Cena do filme "Barry Lindon".
A síndrome do malandro
A figura do malandro (geralmente é associada mais a homens que a mulheres) é muito conhecida no Brasil e inclusive o personagem Zé Carioca, aliás criado por Walt Disney baseado numa pessoa real, é um típico malandro. A maior parte de suas histórias em quadrinhos é obra de artistas brasileiros e, a certa altura, surgiu uma associação de credores do papagaio - que por sinal, que eu saiba, nunca conseguiu um centavo.
Podemos notar um certo padrão na malandragem, a saber:
1) O malandro não gosta de trabalhar, mas gosta de viver bem. Vive de expediente, como se costumava dizer, ou seja: de bicos, de aventuras.
2) Se por acaso (geralmente fazendo algum concurso público) arranja emprego de carteira assinada, pode crer que fará tudo para trabalhar o menos possível: enrola e espertamente faz o possível para que o serviço recaia sobre os colegas.
3) Gosta de viver à custa dos outros, geralmente pessoas da família: pai, mãe, irmãos e mesmo esposas.
4) Suas atividades com frequência caem no campo das ilegalidades. Não espere muita ética da parte dessas pessoas.
5) Por fim, se as coisas começam a dar errado ele culpa os outros, as instituições e os governos. Ele próprio nunca tem culpa de nada.
Assistiram aquele grande filme de Stanley Kubrick, "Barry Lindon"? O personagem -titulo é um típico vigarista britânico que dá o golpe do baú. Mas, como explica o narrador, Barry Lindon sabia ganhar dinheiro (com falcatruas, é claro) mas não sabia conservar. E de tantas maneiras aprontou que acaba bem castigado no fim
Edgar Wallace.
Há muitos anos atrás li numa revista policial (que antigamente essas revistas existiram e eram vendidas nas bancas) um notável conto de Edgar Wallace, autor norte-americano, intitulado "O escudeiro do Rei". Falava de um rei destronado que morava creio que na Grã-Bretanha, com a filha e com um fiel escudeiro que o acompanhou no exílio.
Aí o vigarista da história o engana com algum golpe financeiro.
Segundo Wallace, existe um tipo de pessoa em todos os países, provavelmente em todas as épocas, mas talvez mais comum nas terras anglo-saxonicas: o sujeito que prospera na adversidade.
Apesar do tempo decorrido lembro que Edgar Wallace se expressou mais ou menos assim: esse tipo de indivíduo hoje nos pede dinheiro. Amanhã viramos esquinas e atravessamos a rua para não ter que falar com ele. E depois de amanhã ele nos atropela e mata dirigindo um carro último tipo.
Bem, o vigarista do conto quase deixou o rei na miséria. Mas a princesa chamou à parte o escudeiro e lhe deu uma missão radical: matar o vigarista antes que ele deixasse a cidade e recuperar o documento assinado. E ele recebeu a ordem e a cumpriu.
O espertalhão planejava bem os seus golpes. E embora planejasse bem, não contou com esse detalhe: a lealdade de um escudeiro real!