Os jovens de hoje em dia
Os jovens, hoje em dia, diz a lenda, são descompromissados, incultos, mal lêem, se lêem, em um ano, um livro, vestem-se mal, ouvem músicas desarmoniosas, não raro obscenas, de constranger Calígula, Aretino e Marquês de Sade, falam mal, têm vocabulário pobre, miseravelmente pobre. E descarrega-se cacetadas no lombo dos jovens!
Ouvem os jovens músicas obscenas cantadas - se se pode dizer que se canta tais músicas, e se se pode dizer que são músicas as ditas músicas - por pessoas desprovidas de talento musical? Estou sendo exageradamente educado, o que é hábito meu - e ainda não me decidi se é tal hábito bom ou mal -, ao escrever tais palavras. De fato, ouvem os jovens péssimas músicas. E os jovens não lêem bons livros, é verdade. E não apreciam as boas pinturas, as esculturas dos grandes escultores. Enfim, os jovens têm sofríveis formação intelectual, e literária, e musical, e por aí vai. É fato. É uma constatação. Toda e qualquer pessoa que tenha em seu ser o deneá humano pode ver por si só a má formação moral e intelectual e artística, e por que não dizer deformação, dos jovens. É fato, ninguém há de me contestar. Mas há algo que não se diz, e que tem de ser dito: os jovens não criaram o mundo em que vivem, a sociedade na qual os jogaram de cabeça; eles, os jovens, bebem das fontes que lhes oferecem os adultos, as pessoas das duas, três gerações anteriores; são os jovens herdeiros de uma cultura que seus pais, avós e bisavós lhes legaram; são os jovens, em outras palavras, e dizendo o mesmo, herdeiros de uma cultura criada pelos seus ascendentes mais próximos. E aqui cabe a pergunta: O que as pessoas das três gerações anteriores criaram e entregaram para os jovens? Quais músicas os pais, os avós e os bisavós dos jovens que hoje andam pelas cidades criaram? Quais livros escreveram? Quais pinturas pintaram? Quais esculturas esculpiram? Os pais, os avós e os bisavós dos jovens que erram por aí, e por aqui também, lhes oferecem boas músicas, bons livros, boas pinturas?! Ninguém há de negar que se deu uma corrosão de valores nas mais recentes décadas, ninguém. Mas as gerações que antecedem a atual, que, dizem, está perdida, ofereceram alguma resistência à ação degradante de políticas cujos resultados corrosivos hoje estão a destruir a sociedade, a ceifar vidas? Se estão, hoje, os jovens mais perdidos do que um náufrago recém-caído numa ilha desconhecida, tal se deve à debilidade moral e cultural de seus ascendentes mais imediatos.
Mas nem tudo está perdido. Percebe-se uma alteração na conduta dos jovens, muitos deles a buscarem por si mesmos outros caminhos para trilhar, e caminhos que os conduzirão a um lugar melhor do que aquele que a sociedade hoje lhes oferece. Oxalá os encontrem