O QUE É SER BOM?
Começo esse artigo com a seguinte afirmação: o conceito de moral é algo puramente humano.
Quando observamos a natureza, é perceptível que os animais não seguem um padrão ético, eles seguem seus instintos, eles sobrevivem.
Da mesma forma, nós, quando seguimos padrões éticos, também estamos tentando sobreviver. O que possibilitou nossa evolução, foi que logo cedo compreendemos que se nos uníssemos, conseguiríamos mais recursos e aumentaria as nossas chances de sobrevivência. A partir dessa união, fomos desenvolvendo a linguagem e ampliando nossa capacidade cognitiva.
Conforme fomos nos aprimorando, foram surgindo os primeiros povoados, inicialmente como algo menos complexo e mais familiar. A figura do Pai imperava nesses povoados e todos a ele obedeciam. O certo e o errado eram a palavra do Pai.
Com o passar dos séculos, as pequenas comunidades foram se tornando sociedades cada vez mais complexas. Já não era mais aquele pequeno seio familiar, e foi preciso desenvolver um padrão onde todos pudessem conviver. Assim surgiu a ética e a moral.
Aqui vai um pequeno esclarecimento do que é um e outro. A ética é o campo que estuda os princípios morais das culturas e suas conformidades com a Lei, e a moral é o conjunto de regras de uma determinada cultura. Mas ética e moral são conceitos muitos mais profundos do que essa resumida explanação.
O que determina o que é certo ou errado em uma sociedade? Apenas o senso comum, aquilo que é “bom” para todos. Ao longo dos anos, o conceito do que é bom ou não, foi mudando. Um exemplo simplório é como as pendências dos indivíduos eram resolvidas na França de Luís XIII, quando havia algum conflito entre dois homens, a honra era defendida na espada.
Outro exemplo diz respeito às guerras, onde um soldado era condecorado por sua bravura e coragem na hora de matar seus inimigos. Esse mesmo soldado, se pegasse seu fuzil e atirasse em qualquer indivíduo fora do campo de batalha, seria considerado um criminoso.
Então, o que é certo e o que é errado?
Essa questão é determinada pela cultura que o indivíduo está inserido.
E é essa mesma cultura que faz o sujeito renunciar suas pulsões, ele faz isso em nome do bom senso e da boa convivência. O sujeito renuncia à satisfação imediata dos seus desejos para poder ser aceito na comunidade em que vive. Ele faz isso em nome da sua felicidade, mas ele nunca alcança esse Ideal de felicidade, pois ele vai estar sempre renunciando a coisas que lhe dão prazer.
É dentro desse paradoxo que o sujeito é desenvolvido. Antes que uma pessoa venha ao mundo, já existe um Ideal que ela deve seguir.
Devo fazer aqui também uma breve menção à moral religiosa. É impossível falar de sociedade e não falar de religião. O ser humano cria seus deuses e instituições para eles, como forma de simbolizar as forças que estão fora de seu alcance.
Como dito alguns parágrafos atrás, as sociedades surgiram a partir de pequenos povoados. A figura do Pai era a moral destes povoados, mas conforme as sociedades foram ficando mais complexas, a Lei veio como substituta dessa imagem, estabelecendo o que era socialmente aceito ou não. Dentro dessas sociedades, seus deuses também sofreram alterações. As divindades que outrora representavam as forças da natureza, passaram agora a representar a força da moral. Os deuses assumiram um papel de “supervisor” do sujeito quando as autoridades não estavam presentes. Essas divindades tiveram um papel fundamental na repressão dos desejos, legando as vontades do indivíduo ao inconsciente, ao porão da sua alma. Em nome de um todo, o ser humano precisou abandonar grande parte de sua individualidade.
Com isso, voltamos ao título desse texto: O que é ser bom?
A verdade, é que nunca teremos a resposta para essa pergunta, visto que o “bom” varia de sujeito para sujeito e de cultura para cultura.
É compreensível existir a Lei, a moral e a ética; pois são elas que vão ajudar a convivermos uns com os outros. Em troca, pagamos um alto preço, renunciamos a nossa liberdade.
Quando fizemos esse movimento de renúncia, traçamos um Ideal de sociedade eficaz e feliz. Deixamos nossas vontades para vivermos dentro de um contexto que nos permita sermos aceitos. Se, em algum momento, infringimos essas normas, somos castigados. Desta forma, somos moldados para sermos “humanos”.
É fácil seguirmos uma conduta, ela já está lá, antes de nascermos ela já existia. Se questionamos, vamos encontrar como resposta a seguinte afirmação: “As coisas são como tem que ser”.
Relegar uma moral, significa assumir outra. Porque é impossível a nós vivermos sem regras, pois, como dito algumas linhas acima, somos seres que buscamos pertencimento. Buscamos nos encaixar em algum lugar.
Então, concluímos, que o ser humano é um eterno perseguidor de uma falsa bondade, de um código de honra. Conforme vamos perseguindo essa bondade inexistente, vamos deixando um pouco de nós para trás. E conforme vamos nos deixando no caminho, deixamos de encontrar a verdadeira essência da felicidade.