O deus dinheiro e o profeta mercado
O mercado está nervoso: a bolsa cai, o dólar dispara, o preço dos alimentos sobe, o pobre fica mais pobre. E o rico fica mais rico. Por qual motivo o mercado anda tão nervoso? Diz o noticiário que é pela incerteza com a aprovação das medidas do “ajuste fiscal” e contenção de despesas, que estão em tramitação no Congresso Nacional – este mais um personagem neste imbróglio.
Enquanto isso, a taxa Selic – definida pelo Banco Central – é uma das maiores do mundo. É a taxa que diz qual o tamanho dos juros que o Governo paga aos credores da dívida pública. Cada elevação da taxa Selic quer dizer muito dinheiro que o Governo paga aos credores, e deixa de investir em saúde, educação, infraestrutura, moradia, programas sociais... Dinheiro que é fruto da arrecadação daqueles que pagam impostos – sobretudo a população mais pobre, que não tem isenção nem esquemas de sonegação.
São muitos personagens, muitas variáveis, várias delas ocultas, nessa complicada equação que é a economia do país. Parece que o mercado é um ser imaterial, mas muito afetado. Fica nervoso até com longínquas expectativas, boatos e infundadas especulações. Atribui-se ao mercado a instabilidade que derruba a bolsa, incha o dólar, faz crescer a inflação e a taxa Selic. E empobrece ainda mais a população pobre. Na verdade, o mercado é a máscara que esconde as corporações e os especuladores que vivem de sangrar a economia. E quem vive das operações do mercado usa artifícios, disfarces e linguagem obscura para manter a maior parte da população na ignorância do que realmente acontece. E numa impotente imobilidade.
E o Congresso Nacional, que na suposta democracia representativa que vivemos deveria estar empenhado em defender os direitos da maioria da população? Não nos enganemos. O Congresso representa quem o elegeu. E fala-se com muita propriedade que atualmente as eleições não são vencidas; são compradas. Por isso o Congresso está tão cheio de representantes do agro, do boi, da bala, da bíblia, das grandes corporações. Além de uma enorme bancada de aluguel. São minoria os legítimos representantes do povo pobre, que é a grande maioria da população.
E os congressistas amiúde agem em proveito próprio. É vergonhoso constatar como o Governo Federal vê-se um refém chantageado a liberar recursos para os congressistas – na forma das famigeradas emendas – para fazer tramitar as regulamentações tributárias e orçamentárias. A composição atual do Congresso Brasileiro é uma boa mostra de como a população é ludibriada pela desinformação, e manipulada para eleger os lobos mais vorazes para cuidar do galinheiro.
Há ainda uma motivação principal a mover mercado, Congresso e Banco Central atuais: o muitas vezes escondido, ou mesmo distorcido, embate entre uma visão de país socialista – onde o Estado age firme em nome da coletividade – e outra neoliberal – onde as corporações e empreendedores têm liberdade de ação para auferir lucros cada vez maiores, às custas do empobrecimento da coletividade. Os fiéis do deus dinheiro unem-se contra as tentativas de regramento de sua inescrupulosa e insaciável ambição.
Enquanto a população aceitar cegamente os engodos da desinformação, continuaremos a mercê do deus dinheiro e seu profeta mercado.