Páscoa, luta pelo poder e luta de classe
A luta pelo poder é uma reminiscência dos instintos básicos de sobrevivência e dominação, que regem todas as espécies vivas. Os instintos básicos do Homo sapiens não são diferentes dos répteis ancestrais. Mas os seres humanos já são mais que répteis. Evoluímos deles, desenvolvemos o cérebro límbico emocional, o neocórtex racional e, dizem, um incipiente cérebro (hipofisário?) amoroso e solidário. Mas ainda não evoluímos o suficiente para que a resposta comportamental e social do cérebro reptiliano torne-se subordinada aos cérebros que nos distinguem como humanos. Ainda somos muito os répteis!
A onipresente luta pelo poder que se observa entre os seres humanos é manifestação dos instintos básicos do cérebro reptiliano. O empenho em dominar não é nenhuma novidade, sempre existiu, desde a pré-história. A novidade são atributos dados pelo cérebro límbico e o neocórtex. Hoje nos associamos em etnias, bandos, nacionalidades, crenças, convicções... que rivalizam ferozmente entre si. E criamos armas poderosíssimas para os confrontos reptilianos que promovemos.
A luta pelo poder confunde-se com a luta pela posse. A engenhosidade humana não propiciou só as armas de destruição em massa. Propiciou também formas de exploração dos recursos do planeta e do trabalho, de maneira que produzimos muita riqueza. Em consequência do instinto de dominação, o preço das riquezas produzidas é calamitoso: para o planeta depredado, para as massas de trabalhadores, exploradas e excluídas.
A consciência, a revolta e um crescente senso de solidariedade vêm alimentando sinceras revoluções: em Paris, na Rússia, na Nicarágua, na Venezuela... Todas elas bastante frustradas nos seus anseios originais. Parece o vulcão que esporadicamente explode e então se acalma, para em seguida continuar a acumular a pressão até a próxima explosão. O instinto de dominação é inexorável; ou logra as massas revoltosas em renovados arranjos exploradores, ou desperta a ira de tiranos alhures, que logo intervêm para debelar ameaças de igualdade.
As revoluções sinceras, movidas pela consciência de que existem os exploradores e os explorados, pela identidade com os explorados e pela solidariedade e busca por uma sociedade mais justa, é a luta de classe. Sua inspiração maior é a constatação das injustiças, e de que a Mãe Terra provê riquezas que, se compartilhadas, significariam o bem viver para toda a humanidade. A verdadeira luta de classe promove a inclusão dos excluídos. Uma tarefa desafiadora: a classe dominante dispõe de todos os recursos para defender seu domínio. Inclusive os meios de comunicação, que aperfeiçoam incansavelmente métodos de alienação, manipulação e doutrinação.
A Páscoa tem algo a ver com a luta de classe? Ora, a Páscoa não celebra a ressurreição daquele que foi crucificado por representar a luta contra os opressores e a favor da solidariedade entre os oprimidos? E Cristo personificou um desafio ainda maior: a revolta dos dominados através do amor, com paz.
Dois mil anos depois, acho que se hoje Cristo estivesse de novo entre nós, seria de novo sacrificado. E antes, torturado na prisão de Guantánamo, como terrorista, ameaça ao sistema.