SAL NA MOLEIRA
Quando entrei no Grupo Escolar, a Professora, Dona Dona, Dona, eu sei lá, bem, a Dona Professora estava me esperando.
Já fiquei nervoso.
_ Joãozim, vamos para minha sala, disse-me.
A segui. Entrei na sala, fiquei de pé, tendo como fronteira, entre mim e ela, uma mesa com cadernos, livros e os instrumentos de tortura: palmatória, pote de vidro entupido de grãos de milho e um chapéu cônico, com o dizer: BURRO.
De pé, esperei a inquisição...
Ela pareceu-me estar com a língua banhada de açúcar. A sua voz me soou adocicada:
_ Meu bebê, conte-me o que aconteceu no verão passado...
Eu, boquiaberto, olhos arregalados, olhos no olhos, respondi:
_ Euuuuuu?????
_ Sim, seu safadinho, você, sim.
Na verdade, confesso. Eu sabia o que tinha ocorrido no verão passado.
Dizem os doutos do Direito, que uma confissão bem arrumadinha, diminui a pena.
Foi o que eu fiz. Disse que tinha sido bocão, tinha sido infantil - dizendo o óbvio -, eu era de menor mesmo...
Daí, ela começou a praticar a miserável Dança dos Olhos: eu-ferramentas de tortura-ferramentas de tortura-eu.
Fixando o olhar em mim, despejou uma Oratória que, até hoje, ainda me lembro.
_ Você, ainda é uma criança infantil. Tome tino. Vá para a sala de aula, seu safadinho, disse, finalizando a inquisição.