QUANDO A BEIRA NUNCA LARGA DO BURACO
Quando começo um texto com o “sou de uma geração”, quem lê, muitas vezes já lasca o veredicto “la vem saudosismo”, mas, é impossível querer falar de algumas situações, se não tivermos alguns parâmetros. Não se trata de saudosismo, e sim um comparativo entre algo de bom que tínhamos, e alguns procedimentos da atualidade, estou me referindo a educação básica escolar, acadêmica. A grade curricular, em nosso país, sempre esteve ao sabor de quem mandava, mas, tínhamos aulas de civismo, religião, o comportamento do aluno em sala de aula, e as aulas de português, matemática, geografia, história, inglês, latim, francês, ciências, trabalhos manuais, educação física, O Professor (a) era respeitado(a) . O tempo foi passando, as matérias foram sofrendo atualizações (?), cortes, outras inseridas. Entretanto, o aluno nunca foi tratado como deveria ser, nunca enxergaram naqueles meninos e meninas o futuro vereador, prefeito, deputado, senador, governador, presidente do país, nem futuros capitães de indústria, técnicos, engenheiros, médicos, advogados, etc., não obstante o denodo dos professores, verdadeiros sacerdotes. O investimento cultural não tinha esse viés, eles (alunos) estavam lá pra aprender ler, escrever, e diminuir o número de analfabetos do país.
Dependendo de quem dava as cartas, não era interessante que o brasileiro descobrisse que pensar era bom, barato, e o melhor, ninguém poderia tirar seu pensamento, suas conclusões.
A música de Zé Ramalho “Admirável gado novo” retrata muito bem esse confinamento intelectual, confira:
Vocês que fazem parte dessa massa
Que passa nos projetos do futuro
É duro tanto ter que caminhar
E dar muito mais do que receber
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E ter que demonstrar sua coragem
À margem do que possa parecer
E ver que toda essa engrenagem
Já sente a ferrugem lhe comer
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Um povo que cresce com a visão cultural curta, vai até a página 2, daí pra frente os “iluminados” ditam as regras da sociedade. E uma das regras que estamos carentes, porque extirparam dos bancos escolares, é a civilidade, o patriotismo, o respeito à sua terra natal, o respeito à sua bandeira, que ao tremular imponente ao sopro do vento, parece querer dizer “Aqui é meu chão, aqui é o lar dos meus filhos”.
Somos um país com características democráticas, apesar do engessamento que vem sofrendo,
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E ver que toda essa engrenagem
Já sente a ferrugem lhe comer
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Na América do Norte, Europa, Ásia (Japão), entre outros, são países de primeiro mundo porque têm um povo culto (academicamente falando), só para ilustrar, vi um vídeo cujo narrador era Nelson de Freitas um ator, contando que, na Finlândia, se não estiver equivocado, no metrô existe uma catraca, que é de passagem livre, ou seja sem pagar, mas ninguém passava por ela, perguntou, então, o porquê ninguém passava ali, o funcionário estranhou a pergunta, mas respondeu, informando que aquela catraca era para alguém que estivesse sem dinheiro naquele momento, poderia ter perdido a carteira, ou esquecido em casa. Não satisfeito, perguntou por que alguém mesmo tendo dinheiro, não passava naquela catraca, poderia economizar. O funcionário olhou, deus nos ombros, e disse “por que alguém faria isso?” Perceberam a diferença de cultura? Aqui se tivesse uma catraca assim, onde o povo passaria?
Existe a lei de Murphy, que diz “qualquer coisa que possa ocorrer mal, ocorrerá mal, no pior momento possível" ou “se houver duas ou mais maneiras de fazer algo e uma delas pode resultar em uma catástrofe, alguém se decidirá por esta. Mas, o brasileiro criou a Lei do Gerson, a lei de se levar vantagem em tudo.
Recentemente vi outro vídeo, confesso que senti vergonha do contexto, aconteceu nos Estados Unidos da América, uma mulher, que provavelmente mora naquele país, filha de um grande compositor brasileiro, já falecido, estava se apresentando como cantora num teatro, confesso que nem da existência dela eu sabia, penso que o nome do pai abriram as portas pra ela, o fato é que estava naquele palco. Não é tão jovem assim, beira a casa dos sessenta anos, esta energúmena, perdoe-me chama-la assim, recebeu de um fã um mastro com a bandeira do Brasil, durante sua apresentação no Guild Theatre, na cidade de Menlo Park, na California, ela jogou no chão e sambou em cima da bandeira. Essa senhora, já que se importa tanto com a política brasileira deveria estar aqui lutando pelos seus ideais, que acho, sinceramente, não tem nenhum.
Existe uma lei federal contra atos desse tipo, em ofensa aos símbolos da pátria, ela poderá ser processada, se condenada pagará uma multa, já que, infelizmente, não está previsto prisão.
Esta mulher não sabe que políticos, e regimes políticos passam, a Pátria não, os teus símbolos permanecem.
Participo há muito tempo de Escola de Samba, e o símbolo maior de uma agremiação, aquele que todos componentes, diretoria, simpatizantes, têm absoluto respeito, é o seu Pavilhão, é a sua Bandeira, e inclusive existe todo um ritual para reverenciá-lo, é “impensável” alguém pisotear num pavilhão de uma Escola de Samba. Se alguém fizer isso, temo pela sua saúde.
Para finalizar, o gesto dessa mulher, demonstra bem a falta de civilidade, patriotismo, e a nulidade sobre conhecimentos políticos. Nego-me a declinar o nome dela, mas ela bem que poderia ir rachar umas lenhas, e parar de querer ganhar manchetes com essas idiotices, que até mesmo outros países condenaram o ato.
Por isso que a beira nunca larga do buraco.
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O Autor Andrade Jorge é Acadêmico da Academia Saltense de Letras, e Academia Nacional de Letras do Portal do Poeta Brasileiro
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05/08/2022
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N.A. Este texto foi escrito há 2 anos, mas ainda está atual