Sobre QI, inteligência, Doug e Skeeter
Revisitando um velho texto e reafirmando o que defendi nele
Uns 8 anos atrás, quando só tinha um blog obscuro no qual escrevia os meus textos, na base da intuição, autoconfiança exagerada e equívocos estilísticos, escrevi um texto a partir de um episódio de um dos meus desenhos favoritos de infância, Doug Funny, que vi naquela época, acho que pela TV Cultura e que, se já tinha visto antes, não restava sequer um rastro de lembrança ou parecendo ser inédito pra mim. Nesse episódio, os estudantes da sala de aula do Doug, incluindo ele mesmo, é claro, fazem um teste de QI e quando os resultados do exame são liberados, o protagonista do desenho se decepciona com a sua pontuação, por ter tirado na média, e se impressiona com a pontuação do seu melhor amigo, Skeeter, por ele ter tirado no nível de superdotação. Se impressiona, mas mais no sentido de espanto, porque jamais imaginava que o seu amigo simpático, porém, abobado, pudesse ser tão mais inteligente que ele, um escritor precoce. Pois no texto "antigo", eu critiquei o exemplo exagerado de "lição de moral" que foi usado no episódio que buscou ensinar que as aparências podem enganar. Critiquei a ênfase unilateral em pontuações de testes de QI para reconhecer e determinar a inteligência humana, inclusive a genialidade, adotada no episódio e enfatizada em um momento de imaginação do Doug sobre o seu amigo, se comportando como um "cientista maluco". E concluí que, o mais importante não é o que testes de inteligência dizem, mas como que ela se expressa no mundo real. Então, por esse critério, a maturidade e o talento literário de Doug são mais impressionantes que a pontuação no "nível de gênio" do seu amigo. No entanto, por ser um desenho primariamente para crianças e pré adolescentes, não houve a necessidade de desenvolver os temas abordados no episódio. Por exemplo, não foi discutido ou mostrado se Doug pontuou na média de todos os testes, mas alto em sub testes relevantes ao seu talento para a escrita, como os de vocabulário e associação de palavras (o mais lógico), e que, mesmo usando apenas testes de QI como parâmetro de inteligência já tornaria a lição de moral proposta menos simplista e determinista. Mas mesmo se fossem exemplos verídicos e, na verdade, eu acredito totalmente que existam tais casos, apenas mostram, já por uma obra de ficção, que os testes de QI não são perfeitos na estimativa das capacidades humanas, se existem muitos falsos positivos, de Skeeters, bons para tirar notas altas em provas da escola, no vestibular ou concurso público, mas em termos mais puramente intelectuais, são tão comuns ou pouco impressionantes como a maioria das pessoas, e de outros casos de perfil oposto, de Dougs, que mostram excelência de desempenho em seus interesses de fixação sem terem necessariamente respaldos de testes de inteligência, de testes, se já estão demonstrando suas capacidades em práticas mais objetivas e literais do que sugestivas.