NOSSA TRUCULÊNCIA
NOSSA TRUCULÊNCIA
Um assunto tão discorrido não pode ser pormenorizado apenas no plano teórico. Mas, também prático, para que não seja tratado de maneira superficial. Ela é uma e muitos, porque se fragmenta em níveis e ocasiões – violência, esse é o seu denominador, denominador comum que se encontra em qualquer parte do mundo, a qualquer hora. Por ela somos vitimados e “vitimadores”. “Vítima é alguém cujas fraquezas podemos explorar”.
Basicamente, há três tipos de violência: estrutural, física e simbólica. Cada qual necessita de um acompanhamento para que seja sanado.
Violência estrutural ocorre quando o sistema nega a alguns indivíduos, grupos, a realização de suas potencialidades humanas, sobretudo na área da educação, do trabalho e da saúde. O desrespeito à dignidade de um trabalhador, quando alguém o força a ser mero mecanismo de produção, desconsiderando que ele merece ser dignamente remunerado e ter adequado descanso. Quando no processo educacional, estudantes são subordinados a um ensino que se tornou um fardo, quando era para, não necessariamente um prazer, mas fazer-lhe ter algum sentido ou proveito.
Agressões físicas são as mais evidenciadas pela mídia, pois são facilmente percebidas. São violências declaradas, explícitas e, por se tratar de algo frequente, muitas pessoas já se conformaram e a veem como algo banal, agindo, portanto, com indiferença. A terceira modalidade de violação ao próximo é a simbólica, que é a menos perceptível no meio social, mas nem por isso a menos nociva. São exemplos os constrangimentos, ameaças, negação de informações. É proclamada pela cultura da humilhação. Como o “bullying”, no qual geralmente o agressor impõe um símbolo na pessoa agredida, tachando-a de alguma personagem.
Ainda podemos adicionar o “sequestro da subjetividade” como outro tipo de agressão que se manifesta na sociedade. Nessa, o invasor entra na vida da pessoa para ditar regras de como ela deve viver; ele nos priva de sermos nós mesmos, impede o ser humano de conhecer-se. Quando alguém nos idealiza e nos projeta, fazendo-nos a caricatura de suas vontades. O sequestrado deixa de viver os dois pilares acerca do processo de sair do estado de indivíduo para a condição de pessoa que é: “dispor de si” e “dispor-se aos outros”. Esse sequestro atenta diretamente sobre o primeiro fator: a disposição de si. Subjetivo é tudo aquilo que está relacionado ao sujeito, sua história pessoal, valores.
Uma coisa é certa: o ser humano que não for afeito à reflexão será sempre passivo ao ser violentado e facilmente um agressor, porque no viver sem refletir prevalece a ordem de machucar e ser machucado.
Leo Barbosa é professor, escritor, poeta e revisor de textos.