RESPEITO
RESPEITO
Respeito. Essa palavra que muitos desejam, mas poucos a praticam. Esse vocábulo utilizado até por um banco. E precisamos mesmo, de todos os lados. Não como uma mera admiração, que é efêmera, frágil. Tem que ser sólido. E, antes que digam hoje há muito mimimi, é preciso compreender que as pessoas estão é cansadas. Fazer-se gente, de fato, é exaustivo, por quererem nos moldar como um pé 45 em uma fôrma 34 e vice-versa. E nós nos esforçamos, nos calamos quando pisam em nossos calos, até que a represa arrebenta e parece que todo o grito abafado dispara de uma vez.
Ser cordial é ser de coração, então sentir de tudo. As palavras pesam mesmo a quem é cordial. Diferente de ser um “cordato”, aquele que está sempre de acordo, um polido, indivíduo apenas sujeito a etiquetas. Porém, etiqueta maior deve ser o respeito. Mas, enfim, do que estamos falando? De ser intolerante com a intolerância, de aprendermos a conviver com as diferenças – esse lugar-comum que ainda não é comum. De acolher as identidades, ainda que com elas não concordemos.
O que tenho visto é um espírito tribal, um guerrear entre nós. Esquecem que temos mais semelhanças do que julgamos ter. Mas não respeitam religião, sexualidade, sexo, trabalho, renda, cor, altura, peso, cabelo... A lista é imensa... Os preconceitos arraigados que disseminam ódio, tornando-se uma discriminação sem tamanho, gerando um tsunami de sofrimentos psíquicos.
Respeito é gentileza. E é treinável. Como disse o ensaísta francês Joseph Joubert: “A gentileza é a essência do ser humano. Quem não é suficientemente gentil não é suficientemente humano”. Qual foi a última vez que você fez o exercício de respeitar, mesmo discordando? Não pense que estou defendendo que devemos aceitar tudo e atropelar princípios. Mas um princípio não precisa ser uma ideia encasquetada, imutável e nunca relativizada. Tem gente que é capaz de matar e morrer por uma ideia. E isso não me soa agradável...
E tem gente especialista em se desprezar, porque aceita o pouco. Vê migalhas que miseravelmente lhe dão como um banquete, mesmo tendo condições para mais e merecendo e necessitando. Desrespeita-se quando finge que não vê aquele risinho de canto de boca, o olhar de nojo, a fala irônica, as piadinhas constantes e os joguinhos com duplo sentido. O quotidiano sistematicamente oprimindo o outro para diminuí-lo, fazendo crescer o ego do agressor, que se sente superior, mas é alguém mal resolvido, infeliz.
É sempre bom lembrar que a piada só deve ter graça quando ambas as partes estão rindo. E recordar que a repetição de um erro é uma violência. Falhamos quando autorizamos o desrespeito, quando silenciamos todas as vezes em que a vontade é gritar e ao vociferarmos na hora em que deveríamos conversar. Devo confessar que me tira do sério quando sou desrespeitado. É algo que não admito, porque faço constantemente o exercício de respeitar o outro, atendendo ao que lhe é relevante. Nem sempre consigo, mas não cessemos de tentar.
Quem sabe assim nos aproximaremos da pessoa que gostaríamos ser e deixaremos o outro ser gente, com todos os seus feitos e defeitos, entre o quebrar a cara e reconstruí-la. Acho tudo lícito, contanto que não cause sua autodestruição e dano alheio.
Leo Barbosa é professor, poeta, escritor e revisor de textos.
(Texto publicado no jornal A União em 26/01/2024)