SETOR PÚBLICO E AS RELAÇÕES HUMANAS
Escrito por:
Wilian de Moura – Graduado em Gestão de Recursos Humanos, Pós graduado em Ciências Policiais, Segurança em Ordem Pública; Pós graduado em Gestão de Segurança Pública e Policiamento. Formado em Gestão e Comando de Guardas Municipais pelo CESDH.
As relações humanas no ambiente de trabalho tornam-se algo inevitável, pois desde o primeiro momento em que alguém está inserido em um meio social, ele já está interagindo. A habilidade de interação e a capacidade de adaptação ao meio são características importantes para alguém que queira trabalhar em equipe. Pois podem existir muitas divergências de pensamentos, ideias e até mesmo certo ambiente de competitividade. Isto é muito comum, na iniciativa privada, quando um grupo quer se destacar mais do que outro, para mostrar seus talentos. É saudável até o momento em que a competitividade não prejudique pessoas, mas buscam desenvolvimentos em prol do resultado comum, que são os interesses da empresa. Neste contexto, ganha a empresa e ganha o colaborador, que pode ser mais valorizado e melhor remunerado.
Mas o que tem a ver este assunto com a segurança pública ou com o serviço público? Afinal, trabalhar no setor público é completamente diferente do setor privado. Porque um trabalha pra a população e o outro trabalho visando lucros e crescimento econômico. Pois bem, se fossemos analisar com uma mentalidade muito simplista, poderíamos até dizer que é isto mesmo. Mas não é bem assim, porque dentro do setor público também é gerado um produto, que tem como foco a população, que é a prestação de serviços. E esta prestação de serviço também busca um resultado, que não deveria ser o foco, mas é a realidade; que é a satisfação da população e o seu nível de aceitação quanto ao gestor que está operando a máquina pública.
Neste sentido, pode-se pensar, mesmo que tenha uma relação, onde entra as relações humanas neste contexto do serviço público. Ela entra justamente em duas condições extremamente essenciais para que o cidadão receba um serviço de qualidade. Que é nas relações internas entre as equipes de trabalho, com seus integrantes e gestores; bem como na relação entre o funcionário público e o cidadão que busca o serviço por ele prestado. Neste sentido é praticamente e humanamente impossível dizer que as Relações Humanas no ambiente de trabalho não interferem na produtividade do setor público, porque tem grande influência e com certeza tem o poder de alterar resultados. Tanto na qualidade de vida do funcionário público, quanto na satisfação do cidadão usuário destes serviços. O servidor que não tem boa relação com sua equipe estão propícios a despejar suas insatisfações protelando seu trabalho.
No entanto, o que se vê no setor público passa longe de ambientes harmoniosos e produtivos. Que, por sua vez, são tensos, cansativos e de pouco rendimento. Isto se dá por muitos fatores, mas o principal é a desmotivação causada pela falta de expectativa do colaborar em uma acessão de carreira. Sendo que isto causa uma certo ambiente de rivalidade e competição, porque sabendo que não existe uma ascensão de carreira o que resta ao colaborador é tentar estar em uma posição um pouco mais confortável dentro deste ambiente e que lhe renda alguma vantagem, mesmo que não seja financeira, mas melhore de alguma forma a sua qualidade de vida. E para conseguir isto infelizmente só existe um caminho, que é se aproximando dos cargos de chefia e coordenação, que na sua maioria, são de pessoas não efetivas no cargo público, mas oriunda de outras áreas, que assumem os cargos por indicação política. E logo, como todo bom cargo político, ter aliados é sempre muito bem vindo! Então estes cargos comissionados utilizam destas pessoas que se aproximam, para conseguir os resultados “políticos”, que desejam e por vezes o principal foco fica de fora do interesse, que seria prestar um bom serviço ao cidadão.
A gestão de pessoas no serviço público é algo raro e geralmente não acontece. Com isto não existe um trabalho que foque o ser humano como centro das atenções e tudo que se espera dele é que cumpra sua jornada de trabalho e faça de conta que está atendendo bem a população. Não há compromisso com a qualidade de vida do servidor público, tão pouco com o resultado que do serviço que ele presta. A falta de qualificação técnica dos gestores contribui muito para que os ambientes de trabalho fiquem nocivos. Não há regras, não há compensação por resultados, não há reconhecimento por mérito, não há critério para cargos de gestão. O que há é uma grande lacuna entre o servidor público, sua satisfação pelo trabalho e a satisfação do cidadão pelo serviço prestado. Neste sentido, quando falta uma gestão inteligente e estratégica, que foque nas pessoas e na valorização das equipes, quando falta alguém que coloque as regras, que caminhe ao lado e mostre liderança, o servidor passa a trabalhar por extinto de sobrevivência. E vence o mais forte! Que as vezes é justamente aquele que usa de má fé para conseguir o que é bom para ele. E quem sofre com isto é a sociedade, que paga um alto preço pelo serviço publico e não consegue ser atendida com qualidade, porque existe, dentro da máquina pública, problemas de gestão.
É preciso que o gestor público tenha sensibilidade para trabalhar observando e analisando as competências, intrapessoal e interpessoal, de suas equipes. Criando um ambiente de trabalho sadio e produtivo. Criar um ambiente produtivo no setor público é possível, quando ideias são ouvidas de forma coletiva, quando existe um equilíbrio entre o interesse pessoal e o interesse institucional. Para um bom ambiente de trabalho é necessário que haja relacionamento pessoal, mas o mais importante é que este relacionamento não esteja contaminado com sentimentos, que possam tirar a qualidade do servidor ou do trabalho que ele presta. Quando não ocorre sintonia entre membros de uma equipe, existe a geração de um stress, cria-se um ambiente de desmotivação, o que dificulta chegar ao resultado esperado.
É preciso que haja a contribuição individual de cada membro da equipe, para que o ambiente se torne salubre e produtivo, com passos simples, que se pode seguir no dia a dia, como: evitar fofocas, ter tolerância, saber ouvir, ter empatia, ter pro atividade, colaborar e ajudar colegas quando em momentos de dificuldades, sejam eles pessoais ou profissionais; traçar metas em equipe e apontar soluções sem atacar seus parceiros de equipe. Tudo isto parece simples, mas para que tudo isto funcione corretamente é preciso que o exemplo parta de cima. Ou seja, que os exemplos partam de seus líderes, daqueles que estão a frente da gestão. Servidores públicos motivados são ferramentas incríveis, que podem trabalhar em prol de uma comunidade. Mas sem motivação e sem liderança, se tornam pesos para os cofres públicos.
Neste sentido, trabalhar as Relações Humanas no serviço público é algo importante e de extrema urgência. Pois o que se vê hoje é uma administração pública, sucateada não só de recursos logísticos e estruturais, mas sucateadas pela falta de pessoas humanas, no atendimento ao cidadão. Claro que existem aqueles que fazem seu trabalho com zelo, dedicação e cuidado com o cidadão, mas mesmo este, vai pra casa todos os dias frustrado com o ambiente pesado que ele tenha que conviver durante sua jornada de trabalho. Logo está mais que na hora, de se mudar o conceito de gestão de pessoas no serviço público e começar a buscar pessoas capacitadas para liderarem seres humanos. Na qual o foco, não seja político, mas simplesmente nos resultados. Será um grande gestor, o político que assumir um cargo público, como o objetivo de conciliar seus interesses políticos, com a valorização do capital humano empregado no setor público e os interesses da população.
Proporcionar um clima agradável e que favoreça o trabalho em equipe, que busque os mesmos objetivos, com profissionais motivados, que criam um ambiente de trabalho em harmonia é trabalho de um bom gestor. Mas também responsabilidade da administração como um todo, que precisa trabalhar seus planos de cargo e carreira, para que seus colaboradores possam se compensados, de alguma forma, por seus esforços. Não há como cobrar qualidade de um servidor, que não tem sequer meios para trabalhar, salário digno e ambiente salubre. E ao conseguir gerar este ambiente favorável, o gestor ganha a confiança da equipe, que vai consequentemente procurar mostrar um bom trabalho. Neste sentido ganha o gestor, na sua “imagem política”, ganha o cidadão que terá melhores serviços prestados.
É preciso que o gestor crie um ambiente que implique no desenvolvimento de um clima de confiança mútua, onde a equipe tenha liberdade de pensamento e expressão, sem medo de represarias, onde possam ter a liberdade de dar sugestões, sem serem discriminados. Onde formas de cortesia ou de ataque e defesa possam dar lugar a um ambiente amistoso e de consideração entre seus membros. Em ambiente de trabalho, onde existem muitas pessoas, sempre existirá divergência de pensamentos e ideias, bem como aqueles que tem melhor desempenho que outros. E cabe ao líder observar estes detalhes e ser o mediador e nivelador destas diferenças.
Logo, conclui-se que é possível trazer para a máquina pública as boas práticas das Relações Humanas no Trabalho, mas que para isto acontecer é preciso que haja uma quebra de paradigmas, no modo de tratar e cuidar do servidor. É preciso que o ser humano, investido do cargo público, seja focado como um ser humano e não como um subserviente que se presta somente aos interesses dos políticos que passam pela administração pública. Pois somente mudando o modo de agir é que os interesses de todos podem ser atendidos. O cidadão terá um serviço de qualidade, o servidor estará satisfeito com seu trabalho e o gestor será bem aceito pela sociedade. Se este ciclo se fechar neste sentido, a relação que vai prevalecer é a da ganha-ganha. Onde a gestão ganha, o cidadão ganha e o servidor ganha. Pensemos sobre isto!