A verdade em Israel e na Palestina
Qual a verdade em Israel e na Palestina? Como sempre, na guerra a primeira vítima é a verdade. Ela morre junto com a lucidez, a sensatez, a humanidade. As notícias que nos chegam, aqui do outro lado do mundo, não permitem que saibamos o que de fato se passa no Oriente Médio. O que nos leva a fazer conjecturas.
O que teria feito o Hamas perpetrar o bárbaro ataque que vitimou centenas de israelenses no 7 de outubro? Teria sido um ato de desespero? Muito improvável. Nem os 75 anos de expatriação e apartheid impostos aos palestinos fariam que eles realizassem a agressão que Israel aguardava, para justificar seu intento de exterminar ou expulsar em definitivo os palestinos. Como está fazendo agora. O que teria então acontecido naquele 7 de outubro?
Diz-se que é impossível que os serviços de inteligência de Israel não soubessem de um plano de ataque do Hamas. Então, tal como fez os EUA no 11 de setembro de 2001, teriam deixado acontecer, para justificar a selvagem retaliação? Que, de outro modo, seria a escancarada confissão dos planos de hegemonia mundial do Tio Sam? E, no caso de Israel, dos planos de exterminar definitivamente os palestinos?
Nem um ato de desespero justificaria os crimes do Hamas. Sabia-se que a retaliação seria monstruosa. Não é improvável pensar que, de fato, o que tenha ocorrido tenha sido um plano arriscado, mas que fugiu do controle. O Hamas pode ter pretendido fazer um grande número de reféns, sem mortos, para negociações com Israel. Por troca de prisioneiros, água, alimentos, medicamentos, energia, liberdade de locomoção... Enfim, pela sobrevivência. Por esse motivo os alvos foram não militares, festas e outros.
Mas em Israel tudo é militar. Por algum motivo, a ação planejada fugiu do controle. Ou pela reação armada de algum dos pretendidos reféns, ou pelo descontrole de algum palestino mais irascível, diante de impropérios a ele dirigidos por algum judeu mais fundamentalista. Um disparo, e o que era para ter sido uma operação para fazer reféns acabou virando uma matança.
E o ataque ao hospital em Gaza que deixou centenas de mortos e feridos, a maioria mulheres e crianças? As trocas de acusações sobre quem teria realizado o ataque parece querer esconder outra verdade: membros do Hamas caçados teriam procurado usar o escudo humano de civis para proteger-se. Um risco imperdoável. Mas Israel menosprezou o “efeito colateral” de centenas de vítimas civis. Talvez tenha achado ali outro pretexto para continuar a limpeza étnica?
Judeus e palestinos são irmãos de sangue milenares. Seu DNA é o mesmo. São fruto da mesma terra, dos mesmos povos originais. Como puderam tornar-se inimigos tão mortais? E os judeus, como podem hoje estar repetindo, talvez com ainda mais crueldade, perseguições de que foram vítimas tantas vezes ao longo da História? Nada aprenderam?
A crise atual da civilização não é só ambiental, ideológica, econômica, sanitária... Uma aguda crise ética e espiritual está a desafiar a sobrevivência da Humanidade.