Retratos do desapego

O domingo prometia. Tralha de pesca recém-atualizada e revisada, pouco mais de uma hora de viagem pela rodovia e o localizador online indicava com exatidão a estrada vicinal a ser percorrida. Desse ponto em diante, o que se viu foi uma sequência inexplicável do desapego da espécie humana com a preservação do meio ambiente. As cenas lamentáveis do descaso, materializadas no aterro sanitário a céu aberto, mostravam aos visitantes ocasionais que por ali passaram porcalhões desleixados. E por conta da baixa temperatura da água, do vento implacável e outras variáveis, o programa foi literalmente por água abaixo. Assim como incontáveis OFNIs, os objetos flutuantes não identificados que desciam boiando, ao sabor da correnteza. O rio, outrora piscoso e exuberante, hoje agoniza e clama por socorro. Nos barrancos, nas margens, na mata ciliar e proximidades se amontoam garrafas pet, sacolas plásticos, latas de bebida, peças de roupas usadas, pneus, móveis, utensílios de cozinha, resquícios de apetrechos utilizados em pesca predatória, enfim, todo tipo de material não biodegradável criminosamente descartado.

O descaso com o meio ambiente remonta há décadas. Nem mesmo a eventual fiscalização dos órgãos ambientais tem o poder de, pelo menos, inibir a ação danosa dos inconsequentes. A recorrência dessas condutas é vista diariamente em fundos de vale, margem de rodovias pavimentadas e de leito natural, ruas, avenidas, praças e em qualquer lugar onde os sujismundos da vida resolvem deixar suas lembranças indesejadas. Fica evidente que as campanhas oficiais de dissuasão desse tipo de comportamento não obtiveram êxito e isso é plenamente confirmado pela quantidade absurda de lixo por todo lado. Esse comportamento não escolhe etnia, classe social, credo religioso ou qualquer outro parâmetro a ser considerado. O cerne da questão se resume na educação. Na falta dela, aliás. Tem-se a impressão de que as pessoas estão ficando relapsas, descompromissadas e desinteressadas por assuntos que são da maior relevância. Gradativamente são deixadas de lado noções básicas de respeito, responsabilidade, cidadania, bom senso e outros sentimentos análogos. A correria desenfreada da vida moderna estimula a indiferença com temas sensíveis, como a necessária proteção da debilitada biodiversidade.

Nota-se que existe relação direta entre as demonstrações de incivilidade social representada pelo lixo descartado inadequadamente e a resistência sistemática ao engajamento em hábitos positivos, no que diz respeito aos deveres e obrigações, enquanto partícipes da sociedade. Aqueles que emporcalham os logradouros públicos são os mesmos que ignoram as regras básicas de separação e destinação dos resíduos domésticos; ou que insistem em manter o mau costume de esbanjar água potável, energia elétrica, alimentos e tudo o que se encontra disponível, com comportamentos displicentes. São personalidades arraigadas que elegem o desprezo e o descompromisso como estilo de vida, importunando continuamente a comunidade com suas condutas relapsas. Para esses, só resta a aplicação compulsória dos rigores da lei. Quando e se isso realmente vier a ocorrer.