Uma vergonha nacional
Foi realmente uma vergonha nacional ver tantos brasileiros, inclusive aqui no Recanto das Letras, comemorarem a vitória de Donald Trump. Falavam no homem como um paladino da moral, que iria combater a cultura woke e o aborto, além de reverter a política desastrosa de Joe Biden. Vamos fazer uma pergunta: e por acaso Donald Trump é um herói, um Messias? Por que tanto contentamento com a vitória dele? Só por ele ser de direita? Eu não achava Biden grande coisa e não sei se Kamala Harris era uma boa opção mas penso que a vitória de Trump é um retrocesso. Pior foi ver políticos fazendo papel ridículo como um prefeito que ficou dançando para comemorar a vitória de Trump. Horrível ver políticos aqui usando um boné dizendo: “Make America great again.” como se a vitória desse senhor fosse trazer uma era dourada. Pareciam um bando de vira-latas abanando o rabo. Tanto Nikolas Ferreira quanto Tarcísio de Freitas, Bolsonaro, a mulher e o filho dele fizeram papel ridículo. E Nikolas, em um vídeo, ficou falando sobre a “mão de Deus.”
Não entendo a alegria de recantistas aqui com a vitória desse homem que está longe de ser um exemplo de idoneidade dizendo que os cristãos e conservadores são perseguidos nos Estados Unidos. Uma ova que são! A maioria dos americanos é cristã e prega valores conservadores! Foi o que conversei com um amigo americano pelo Facebook. Meu amigo por sinal é cristão e disse que Trump é um falso cristão. Ele afirmou que Trump prega uma política contrária ao verdadeiro cristianismo e que está com medo porque grupos supremacistas brancos como a Ku Klux Klan estão se sentindo à vontade para pregar mensagens de ódio.
Vocês querem saber quem é esse homem? Trump é um belo exemplo do que o americano médio considera ser um americano de verdade, o que corresponde à sigla WASP (White, Anglo-Saxan and Protestant), ou seja, só consideram um americano de verdade quem for branco, anglo-saxão e protestante. Trump é um símbolo do americano médio, preconceituoso, que não gosta de negros, latinos, índios nem estrangeiros como os asiáticos e oriundos de países como o Afeganistão. Embora haja muçulmanos nos Estados Unidos, ainda há um forte preconceito contra os seguidores dessa religião, que associam ao terrorismo lá. O americano é, essencialmente, xenofóbico e imperialista. Tomemos cuidado também com esse discurso de combater a cultura woke, sobre a qual preciso pesquisar melhor. Os que dizem combater tal cultura na verdade querem impor o padrão da pessoa branca, cristã, conservadora e heterossexual. Se essa cultura cometeu erros e exageros (e com certeza cometeu), temos que lembrar dos perigos de dar vez a quem faz discursos de ódio misóginos, homofóbicos e supremacistas que defendem a superioridade da raça branca. Quem diz que os que lutam por seus direitos são vitimistas e fazem mimimi é porque na verdade quer ser validado para desrespeitar, discriminar e fazer discursos de ódio. Qual a melhor maneira de tentar desligitimar a luta de grupos como as mulheres, índios, negros e LGBTQIA+? Tentar fazer parecer que nunca houve opressão contra eles e que a luta deles é coisa de vitimista.
Seja Trump quem for, não dá para entender tantos brasileiros felizes com a vitória dele. Ele, assim como tantos lá, não se importa com os brasileiros. Para eles, nós somos gente inferior, pois, na visão deles, como latinos, nós valemos menos do que um cachorro vira-lata. Para Trump e tantos outros, o que vale é “América para os americanos”. Vale lembrar que, por boa parte da sua vida, ele foi um capitalista, um magnata. Pessoas assim se preocupam com os direitos humanos, com o valor de cada pessoa? Não, quem é como Trump só quer saber de dinheiro. Muitas pessoas deveriam assistir a um filme chamado Fareheint 11 de setembro, da época de George W.Bush como presidente dos Estados Unidos. Muitos americanos lá não gostam de ler, não têm conhecimentos gerais, pensam que a capital do Brasil é Buenos Aires e a África é um país. Boa parte deles lá pensa que aqui é Carnaval o ano todo, que brasileiro só vive na praia e jogando futebol. Em suma, em que eles são superiores a nós? Tanta ignorância é prova de que boa parte deles têm uma visão estreita.
Pensemos em tantos produtos culturais que eles nos têm imposto há um bom tempo. Lembram dos faroestes? Os índios eram sempre os vilões. E dos filmes da época da Guerra Fria, sempre demonizando os russos? Que tal falar da maneira preconceituosa como eles retrataram os negros por tanto tempo em filmes, seriados e desenhos animados? Latinos foram retratados por muito tempo como traficantes ou prostitutas em boa parte das produções americanas e, para falar a verdade, boa parte dos americanos lá sempre pensou que as imigrantes latinas não passavam de prostitutas. Sem falar de como eles ficaram impondo seu “American way of life”, fazendo um monte de gente se tornar consumista por ver no padrão de vida americano o modelo ideal. Deveríamos acordar, aprender a nos valorizar e parar de ver os americanos como se fossem superiores a nós, porque não são.