O dom divino e a modernidade

No dia 15 de outubro comemora-se no País o Dia do Professor. Deveria ser feriado nacional, com manifestações cívicas e agitação de bandeiras verde-amarelas, a exemplo de outras datas comemorativas como o sete de setembro, dia da Independência, ou o quinze de novembro, dia da Proclamação da República. Só que não. Pelo decreto assinado pelo então presidente João Goulart em 1963, esse dia é considerado feriado escolar e só alcança professores e alunos. Em países pelo mundo afora e mais especificamente no Japão, a carreira docente é excepcionalmente respeitada e admirada, com os profissionais dessa área reverenciados como mestres sábios, sendo alçados a um patamar acima de todas as outras profissões. O reconhecimento se observa na forma do respeito irrestrito e ainda pela remuneração condizente com a relevância da atividade, pois se considera que o educador carrega consigo a nobre missão de preservar e transmitir conhecimento, imprescindível para as futuras gerações.

No Brasil, a situação é completamente diferente. As adversidades enfrentadas pelos profissionais da educação variam de condições de trabalho inadequadas, instalações e equipamentos obsoletos, vencimentos incompatíveis com as atribuições do cargo a inaceitáveis agressões promovidas por pais e alunos contra educadores e funcionários. Essas situações de violência no ambiente escolar são o reflexo da completa carência de valores morais de uma sociedade, corrompida permanentemente por influências ideológicas incompreensivelmente permissivas. Em meio a tantos desafios a serem superados, mandatários e legisladores discutem a proibição ou liberação do uso do aparelho celular em sala de aula, ou debatem acaloradamente em instâncias superiores sobre a manutenção do termo “pai” e “mãe” em documentos pessoais, enquanto os discentes simplesmente desconhecem conteúdos fundamentais do currículo escolar, como operações básicas de matemática ou regras gramaticais da língua portuguesa.

É evidente que a situação atual da educação remonta há décadas de descaso dos governantes. Os resultados do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) dos entes federados revelam distorções e mostra o tamanho da omissão dos mandatários, voltados unicamente a manter a parte vulnerável do eleitorado permanentemente dependente do Estado, uma forma de perpetuar o mando político. No Maranhão, o estado com o menor IDH da nação, um fato ocorrido em uma instituição federal de ensino expõe o desprezo e o descompromisso de servidores públicos com a educação. Em uma lamentável demonstração de escárnio e zombaria, uma cantora, compositora e historiadora transgênero direcionou suas partes íntimas para os participantes de uma palestra, entoando versos pornográficos. Esse tipo de anomalia em ambiente educacional deve ser investigado com a devida austeridade e os responsáveis punidos na forma da lei, principalmente se o evento foi viabilizado com verba pública, oriunda dos pagadores de impostos, mesmo porque a bizarra e inusitada “performance” superou todos os limites do ponderável.

Em outras épocas, o ambiente escolar se equiparava a um segundo lar para crianças e jovens, sempre ávidos por conhecimento e onde se forjava gradativamente o caráter dos futuros profissionais da nação. E essa dedicação era reconhecida com demonstrações frequentes de carinho e respeito aos mestres, de longínquas e ternas lembranças. O dom divino de ensinar, aos poucos será substituído pela tecnologia, com suas inevitáveis consequências. A modernidade chegou. Não da maneira esperada. Infelizmente.