Segundo diferentes dicionários o termo “aprendizagem” diz respeito ao processo de adquirir ou modificar conhecimentos, habilidades, competências, comportamentos ou valores. Pode ser obtida por meio de estudo, experiência, formação, raciocínio e observação.

 

Após algumas décadas de vida, as quais permitiram-me atravessar (ainda que de forma oposta à incólume) diferentes fases existenciais, devo salientar que encontro-me à beira do início daquela (fase) dita por todos como a mais desafiadora, justamente por andar de mãos dadas com a possibilidade de redução das capacidades físicas e psíquicas. Recuso-me a assim pensar. Antes, pretendo ainda continuar mergulhando no mar de possibilidades que o seguir a vida nos tem a oferecer, diuturnamente. Se aprender é capturar novas habilidades, só me resta montar arapucas; se é observar, a tudo quero ouvir, tocar, enxergar... da maneira mais nítida possível. Quanto aos valores, estes já não me assombram mais como antes. Não sou mais prisioneiro de antigas vaidades inúteis. Aspiro a necessidades menores, sem a pretensão de mudar o mundo e as pessoas. Preocupo-me, acima de tudo, em não trazer infortúnio a quem quer que seja, mas comprometo-me também a buscar o que ainda não obtive no tocante à satisfação pessoal e espiritual.

 

Refletindo sobre a conceituação que inaugura este artigo, ou talvez esta crônica, há que se mudar comportamentos a fim de se alcançar conhecimento. Aí talvez resida a maior dificuldade. Pessoas há, em absoluta maioria, totalmente incapazes de alcançar esta premissa no decorrer de toda a vida, o que resulta em estagnação e falta de adaptação às vicissitudes. Talvez sejam estas mesmas pessoas as maiores candidatas ao isolamento, ao conservadorismo fanático e medroso, ao envelhecimento precoce. Devemos sim, aprender com todos os que cruzam nosso caminho, mais jovens, mais velhos, iguais ou diferentes, amigos e inimigos. Se surgiram em nossa estrada, alguma função devem ter.

 

Considero assaz interessante o fato de que somos atraídos por interesses comuns, vindo a participar de agrupamentos heterogêneos na grande maioria dos aspectos, sejam eles financeiros, sociais, políticos, religiosos, etc., mas que permanecem unidos por um fio condutor que sobrepuja qualquer outra incongruência. Esta é a maior riqueza que nos rodeia. Diferentemente da herança genética, impossível de ser mudada ou escolhida, a real possibilidade de aprender e interagir com aqueles que aproximam-se sem roteiro prévio, trazidos pelos ventos das ideias comuns, nos proporciona superpoderes capazes de vencer diferenças e distâncias físicas inimagináveis a um simples toque dos dedos. Sim, somos empoderados pelas novas tecnologias a fazer coisas positivas para nossa existência, fugindo ao lugar, infelizmente comum nos dias atuais, de agir de maneira a produzir prejuízo e dano.

 

Engajar-se em um destes grupos de interesse comum talvez possa vir a ser um caminho menos espinhoso e mais divertido, desde que tal grupo não venha a cultivar preconceito, discriminação e ódio. Há tantos por aí, desde observadores de pássaros a grupos culinários. Meditando aqui, já frequentei diversos: mitologia grega, ficção científica, automóveis, astronomia, aquarismo, caninos, música, língua estrangeira, literatura... Faz-se mister pontuar oportunamente que deles (os grupos) também já emergiram situações de contexto desagradável, obviamente inesperadas, embora eu venha acreditar que façam parte do contínuo de aprendizagem, como já abordado anteriormente neste texto.

 

Termino esta breve explanação deixando registrada minha atual participação no grupo denominado “Caravela Literária”, constituído há mais de um ano e que congrega atualmente 10 (dez) escritores de diferentes regiões, idades, estilos e opiniões, mas que tem no amor pela literatura e no ato de ler e escrever os seus balizadores. 

 

A nossa Caravela navega ora em mares calmos, ora turbulentos, com eventuais concordâncias e discordâncias, votações e raras unanimidades, entradas e saídas de componentes, demonstrando resiliência e disposição de seguir em frente, tendo o respeito mútuo, a cooperação e a cordialidade como suas velas mais infláveis. Pessoalmente, tenho tentado aprender a lidar com colegas escritores de temperanças e prioridades diversas. Já enfrentei percalços ao interagir com colegas deste grupo, errando e sendo corrigido (a cada um deixo a reflexão pertinente), desagradando e sendo útil, concordando e sucumbindo à maioria de ideias divergentes. Sempre, no entanto, com a firme intenção de ser mais um a remar ou contribuir para que as velas viessem a ser içadas a favor dos ventos literários e das boas relações pessoais.

 

O tema “aprendizagem” foi por mim escolhido como uma tentativa de expressar minha satisfação e meu agradecimento à nossa parceria que considero duradoura, e também minhas sinceras desculpas a quem eu possa ter desagradado. Afinal, sou marujo inexperiente em grandes aventuras marítimas...

 

Vida longa à Caravela!