O espelho da ignorância humana
Vi esta expressão num disseminado vídeo desse veneno remédio que são as mídias sociais. O “espelho da ignorância humana” referia-se à boçalidade, ao ultradireitismo e neonazismo, que parecem estar tomando conta do planeta. Marcas desse desvario da humanidade são muitas: as ondas de refugiados pelo mundo; as hipocrisias que cercam a guerra na Ucrânia e o genocídio na Palestina; os desastres que não são naturais, como o do Rio Grande do Sul, pois resultam da insanidade do aquecimento global provocado pelo homem; o empenho bélico de dominação hegemônica do planeta...
A mais tradicional revista alemã, o Der Spiegel, em edição de maio passado, estampa na capa a bandeira do país europeu marcada pela suástica nazista, e faz a inevitável pergunta: “Não aprendeu nada?”. Toda a Europa está de novo sofrendo um surto de barbárie e totalitarismo, que a assolou na primeira metade do Século XX. Não aprendemos nada? E não é só a Europa.
Outro dia, enquanto fazia uma compra numa modesta loja da cidade de Ponta Grossa, três homens, um deles sócio proprietário, o outro um freguês idoso, abonado, raivoso e desocupado, o terceiro um peão muito humilde, conversavam quase aos berros, desqualificando e crucificando o governo atual e seus representantes. Seus supostos argumentos vinham dos intestinos das desinformações que infectam as mídias sociais. Compartilhavam e reforçavam ignorância.
Decerto o governo atual e seus membros têm coisas criticáveis, tal como qualquer ser humano e qualquer governo as tem. Mas o que traduziam as bravatas daqueles homens ruidosos? Veio-me a expressão: “O espelho da ignorância humana”. Só consegui dizer a eles que eu acredito e dou apoio a esse governo que eles criticavam. Porque é um governo que representa a solidariedade, o esforço de ser mais justo com a distribuição das riquezas e com as oportunidades oferecidas. Prioridades deste mundo atual, com oito bilhões de almas doutrinadas dia e noite para o consumismo, a ignorância, a supremacia, a intolerância.
Escutei então que “eles” estavam querendo nivelar por baixo, a pobreza compartilhada. Mas mudaram um pouco o tom das críticas, que passaram a ser mais genéricas, impessoais, não nominais. Pareciam reconhecer, no íntimo, que seus argumentos e acusações eram caluniosos e vergonhosos. Senti que esperavam que eu me retirasse para incluir-me em suas críticas viscerais, e não mentais.
A ignorância está sendo prosperamente cultivada entre nós. É preciso acordar dessa hipnose coletiva, desse pesadelo que acomete a humanidade. É preciso recuperar o que existe de humano em nós.
Discernimento e solidariedade são qualidades que distinguiram o Homo sapiens das demais espécies. Parece que estamos perdendo essas qualidades para a desinformação e a doutrinação.
Será que, ao contrário de evoluirmos, voltaremos a nos equiparar aos nossos ancestrais selvagens?