulo, na segunda-feira, 10 de março de 2025. Durante o evento, que misturava pregação religiosa com música, Baby do Brasil incentivou o público a perdoar aqueles que lhes fizeram mal, incluindo vítimas de abuso sexual, especialmente se o agressor fosse um membro da família.

Essa postura reflete o machismo e o reacionarismo presentes em muitas crenças religiosas cristãs, onde a submissão e o perdão são frequentemente exaltados em detrimento da justiça e da responsabilização. A ideia de perdoar abusadores sexuais é extremamente absurda e perigosa. Ela envia uma mensagem de impunidade, encorajando agressores e silenciando vítimas que já lutam contra o medo e a vergonha. Ao defender o perdão incondicional, Baby do Brasil desrespeita a luta de milhares de mulheres e crianças que sofrem abusos sexuais diariamente, perpetuando um ciclo de violência e opressão.

Baby do Brasil com sua fala, deu voz a certos setores que se identificam com a extrema direita, e normalizam abusos sexuais, demonstrando uma profunda cumplicidade com um tipo de sociedade, o capitalismo, que se vale da violência sexual para oprimir as mulheres, torná-las submissas e melhor explorar sua força de trabalho. A violência sexual, ao gerar trauma e medo, exerce um poderoso efeito de controle sobre as mulheres, reduzindo sua capacidade de agir e se organizar. Essa precarização beneficia os grandes capitalistas, que podem explorar a força de trabalho feminina com salários mais baixos e menos direitos.

A normalização da violência sexual, através de discursos como o da pastora Baby do Brasil, contribui para a manutenção do status quo, ao naturalizar a opressão e a desigualdade de gênero. Ao silenciar as vítimas e defender a impunidade dos agressores, esses discursos reforçam a ideia de que a violência sexual é algo inevitável e tolerável, o que impede a construção de uma sociedade minimamente justa. A religião, como superestrutura, ajuda a manter a estrutura capitalista, com seus discursos de ódio, e de opressão.

Ainda que a opressão contra as mulheres e a violência sexual terão seu verdadeiro fim, com o fim da sociedade de classe, todos e todas, mulheres e homens, desde já, devem lutar contra o machismo, com o qual a violência sexual está extremamente relacionada, combinando essa luta com a luta mais geral contra o sistema, falo do capitalismo, que dele se beneficia.

 Punição rigorosa para abusadores sexuais, sem concessões ou "perdões" que perpetuem a impunidade.

 Políticas públicas robustas de proteção e apoio às vítimas de violência sexual.

 Educação sexual e de gênero nas escolas, combatendo a cultura do estupro desde cedo.

 Organização das mulheres trabalhadoras em comitês de autodefesa contra a violência machista.

 Campanha permanente de conscientização sobre a violência sexual e seus impactos.