Sobre um paradoxo entre adaptação e racionalidade
Uma alta capacidade racional, em teoria, maximiza significativamente o potencial adaptativo. Mas, na prática, esbarra em fatores que não estão sob pleno controle de um indivíduo e que fazem toda diferença quanto ao seu potencial de adaptação ou ajuste social: personalidade, inteligência, aparência física, classe social e a própria sociedade em que vive. Ah, também a própria racionalidade, que não é uma capacidade igualmente distribuída em expressão e potencial de desenvolvimento. Como resultado paradoxal, aquele que se torna o mais realista e, portanto, com maior potencial teórico de adaptação, tende a se ajustar menos às sociedades humanas, justamente por estarem construídas para tipos medianos em níveis de racionalidade, e ainda mais paradoxalmente porque, logicamente falando, o mais racional também é o mais intolerante à irracionalidade, predominante em ambientes humanos e que tende a se expressar pela adoção de ideias, pensamentos ou crenças que não se baseiam em evidências e/ou ponderação analítica. Esse descompasso entre racionalidade e adaptação explica, em partes, a correlação fraca que também parece existir entre racionalidade e inteligência, em termos de QI, se aqueles "de QI alto" tendem a ser mais propensos à conformidade social, justamente pelas vantagens associadas à mesma ou às desvantagens adaptativas associadas à inconformidade, isto é, por ser mais adaptativamente eficiente ou primariamente inteligente se conformar às regras ou leis do ambiente em que se vive. Ainda que outros fatores, também subjacentes, costumam ser até mais influentes (que não estão sob pleno controle), tal como a presença de traços de personalidade que predispõem um indivíduo a ser mais conformista, como a agradabilidade, e as próprias estruturas sociais da sociedade "moderna" que tendem a facilitar a adaptação dos que estão acima da média em capacidades cognitivas quantitativas, superficialmente estimadas por testes de QI, reforçando a pressão para a conformidade. Também é interessante perceber que, enquanto é mais inteligente se conformar a um meio social do que lutar contra ele, pode não ser a longo prazo (mas mesmo a curto prazo), porque também depende da qualidade do ambiente, primariamente no sentido geral de estabilidade, e secundariamente no sentido mais humano e ideal de progresso ou harmonia. Pois se adaptar integralmente a um meio disfuncional pode não ser vantajoso, especialmente a longo prazo. Tal como nos ambientes sociais "modernos", em que vivemos, que refletem um processo progressivo de declínio ou entropia civilizacional. Então, em termos racionais, em ambientes sub-otimizados, a resposta mais adequada é a de evitar uma adaptação plena ou mesmo de preferir por um isolamento mais consistente, se o mais provável é que acabe replicando padrões de disfuncionalidade dos mesmos, se tornando mais uma presa de tendências regressivas, em termos evolutivos. É até possível concluir que a alta capacidade racional pode fazer o indivíduo que a possui perceber e se firmar por uma perspectiva mais evolutiva, de pensamento mais holístico, impessoal e de longo prazo, do que apenas adaptativa, pragmática, pessoal e de curto prazo...