Chuva de tomates
**Chuva de Tomates**
Não sei se isso é algo inédito ou se é apenas a escassez que vivemos nos últimos anos que nos faz celebrar as chuvas de tomates. Quem não sorri ao passar pelos mercados e ver bujões de tomates frescos acenando? Digam-me a verdade: o que há em abundância em nossas casas neste momento?
Incrivelmente, o tomate se tornou manchete nos noticiários, roubando a cena do Censo. Não sei se é o cumprimento daquela profecia de que “vai cair chuva de comida”; só sei que nossas praças e casas foram “invadidas” por tomates que caem de todos os cantos. E, de fato, não estão estragando a chapa da casa de ninguém! Estamos rindo de alegria, até nos esquecendo de outras carências. Se há algo barato e abundante em nossos mercados, com certeza é o tomate.
Alguns, sem saber o que fazer com tantos tomates, estão fazendo arroz doce de tomate; outros estão matabichando chá com tomate no lugar do pão. Eu, que costumam dizer que só um estraga prazeres e atrai energia negativa nos momentos de festejo, e que não ando embandeirando em arcos, ponho-me a refletir: devemos aprender com as chuvas de tomates, que, afinal, é possível produzir mais do que o suficiente e garantir que isso chegue à população, deixando todos rindo à toa.
Que nossa terra é fértil, isso não é novidade. Até no meu quintal, planto minhas hortinhas de vez em quando e já colhi tomates da minha pequena horta. Fico pensando: e se essa chuva não trouxesse apenas tomates? A caixa de tomates custava mais de 30.000 kz e agora está a 1.500 kz. Vou falar baixinho para ninguém escutar: até há por 1.000 kz. Até eu, o mais cético de todos, agora acredito que é possível termos a cesta básica em nossas casas a preços acessíveis dos nossos bolsos rotos. Agora acredito que podemos ter o saco de arroz a 5.000 kz, o litro de óleo a 300 kz, o quilo de açúcar a 250 kz e o feijão a 200 kz... Se na verdade nos esforçamos para tal. Se isso acontecer, quem se lembrará de protestar? Não é verdade que estaremos todos rindo à toa?
O triste nessa festa é ver crianças vendendo os excessos de tomates até altas horas. Abordarei esse assunto em outra ocasião. Por agora, só quero saborear os tomates.
Devemos, no entanto, ter em mente que essa festa de tomates não durará para sempre; as chuvas vêm para acabar com nossa celebração. Qual é o plano para que nossa festa de tomates não se torne em lágrimas de saudade, quando voltarmos a usar um tomate para duas refeições ou quando passarmos a fazer molhos brancos?
Não preciso falar de José, que salvou o Egito com sua estratégia... Vou mencionar uma irmã daqui, cujo nome não anotei, mas vi sua publicação em um grupo de culinária do qual faço parte (aprendo receitas e mato minha fome vendo seus pratos). Ela disse: “Comprei uma caixa de tomates e coloquei na arca. Assim, quando a escassez chegar, já terei minhas reservas para me sustentar até que o tomate comece a dar lengueno .” Palavras de uma mãe (com meus acréscimos), pensando não apenas em si, mas em sua família.
Para concluir, não posso me estender muito para que não me digam: “não fale de política”. Como se dar minha opinião fosse falar de política. Claro que quero saber o que o Estado está fazendo para que nossa festa não acabe e que possamos festejar em um futuro próximo não apenas o tomate.
Deixo meus sinceros votos de que continue chovendo não apenas tomates, mas também arroz, frango, fubá, açúcar, batatas e tudo que possa fazer esse lindo povo sorrir novamente, claro, sem estragar a chapa da casa de ninguém. Fiquem bem. Shaleno kiambote.