O deus dinheiro, o messias Narciso e a escrava Terra
Estaremos já colhendo os sinais de autoextinção da humanidade? Os desastres de Mariana e Brumadinho, a pandemia de Covid-19, o aquecimento global e derretimento das calotas polares, as inundações no RS, a aguda seca e as queimadas atuais, o desregramento e a disseminação da desinformação, os temores com o descontrole e a sublevação da inteligência artificial, as guerras cognitivas e por procuração, o risco crescente de confrontos nucleares, a ascensão de radicalismos, segregacionismos e limpezas étnicas, a chamada teologia da dominação... Estes são só alguns sinais mais recentes da insanidade que nos conduz a uma tragédia final.
Há várias alternativas concretas para o fim da civilização atual: cataclismos climáticos que nos privassem da água, de alimentos e de ar respirável; uma pandemia incontrolável; uma guerra nuclear generalizada; a bestificação das massas manipuladas, encolerizadas e armadas; a destruição por uma inteligência artificial revoltada... Muitas ficções – ou seriam previsões? – têm abordado estes temas. Acrescentam outros, naturais, como o impacto de um meteorito destruidor, terremotos, vulcões e tsunamis avassaladores. O tema do colapso da civilização nunca esteve tão presente nos nossos temores e suas manifestações na literatura, no cinema.
O deus dinheiro tem sido o guia da humanidade há séculos. Inventou-se até a teologia da prosperidade. Ele abençoa o lucro, e condena a solidariedade humana e a natureza. Narciso, no sentido freudiano – tudo que não é imagem especular é condenável e deve ser dominado ou destruído –, é o messias do deus dinheiro. Seus mandamentos ensinam a ganância, a competição, a supremacia, a improbidade, a agressividade, a incúria moral e ambiental, o desperdício. O planeta Terra tornou-se a escrava a ser explorada sem misericórdia, até sua completa ruína.
Para lembrar algumas séries e filmes que tratam das distopias provocadas pela demência humana, podemos citar O dia depois de amanhã, O exterminador do futuro, Matrix, Interestelar... Mas são muitos títulos. Além dos que tratam de fenômenos naturais, como 2012, Não olhe para cima, Impacto profundo, Destruição final – o último refúgio... Também são muitos títulos. Será que tanta criação artística estaria dando vazão a um justificável temor de nossa própria insanidade?
O deus dinheiro e os deslumbrados narcisistas estão exaurindo a capacidade de regeneração da escrava Terra. Agimos como um vírus mortal, que, no afã de disseminação, não consegue parar antes de sacrificar o hospedeiro. Matando-o, acaba por também sacrificar a si mesmo. Será que o tino da espécie humana é igual ao desse incauto vírus, que se autodestrói? Será essa uma providência das leis naturais, para controlar organismos predadores que ameaçam o milagre que é a multiplicidade da vida no planeta Terra?
Se essa lei natural que extermina organismos nocivos realmente funcionar, estamos correndo sério risco. Mas ainda nos resta uma centelha de discernimento. Quem sabe ainda logremos aprender a conviver com os diferentes entre nós, com as outras espécies, e dentro dos limites de recuperação da natureza?
Oxalá aprendamos!