Eu acompanhei um podcast de mais de três horas com a Bruna Surfistinha e, como não quero que esse tempo seja desperdiçado, resolvi escrever um texto a respeito. Nunca assisti ao filme em que ela é interpretada pela Débora Secco, nem à série de TV. Meu único contato com a história dela foi através desse podcast, mas ela disse algumas coisas interessantes que nos permitem tirar lições importantes sobre o comportamento humano.

 

A história dela é similar à de grandes filmes sobre o tema da prostituição, como "A Bela da Tarde", de Buñuel, e a adaptação moderna de François Ozon, "Jovem e Bela". Bruna é o nome de guerra de Raquel Pacheco. Pelo seu tom de pele bronzeado, agregaram ao seu epíteto o sobrenome "Surfistinha". Bruna descobriu que era adotada aos quatro anos de idade. Seus pais adotivos tinham uma boa situação financeira e pagaram um dos melhores colégios, o Colégio Bandeirantes. Ela diz que, inicialmente, era uma boa aluna e só tirava boas notas, mas, mais adiante, se tornou rebelde. Começou a fumar e a beber na adolescência. Frequentava festas matinês e, um dia, chegou em casa com um vergão no pescoço de uma chupada que tomou de um garoto. Seu pai, ao ver aquilo, disse que aquilo era coisa de "puta", como prenunciando a vida que ela teria. Para sustentar seu vício em maconha e bebida alcoólica, ela resolveu roubar dinheiro da carteira dos pais e as joias da mãe. Quando descobriram, isso foi o estopim para o mau relacionamento com seus pais, que começaram a coibir a entrada de Bruna em casa e a tratá-la muito mal. A família dela era muito tradicional e não conversava sobre sexo.

 

Bruna relata que perdeu a virgindade na cama dos pais com seu namorado, que conheceu no bate-papo do UOL. Ela contou o fato para a mãe, que ficou indignada. Aos 17 anos, Bruna pensou até em se suicidar. Ao fumar um cigarro, teve uma visão espiritual que a acalmou e a dissuadiu da ideia, mas resolveu fugir de casa. Foi embora com uma mão na frente e outra atrás, comprou aquele antigo caderno do Amarelinho e viu ofertas de oportunidade para garota de programa. Ela decidiu se candidatar. Inicialmente, foi para um clube no qual teria que conversar com clientes e seduzi-los para fazer programas, mas, como era demasiadamente tímida, não conseguiu prosseguir. Depois, procurou uma casa de massagem, mas, após a massagem, deveria masturbar os clientes e, algumas vezes, fechar com um programa. Ela não se adaptou. Até que se encontrou num clube privê. Inicialmente, morria de medo porque era inexperiente e ainda menor de idade, mas logo viu que tinha aptidão para a profissão mais antiga do mundo e criou a frase para seduzir seus clientes: "Eu faço tudo o que você quiser." Segundo ela, isso lhe rendeu bons clientes. Vivendo no mundo da prostituição, Bruna se tornou cocainômana e, para sustentar seu vício, chegou a trabalhar numa casa que cobrava apenas 20 reais pelo programa. O ponto de virada foi que ela sofreu uma overdose e teve uma visão espiritual enquanto estava inconsciente, prometendo a si mesma que pararia com aquilo. Desde então, segundo ela, está limpa.

 

Na conversa do podcast, Bruna dá relatos valiosos sobre o tipo de pessoa que procura seus serviços. Noventa por cento são homens casados, enfadados com a vida sexual monótona do matrimônio. Bruna diz que o homem separa amor de sexo, o que é difícil para a mulher. Os homens solteiros que a procuravam eram aqueles que achavam mais fácil se relacionar com uma garota de programa do que com uma mulher convencional, porque simplesmente pagam e obtêm o que querem. Homens também são fascinados por quebrar tabus, e a procura por práticas mais incomuns, como o sexo anal, é forte. As garotas de programa se submetiam a todas essas práticas. Longe de mim julgar, mas, para mim, sempre foi difícil aceitar que, de inúmeras opções que uma mulher pudesse escolher, ela recorra justamente a essa.

 

O ponto de virada do sucesso da  Bruna foi quando ela decidiu criar um blog para relatar suas experiências como garota de programa. O blog ganhou repercussão durante o boom da internet em 2004, e ela foi convidada para programas como o "Superpop".

 

Depois, resolveram fazer um filme sobre a vida dela, no qual ela profere a icônica frase: "Hoje, eu não vou dar, mas vou distribuir."

 

Atualmente, ela se aposentou, casou-se e é mãe de gêmeas. Em determinado momento, Bruna se apaixonou por um cliente, o que a fazia se sentir mal em continuar fazendo programas. Afinal, ela chegava a atender clientes na própria casa do casal.

 

O que posso comentar sobre isso é que é preciso gostar muito de uma pessoa para desconsiderar o fato de que ela trabalha como garota de programa.

 

Bruna, no podcast, diz que não tinha autoestima e, olhando para ela, de fato não há nada em sua aparência que justifique tanto sucesso. Mas ela afirma que aprendeu na prostituição o prazer de dar prazer aos outros ou, no caso dela, ser objeto de prazer do outro.

Dave Le Dave II
Enviado por Dave Le Dave II em 20/08/2024
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