TRAIÇÃO, CIÚMES E COMUNICAÇÃO NO RELACIONAMENTO!
Traição, ciúmes e comunicação são três coisas que estão umbilicalmente ligadas em um relacionamento, como três gêmeos siameses. Isso existe? Ou seriam como cabeça de Cérberos, onde um desencadeia o outro? A falta de comunicação leva ao ciúme, que muitas vezes é não é justificável, mas pode gerar um desgaste no relacionamento. Esse desgaste pode culminar na perda de interesse, na descristalização dos sentimentos e, consequentemente, no enfraquecimento e perda do amor e enamoramento.
Muitos pensam que um relacionamento é apenas uma ligação de amor e sentimentos. Contudo, mais do que isso, ele é um compromisso ético. E você sabe o que é ética? Ética é uma palavra que possui vários significados e que muda conforme a época. Por exemplo, o que Aristóteles chamou de ética em seu livro Ética a Nicômaco — cujo título é uma homenagem ao seu filho — é muito diferente da concepção que temos atualmente.
Naquela época, ética estava vinculada à vida boa, à ideia de uma vida que vale a pena ser vivida, acessível apenas ao filósofo e ao pensador. Como os gregos viviam em uma sociedade aristocrática e de castas, eles concebiam a ideia de adequação à plebe, desde que esta soubesse o seu lugar. Para eles, perfeito era aquilo que se encaixava na ordem (oikos) cósmica, e o sentimento de adequação ao cosmos era chamado de eudaimonia. Para nós, essa palavra seria traduzida como felicidade.
Os gregos enxergavam o universo como uma máquina perfeita. Um exemplo disso é o conceito de um olho que cumpre perfeitamente a sua função de enxergar: ele está em harmonia com o universo, ou seja, em eudaimonia. Para o cidadão comum viver bem, era necessário saber o seu lugar no cosmos. Os fortes tornavam-se guerreiros, os inteligentes, filósofos. Já os que não eram nem uma coisa nem outra, tornavam-se escravos.
Felizmente, os tempos mudaram, e a ética adquiriu uma nova conotação, especialmente a partir de Immanuel Kant. Sua filosofia foi uma tentativa de racionalizar o cristianismo, de dar lógica à fé, e ele foi bem-sucedido. Afinal, todo o nosso sistema jurídico — baseado em punição, recompensa, virtude, e conceitos como o bem e o mal, o livre-arbítrio, a culpa e o arrependimento — ainda carrega valores cristãos.
Kant contribuiu significativamente para o direito, consolidando a ideia de que as ações humanas devem seguir princípios que possam ser universalizados. Nesse contexto, o amor, essencial para o cristianismo, tornou-se também fundamental para a ética moderna. Basicamente, agir eticamente seria emular o comportamento de quem ama.
Assim, um casamento, namoro ou relacionamento não é sustentado apenas pelo amor, mas pela ética. O amor pode desaparecer, mas o relacionamento persiste, porque ele é também uma instituição contratual. Em suma: mesmo sem amar a pessoa, agimos eticamente com ela, simulando o comportamento de quem ama. E quem ama não trai, não provoca ciúmes.
O compromisso ético em um relacionamento baseia-se nisso, e não somente no amor. Mas, é claro, no ideal, amor e ética devem coexistir.
Sobre a comunicação, em meu caso pessoal, sou ciumento. Por isso, sei como é ruim sentir isso. Se a pessoa com quem eu estivesse se relacionando dialogasse comigo de forma aberta, dizendo que meu comportamento em redes sociais não era legal, eu estaria disposto a mudar. Desde que houvesse um compromisso mútuo e uma responsabilidade afetiva, eu concordaria em parar de interagir de determinadas maneiras com pessoas de outro sexo, por exemplo. Esse é o papel do diálogo e da comunicação.
Entretanto, para que isso funcione, o relacionamento precisa ser real, entre duas pessoas que se comunicam de verdade, e não projetado. No meu caso, esperei por uma pessoa durante muito tempo. Não comentava sobre minha página no RL com ninguém na vida real e até a restringi para que existisse exclusivamente para ela. Toda vez que o número de leituras aumentava, eu sabia, assim, que era por causa dela.
Mas, aos poucos, percebi que, enquanto eu fazia isso, ela, apenas uma figura anônima, provavelmente vivia sua vida e se relacionava com outras pessoas reais, enquanto eu vivia uma ideia, uma projeção fantástica da minha imaginação. Isso me levou a pensar mais em mim mesmo, a me expor e interagir com outras pessoas, como a pessoa livre que de fato sou.
Nunca houve disposição para o diálogo da parte dela. Entendo que, se ela nutre de fato sentimentos por mim, pode ser difícil observar certas postagens ou ler determinadas coisas. Eu mesmo não gostaria de ler algo assim de alguém que amo. Admito.
Mas tudo isso aconteceu de forma orgânica e, de certa forma, foi uma reação à falta de comunicação. É assim que relaciono a ausência de diálogo, que alimenta o ciúme e acaba gerando a traição, à falta de um compromisso ético no contexto dos relacionamentos.