O IMPACTO PSICOLÓGICO DO CONSUMISMO
Vivemos em uma era onde o sentido da vida é consumir. Segundo dados apurados pela ONU (Organização das Nações Unidas), a humanidade produz mais de 2 bilhões de toneladas de lixo por ano, sendo que quase a totalidade desses produtos são descartados em menos de um ano de consumo. A humanidade tem consumido em medidas desenfreadas, causando diversos prejuízos biológicos, ambientais, sociais e psicológicos.
Esse consumismo desenfreado encontra muitas causas, sendo algumas delas a velocidade da informação no mundo globalizado, o avanço tecnológico que nos permite ter produtos melhores em menos tempo em relação a séculos passados e o modelo econômico dominante. Esses fatores agregados permitiram que tivéssemos mais produtos disponíveis e uma variação gritante de um mesmo produto como, por exemplo, um aparelho celular que é possível encontrar diversos modelos com variados softwares.
Se por um lado isso permitiu um avanço social como melhoras na saúde devido aos avanços da medicina moderna, melhorias em transportes, sendo possível cobrir longas distâncias em menos tempo; por outro lado nos deparamos com o desperdício e a falta de lugares adequados para o descarte. Tanto literalmente quanto metaforicamente, esse desperdício pode ser traduzido no comportamento da sociedade atual, onde desperdiçamos tempo e recursos com coisas fúteis, pois todo esse processo de consumo nos tornou pessoas que buscam incansavelmente a próxima novidade, gerando um excesso de estímulos e nos tornando viciados nesses estímulos.
O modelo econômico vigente, o Capitalismo, encontrou nessa busca excessiva por estímulos a sua forma de sobrevivência. As empresas investem em propagandas onde devemos produzir cada vez mais porque cada vez mais iremos consumir. Essa metodologia de incentivo ao consumo fez com que a valorização da aparência se tornasse mais evidente, pois uma coisa bela, mesmo que rasa, é mais atraente para quem vai consumir. Nessa nova sociedade baseada numa correria desenfreada pela próxima novidade, a cultura do Entretenimento ganhou um espaço significativo; ela é responsável por manter as pessoas distraídas de reflexões importantes a respeito do lugar que todo esse consumo irá nos levar.
O sociólogo polonês Zygmunt Bauman (2001) teorizou uma nova forma de ver a modernidade, no qual ele chamou de Modernidade Líquida, onde as pessoas não conseguem manter uma constância em nada do que se propõem a fazer. As relações, assim como os produtos e outras formas de trocas sociais, não são feitas para durar. Essa fluidez prejudica a criação de relacionamentos duradouros e saudáveis. Se por um lado essa fluidez da qual Bauman nos fala permite uma sociedade mais aberta para novos ideais, por outro prejudica na falta de solidez.
O consumismo está enraizado nas entranhas da sociedade, sendo necessária uma reflexão profunda sobre o que queremos para nossa espécie.
Como eu mencionei na primeira frase deste artigo, o sentido da vida se tornou consumir mais e mais. Com isso podemos ver pessoas vazias de propósitos e um aumento significativo de pessoas com depressão e ansiedade generalizada.
Um dos problemas dessa nova sociedade é a falta de habilidade que as pessoas têm em suportar o tédio, elas necessitam de uma aventura diária, não conseguem tirar um momento de introspecção. Na sociedade do consumo, para que tenhamos algum valor perante os outros, precisamos ter posses. Valores como o amor, amizade e cumplicidade têm sido deixados em segundo plano, tudo em nome do consumo. Vivemos em uma competitividade para possuir cada vez mais.
Para que possamos ter uma sociedade mais assertiva, deveríamos primeiro analisar no que estamos errando. Temos coisas boas que a globalização e a tecnologia trouxeram, mas as perguntas que devemos fazer é: será que estamos usando corretamente os recursos que temos em mãos? Ou será que temos desperdiçado ferramentas poderosas que poderiam ser usadas para a transformação social e aumento da qualidade de vida e o bem-estar?
Em segundo, teríamos que pôr em prática medidas para sanar os problemas mais imediatos. Esses problemas poderiam ser reduzidos com atitudes como: valorizar trabalhos artesanais que trazem uma carga emocional maior do que um industrializado; comprar somente aquilo que realmente temos necessidade no momento; tirar um tempo de qualidade para relacionamentos saudáveis e aprender mais sobre quem somos e as carências que estamos tentando preencher na busca desenfreada pelo acúmulo de produtos que provavelmente iremos jogar fora sem nem aproveitar direto.
Talvez quando começarmos a dar sentido nas pequenas coisas como um bom dia sincero, um olhar mais atento a quem necessita, passear num parque em uma tarde de domingo com a família e fortalecer os valores básicos para o bom andamento de uma sociedade, talvez fazendo isso poderemos viver em um mundo sustentável, aliando os recursos tecnológicos com uma boa saúde mental.