A Verdadeira Consciência é Humana

O Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, sempre me faz refletir sobre a verdadeira eficácia dessa data. Instituído para homenagear Zumbi dos Palmares, líder do Quilombo dos Palmares e símbolo da resistência negra, o feriado visa promover a reflexão sobre a inserção do negro na sociedade brasileira. No entanto, eu me pergunto se um dia específico realmente promove a igualdade ou se acaba reforçando a separação entre as pessoas. Por que não temos um dia da consciência branca, amarela, parda, vermelha ou de qualquer outra cor? Para mim, o ideal seria um Dia da Consciência Humana, pois todos somos iguais, independentemente da cor da pele, etnia ou raça.

As cotas raciais também são um ponto que me incomoda. A ideia de que pessoas negras precisam de cotas para acessar universidades ou empregos parece uma forma de vitimização. É inegável que existem pessoas negras em situações de vulnerabilidade, mas o mesmo ocorre com pessoas de outras cores e raças. A solução para a desigualdade não deveria ser a criação de privilégios baseados na cor da pele, mas sim a promoção de igualdade de oportunidades para todos, independentemente de sua origem. Eu não vim de uma família rica. Sou nordestino, de uma cidade do interior do Maranhão, onde os políticos são corruptos e não ligam para o povo. Aqui, nós não nos vitimizamos. A educação não é das melhores e a saúde é péssima. Não temos oportunidades de emprego, mas persistimos, pois os únicos capazes de mudar nossa própria realidade somos nós. Cresci em uma comunidade onde tínhamos pretos, brancos, pardos, pessoas com ascendência indígena e asiática, e vivíamos com os mesmos problemas. Ninguém tinha vantagem ou usava cotas para entrar em universidades ou disputar empregos, pois estávamos em pé de igualdade. Perante um ao outro, éramos e nos tratávamos igualmente.

Lembro-me de uma entrevista de Morgan Freeman com Mike Wallace no programa "60 Minutes" da CBS News em 2006. Freeman disse: "Eu não quero um Mês da História Negra. A história negra é história americana." Ele acredita que a história dos afro-americanos deve ser integrada à história geral dos Estados Unidos, em vez de ser destacada em um mês específico. Ele defende que a igualdade e o reconhecimento devem ser contínuos e não limitados a um período específico do ano. Isso me faz pensar que a mesma lógica se aplica ao Dia da Consciência Negra no Brasil.

Zumbi dos Palmares é uma figura histórica complexa. Enquanto é celebrado como um herói da resistência negra, sua liderança no Quilombo dos Palmares também é marcada por controvérsias. Zumbi lutou pela liberdade de culto e religião, bem como pelo fim da escravidão colonial no Brasil. No entanto, relatos indicam que ele governava Palmares com severidade e que havia um tipo mais brando de escravidão dentro do quilombo. Isso me faz questionar a idealização de certos heróis e a complexidade da história que muitas vezes é simplificada.

O governo e a sociedade brasileira muitas vezes demonstram cinismo e hipocrisia em relação ao Dia da Consciência Negra. A celebração de uma data específica para a consciência negra pode ser vista como uma forma de apaziguar as demandas por igualdade, sem realmente abordar as causas profundas da desigualdade racial. Os verdadeiros heróis da resistência contra a desigualdade racial no Brasil incluem brancos, indígenas, asiáticos e negros que lutam por serem tratados igualmente, sem benefícios como cotas e datas comemorativas.

A verdadeira igualdade não será alcançada através da criação de dias específicos ou de cotas raciais.

A igualdade deve ser uma prática diária, onde todos são tratados com o mesmo respeito e têm as mesmas oportunidades, independentemente de sua cor de pele, etnia ou raça. A luta pela igualdade é contínua e deve ser integrada em todas as esferas da sociedade. Como Morgan Freeman disse, "A história negra é história americana." Da mesma forma, a história de todos os brasileiros, independentemente de sua cor, é a história do Brasil. Devemos nos unir como seres humanos, reconhecendo nossas diferenças, mas celebrando nossa humanidade comum.