As crianças e a violência na Televisão
Ana Lúcia de Oliveira Morais
4º Ano do Curso de Comunicação Social
1 - CARACTERÍSTICAS DA VIOLÊNCIA NOS MEDIA
Há uma ligação óbvia entre a ocorrência de violência na Sociedade e a tematização e representação da mesma nos media. Mas qual a natureza da ligação? Que causalidade é envolvida? Os media espelham simplesmente a violência real da sociedade? Ou causam-na e contribuem para ela?
Uma mensagem preocupante que a Televisão nos vende progressivamente é a de que a violência é aceitável. A Televisão diz que a violência é trivial, lugar comum, de todos os dias, mundana. Faz parte da vida, é normal. É parte da nossa cultura moderna. E também pode ser divertida (de uma forma doentia e irónica).
A Televisão também ensina algo ainda mais corruptível – que a inteligência está fora de moda e que a força bruta é que está a dar. A moralidade está ultrapassada. Os polícias são estúpidos e os criminosos é que são os espertos. Há uma selva lá fora, envolvendo homens, mulheres e crianças e, no entanto, está tudo bem.
Vivemos numa era de crimes progressivos de violência contra pessoas e propriedades, desde o abuso de crianças a esposas (ou maridos), violência nos jogos de futebol, vandalismo contra idosos ou outras pessoas indefesas por um simples punhado de moedas.
A Televisão é simplesmente a nossa maior influência. Muitos jovens praticaram milhares de crimes representados na Televisão quando atingiram a idade de 18 anos. Não é despropositado assumir, fazendo um balanço de probabilidade, que esta preocupação com a violência está intimamente ligada a efeitos prejudiciais.
1.2- O IMPACTO DAS CENAS VIOLENTAS
A violência na Televisão é enfeitiçadora e memorável. Uma cena que dura apenas alguns segundos – transmitida numa pequena parte de um programa – pode ser recordada a longo prazo mais do qualquer outra cena da história. A violência possui uma mensagem muito contagiosa e produz frequentemente um efeito directo.
As crianças imitam frequentemente as cenas violentas dos filmes.
As crianças imitam o que vêem. Elas transformam isso em jogos, magoando outras crianças. A violência brutaliza. Torna as pessoas rudes e deprime os outros. O seu impacto é aniquilador e corruptível. A violência na Televisão não é só agressão infantil física ou verbal, tal como bater em alguém. Ela representa formas directas e sérias de agressão. Por exemplo, disparar um revólver sobre alguém, atacar uma vítima com um faca, atear fogo num edifício, cortar alguém com uma garrafa partida são cenas drásticas produzidas para dar efeitos visuais.
A arma de fogo é um dos instrumentos mais presentes nos filmes de violência.
Alguns produtores de Televisão, directores de filmes, riem das preocupações acerca da violência. Dizem: "É realista. Reflecte a realidade. É o que os espectadores querem. Não precisa de ver isso, precisa? Pode sempre desligar o televisor".
Mas não se tem muita escolha, principalmente quando estas cenas não são esperadas. Não se compra um televisor para mantê-lo desligado. Não se pode "desligar" a mente ou abster-se de algo desagradável que está a ser transmitido a cada momento. Os pais não podem estar presentes a todo o instante para assistir com as crianças aos programas infantis durante as horas que elas dispõem, nem devem.
2- OS DESENHOS ANIMADOS
Em geral, as crianças começam a ver Desenhos Animados aos dois anos. Aos 6, aproximadamente, 90% das crianças já são clientes habituais da Televisão. Entre os 6 e os 11 anos são as situation comedies (sit com) que vão conquistando os seus favores.
As crianças mais novas vêem os desenhos animados porque eles são "codificados" de uma forma nítida, isto é, cada acção é sublinhada por efeitos sonoros particulares, que visam ajudar a sua compreensão e captar a sua atenção. E, como a atenção das crianças tem dificuldade em fixar-se, os códigos sonoros vêm ajudá-las a estar atentas.
Na maior parte do tempo, se a atenção das crianças tem dificuldade em fixar-se é porque o conteúdo dos programas não lhes é totalmente compreensível. As crianças captam apenas uma parte do que vêem. Não conseguem compreender as sequências longas; as motivações e intenções dos diferentes personagens escapam-lhes em parte. Mas, sobretudo, não são capazes de fazer deduções nem de compreender o que está implícito.
Quando assistem a cenas de violência, por exemplo, é provável que incluam à sua maneira que "é o mais forte que tem razão". Em contrapartida, têm dificuldade em compreender as mensagens mais subtis e em perceber que certas acções são mais justificadas do que outras. Inversamente, compreendem sem dificuldade que se obtém o que se pretende quando se detém o poder. Esta mensagem é ainda mais marcada nos Desenhos Animados "de acção e de aventura", que substituíram os espectáculos gravados em directo que, numa determinada época, constituíram os programas destinados às crianças. Demonstrou-se amplamente que a quantidade de violência presente nestes era consideravelmente mais elevada do que nos programas destinados a adultos em horários de grande audiência. Um estudo recente revelou que havia, em média, 25 actos de violência por hora nos programas infantis e apenas 5 nos programas de grande audiência. Os desenhos animados "de acção e de aventura" relatam, de facto, "questões de poder".
Influenciarão estes programas o comportamento das crianças? Centenas de pesquisas, realizadas a partir dos anos 60 – estudos experimentais em pequenos grupos de crianças, bem como vastas investigações efectuadas em meios diversos, utilizando técnicas muito variadas -, convergem na conclusão de que as crianças que vêem muita Televisão são mais agressivas do que as que vêem pouca. Os espectáculos violentos não afectam apenas o seu comportamento, mas também as suas crenças e valores. Por exemplo, em geral, as crianças que vêem muita Televisão temem mais a violência do mundo real. Em contrapartida, outras ficam insensíveis a essa violência; choca-as menos e reagem a ela com menor intensidade.
Por outro lado, os programas destinados às crianças apresentam os homens e as mulheres em papéis estereotipados, acabando as crianças que estão habituadas a passar horas em frente à Televisão por reproduzir esses esquemas.
Existem alguns Desenhos Animados, cujos conteúdos são altamente violentos. Deste tipo encontram-se o "Dragon Ball", o "Pokémon" e os "Power Rangers".
O Dragon Ball trata da história de uma personagem, o Songoku, que tem como missão lutar contra os seres do mal, que pretendem invadir a Terra ou destruir outros planetas. Esta personagem, bem como os seres do mal são dotados de força e possuem poderes sobrenaturais.
Antes do confronto entre as personagens do bem e do mal, a personagem principal, Songoku, terá de fazer treinos, que consistem em lutas marciais, para melhor poder enfrentar as personagens más. Nas lutas, os poderes sobrenaturais e a força são frequentemente evidenciados. Depois de passar grandes dificuldades, o bem triunfa sempre sobre o mal.
Cada vez que é derrotado o personagem mau, Songoku terá pela frente uma batalha ainda mais difícil, pelo que a sua preparação terá de ser cada vez mais cuidada. Assim, como se pode verificar a destruição do mal passa por um ambiente de lutas e de poder e é nisto que consiste basicamente a história do Dragon Ball.
Em relação ao "Pokémon", poder-se-á dizer que os pokémons são pequenos monstros que habitam a ilha de Pokémon. Têm ataques especiais e mágicos que podem usar contra os seus adversários numa luta de pokémons. A história começa quando um rapaz de 10 anos chamado Ash Ketchum da cidade de Pallet recebe o seu primeiro pokémon, sendo o seu grande sonho tornar-se o melhor treinador de pokémons do mundo!
Ainda em relação a estes Desenhos Animados, encontrámos um site na Internet cuja introdução alertava as crianças para não imitarem quaisquer das cenas retratadas no "Pokémon", o que leva a crer tratar-se de Desenhos Animados um tanto perigosos para algumas das mentes mais sensíveis das crianças.
Por fim, os "Power Rangers" consistem na história de um grupo de 5 adolescentes que foram incumbidos da tarefa de proteger a Terra das ameaças de extraterrestres do Espaço. Estes adolescentes usam dispositivos conhecidos como Morphers, que lhes dão energia para se transformarem em Power Rangers.
As crianças são cativadas pela fantasia das lutas ninja e pelo poder dos protagonistas. Os Power Rangers tem como função salvar a Terra dos vilãos do mal. Quando algo falha, estes juntam-se para formar máquinas de combate ainda mais poderosas. Em cada episódio os Rangers estragam os planos ao inimigo e tornam-se como heróis para as crianças.
Pesquisas efectuadas acerca destes Desenhos Animados afirmam que estes novos heróis não são modelos apropriados para as novas gerações, que são muito influenciáveis. Os Power Rangers são seres humanos actuais que vão à escola e tem, aparentemente, vidas normais. Pelo facto de serem reais e não cartoons animados como, por exemplo, o Superhomem, é grande a sua influência nas crianças que esperam poder ser exactamente como eles.
As crianças da geração dos Power Rangers imitam os movimentos das lutas ninja e batem nos rapazes que consideram maus, dando pontapés e murros. Os Power Rangers não só dizem aos miúdos que as lutas são aceitáveis, como também lhes dizem que as lutas resultam.
Estas demonstrações impressionáveis afectam as crianças em idades igualmente impressionáveis. Não só sugere às crianças que combater os vilões do mal, que tentam tomar conta do mundo, com técnicas ninja espectaculares é certo, como também dessensibiliza os mais novos acerca da violência, do choque e do terror de ver alguém a ser agredido.
Havendo crianças a tornarem-se dessensibilizadas da violência física em idades precoces da sua vida, elas começam a desenvolver uma tolerância a esse tipo de violência e precisarão de cada vez mais violência para serem entretidas.
3 - OS JUÍZOS MORAIS DAS CRIANÇAS EM RELAÇÃO A PERSONAGENS DE TELEVISÃO
3.1- A SIMPATIA OU A REPULSA PELAS PERSONAGENS
Um estudo levado a cabo por cientistas concluiu que, em Televisão, o grau de moralidade de determinada acção depende de quem a realiza: uma conduta é julgada moral ou imoral conforme é tida por uma personagem que se admira ou de quem se gosta ou por uma personagem antipática e de quem se desconfia. Assim, as reacções que, normalmente, seriam entendidas como "imorais"- chantagem, homicídio, arrombamento, etc.- tornam-se aceitáveis se são realizadas por alguém que goza da simpatia do público.
Sendo assim, uma acção é considerada moral ou imoral em função de quem realiza, e não do que é realizado. Os valores morais da Televisão são veiculados pelas personagens. Há os bons e os maus; os bons não podem fazer mal; os maus não podem fazer bem. Estas simplificações afiguram-se-nos familiares; é a visão moral de uma criança de 5 anos.
No que diz respeito aos Desenhos Animados, uma grande quantidade de violência, presente neste tipo de programas, afecta de forma bastante significativa as crianças. E esta influência pode acompanhá-las até uma idade muito avançada e, mais tarde, levar a uma confusão acerca da violência. As crianças podem ser levadas a pensar que se magoarem ou matarem alguém essas pessoas regressarão à vida. E que se baterem em alguém com um objecto, como acontece nos Desenhos Animados em que as suas personagens favoritas levantam-se e continua tudo bem, essas pessoas não ficarão magoadas.
3.2- OS AUTORES DE ACTOS AGRESSIVOS E AS VÍTIMAS
Nem todos as personagens autores de agressão incluem as características necessárias para serem vistos como modelos. Segundo Bandura (1994), os personagens atractivos têm mais probabilidade de funcionar como modelos e as pesquisas neste domínio têm mostrado que a atractividade de um modelo é maior quando se trata de um herói, quando o seu comportamento pode ser visto como altruísta e quando possui características sócio-demográficas semelhantes às do espectador. Estes factores facilitam a identificação dos espectadores com os personagens, e a identificação facilita a desinibição da agressão.
Enquanto as características dos autores de actos agressivos são importantes como mediadores da aprendizagem e facilidade da agressão, as características das vítimas são importantes para a compreensão dos efeitos da violência na televisão a nível da construção do medo e do sentimento de insegurança. Quanto maior a atractividade da vítima, o seu altruísmo, o seu carácter heróico e a presença de outros factores que facilitam a identificação, maior a probabilidade de os espectadores partilharem as experiências emocionais das vítimas e, consequentemente, desenvolverem um sentimento de vitimação e medo.
4- EFEITOS E CONSEQUÊNCIAS DO VISIONAMENTO DE VIOLÊNCIA TELEVISIVA NAS CRIANÇAS
4.1- O PROCESSO DE IMITAÇÃO
Inúmeros estudos e investigações têm sido realizadas sobre o problema dos efeitos das mensagens violentas pelos mass media, particularmente a Televisão, sobre as crianças. Na realidade, as crianças fazem parte do público mais assíduo dos programas televisivos onde, tantas vezes, são projectados filmes que tomam a violência como um lugar comum. Se analisarmos essas cenas de violência, física ou moral, veiculada pelos filmes, em emissões televisivas e notícias jornalísticas, bem como o tempo médio que as crianças consagram a esses espectáculos, poder-se-á concluir que estas sofrem a influência da violência difundida nas mensagens.
A Televisão constitui um objecto de culto para as crianças. Está cada vez mais a substituir o papel dos pais. É uma espécie de "babysitter" electrónica que desperta a atenção da criança, acalmando a sua impaciência e irritabilidade.
A questão fundamental que se põe a partir desta realidade é saber, afinal, se a violência contida nas mensagens veiculadas pelos meios de comunicação social terá de facto um efeito negativo no comportamento das crianças.
As crianças utilizam o televisor para se divertirem e não para se instruírem. À medida que vão contactando com este poderoso aparelho, vão interiorizando modelos de comportamento e mesmo valores que tendem a imitar. Este facto pode tornar-se perigoso pelo simples facto de a criança não ver na Televisão o seu próprio mundo nem mesmo uma representação real do mundo que a rodeia.
As crianças imitam muitas vezes cenas de violência que vêem na Televisão nos seus jogos com resultados catastróficos. Vendo actos de agressão, as crianças aprendem a ser agressivas das mais variadas formas, retirando conclusões sobre o facto de se ser agressivo trazer recompensas. Crianças que vêem personagens de Televisão a conseguirem o que querem através da violência estão mais aptas a imitar esses comportamentos.
Pesquisas revelam que as crianças, principalmente aquelas que se encontram em situação de "risco", têm desenvolvido patologias, tendo surgido diversos fenómenos mórbidos tais como obesidade ou anorexia nervosa, actividade cerebral prejudicada, problemas profundos na linguagem, impossibilidade de se deslocar no espaço real, agressividade, alcoolismo, drogas. Os homicídios no meio escolar também estão relacionado à Televisão.
Outras demonstram que o visionamento de programas violentos está relacionado com o papel menos imaginativo e mais imitativo, no qual a criança simplesmente imita, através de gestos, actos agressivos observados na Televisão. Além disso, muitas produções dos media que regularmente retratam violência, também promovem brinquedos baseados em programas, os quais encorajam as crianças a imitar e reproduzir, nas suas brincadeiras, comportamentos vistos na Televisão ou nos filmes. Nestas situações, o papel imaginativo e criativo das crianças é debilitado, roubando, por isso, às crianças os benefícios de um desenvolvimento eficaz. A publicidade baseada em brinquedos cria nas crianças um desejo insaciável de possuir este tipo de produtos. Estas começam a acreditar que serão incapazes de brincar sem os suportes específicos vistos na Televisão.
Assim, no seu comportamento, as crianças imitam estas personagens reforçadas de comportamentos agressivos e ensaiam as palavras destas, sem qualquer pensamento criativo ou reflexivo. Crianças que observam repetidamente nos media comportamentos violentos ou agressivos para resolver problemas tendem a ensaiar o que vêem e imitar esses comportamentos em conflitos da vida real.
Em resumo, crianças que são espectadoras assíduas de violência nos media aprendem que a agressão é um meio bem sucedido e aceitável para atingir fins e resolver problemas; ficam menos aptas a beneficiar de desempenhos criativos e imaginativos como meios naturais de exprimir sentimentos e tornam-se crianças mais irritadas.
A apresentação da violência pode provocar violência. Quanto mais frustrada ou descontente se sente a criança quando assiste a actos de violência no écran, tanto mais corre o risco de cometer um acto de agressão. As probabilidades aumentam se a violência à qual assiste aparece como justificada, ou seja, se o "bom" ataca o "mau". Quanto mais inesperada for a violência, tanto mais age sobre o espectador, sem o levar necessariamente a um acto de agressão e quanto mais vezes a violência aparecer sob a forma facilmente imitável, tanto mais incitará a imitação.
Rapaz segurando uma arma de brincar enquanto vê os Desenhos Animados.
A nível televisivo, poder-se-á falar de efeitos de violência auditiva, visual e verbal. As crianças têm medo, como um efeito imediato muito frequente, causado pela apresentação da violência nos meios de informação. O mesmo se passa com a violência verbal. Os barulhos violentos, quer sejam ou não acompanhados de imagens violentas, podem provocar um choque nervoso.
A maneira de apresentar a violência (cena realista, grandes planos), o facto de se desencadear num contexto conhecido pela criança ou em condições inesperadas aumentam o risco de traumatismo (fadiga psíquica, nervosa, pesadelos e insónia).
Poderá também ter efeitos a longo prazo. Há tanta razão para nos preocuparmos com as crianças que não ficam assustadas com a violência como as que ficam.
Estudos americanos tem confirmado um aumento notável no número de actos violentos direccionados a crianças. Tem havido um aumento da quantidade e severidade de actos violentos observados pelas crianças através dos media, incluindo os filmes de Televisão, jogos de computador e vídeos e um aumento da manufactura e distribuição de armas-brinquedo e outros produtos directamente ligados à programação violenta. A NAEYC, uma organização americana que lida com problemas infantis, acredita que a tendência em direcção ao aumento da representação de violência proveniente dos media põe em risco o desenvolvimento saudável de grande número de crianças americanas.
4.2- OS EFEITOS DO VISIONAMENTO DE VIOLÊNCIA NA TELEVISÃO
É de salientar que muita da violência é vista em programas "realistas" e de Desenhos Animados, mas os cientistas sociais têm mostrado que em todas as formas de programação violenta há três possíveis efeitos do visionamento de violência na Televisão: as crianças podem tornar-se menos sensíveis à dor e ao sofrimento dos outros, são capazes de ter mais receio do mundo que as rodeia e têm mais tendência a comportarem-se de uma maneira agressiva e prejudicial em relação aos outros.
As crianças podem desenvolver pontos de vista distorcidos da sociedade, porque mulheres, jovens e idosos não aparecem no écran como se nos apresentam na vida real. Tópicos como o abuso de drogas, alcoolismo e sexo podem criar na criança uma atenção mais precoce do que se previa.
Estudos americanos, no que diz respeito aos efeitos, utilizam os seguintes termos:
- Efeitos Directos;
- Dessensibilização;
- Síndroma do mundo "mesquinho".
O processo dos Efeitos Directos sustenta que crianças e adultos que vêem uma grande quantidade de Televisão podem tornar-se mais agressivos e/ou desenvolver atitudes e valores favoráveis ao uso da agressão para resolver conflitos. As crianças copiam frequentemente personagens e comportamentos e conseguem lembrar-se de maneiras agressivas de vencer, provenientes da Televisão, usando-as em situações posteriores.
O segundo efeito, Dessensibilização, diz que as crianças que vêem uma grande quantidade de violência na Televisão podem tornar-se menos sensíveis ao mundo real, menos sensíveis à dor e ao sofrimento dos outros e mais predispostas a tolerar os níveis cada vez maiores de violência na nossa sociedade. As crianças não se apercebem que as acções violentas podem magoar alguém ou elas próprias. Podem, também, não mostrar sensibilidade quando outras são magoadas ou estão aflitas e consideram a violência algo normal, porque toda a gente o faz.
O terceiro efeito, o Síndroma do Mundo "Mesquinho", sustenta que crianças ou adultos que vêem uma grande quantidade de Televisão podem começar a acreditar que o mundo é tão mesquinho e perigoso na vida real como na Televisão e, por isso, começam a ver o mundo dessa forma. As crianças podem adquirir medo de serem roubadas, esfaqueadas, mutiladas ou alvejadas, o que as impede de fazerem certas coisas. Podem recear que a sua família possa ser magoada por situações que elas vêem nos boletins informativos, tais como incêndios, terramotos massacres familiares. Podem, ainda, ter problemas de sono, depois de verem imagens de fogos, roubos nocturnos e mortes.
De salientar que pesquisas efectuadas suportam os três tipos de efeitos já mencionados e cada um pode operar independentemente do outro.
5- FACTORES MODERADORES DOS EFEITOS DA VIOLÊNCIA NA TELEVISÃO
Uma vez que muitos dos estudos sobre os impactos da violência filmada foram realizados com crianças e que os Desenhos Animados ocupam um largo espaço na programação infantil, os investigadores quiseram saber se este tipo de programas teria mais ou menos impacto do que filmes com personagens reais. Bandura, em 1963, concluiu que um modelo "tipo desenho animado" não tinha menos impacto que modelos "realistas" filmados ou com presença ao "vivo". Numa revisão de literatura realizada por Hapkiewicz (1977) constata-se que os estudos sobre esta questão não permitem concluir se os Desenhos Animados podem ou não ter mais impacto do que os "filmes realistas". A questão parece, assim, residir não na "natureza" (desenhos animados ou personagens humanas) do filme, mas na sua percepção como realista ou não, na atractividade dos heróis e na semelhança percebida entre o herói e o espectador.
5.1- A VIOLÊNCIA JUSTIFICADA E INJUSTIFICADA
O significado justificado ou não da violência exibida foi desde cedo considerada uma variável crítica na moderação dos efeitos da violência filmada: a violência apresentada como justificada (retaliação ou auto-defesa) apresenta mais impactos do que a violência não justificada (Berkowitz e Geen, 1967). Uma revisão de literatura envolvendo cerca de duzentos trabalhos sobre esta questão viria a confirmar a solidez dos resultados iniciais (Paik e Constock, 1994). Da mesma forma, a violência moralmente justificada (por exemplo, um herói que agride alguém para proteger um terceiro) tem efeitos de desinibição da agressão (Jo e Berjkowitz, 1994). Note-se, no entanto, que alguns estudos parecem mostrar que a violência injustificada provoca mais medo do que a violência justificada - aquela que é usada para proteger outra pessoa ou a restituição pelo dano causado - (Bryant et al.,1981). Assim, enquanto a primeira terá efeitos na construção paranóide do mundo, a segunda terá efeitos sobre a aquisição de respostas agressivas.
5.2- A INTERPRETAÇÃO MORAL DAS CRIANÇAS ACERCA DA VIOLÊNCIA TELEVISIVA JUSTIFICADA E INJUSTIFICADA
Pesquisas efectuadas acerca dos efeitos dos media concluíram que crianças que vêem violência proveniente de ficção consideram a violência justificada como menos injusta, ao passo que as crianças que vêem uma grande quantidade de violência real consideram a violência justificada com mais injusta.
Como já foi referido, a exposição à violência na Televisão pode resultar num comportamento agressivo, pois as crianças tendem a imitar os actos violentos visionados nesta. Além disso, tornam-se menos sensíveis à violência, adquirindo uma concepção do mundo como um lugar medíocre e assustador.
No entanto, alguns críticos encontram-lhe outros defeitos mais subtis: a violência na Televisão é uma factor causal na diminuição dos raciocínios morais nas crianças (entenda-se por raciocínio moral a capacidade das crianças para fazer escolhas éticas quando confrontadas com dilemas morais e a capacidade de articular razões para essas escolhas). Não quer isto dizer que a Televisão impeça totalmente o desenvolvimento de uma formação moral na criança.
No que diz respeito à exposição à violência televisiva é mais provável que esta afecte de forma mais intensa os julgamentos morais das crianças acerca de situações reais que sejam semelhantes às que elas vêem na Televisão (por exemplo, retardando a sua capacidade de julgamento moral).
5.3- AS PROBABILIDADES DE APRENDIZAGEM DE COMPORTAMENTOS VIOLENTOS
A recompensa ou punição dos personagens autores de agressões tem, naturalmente, efeitos diferentes na aprendizagem e imitação da agressão. Como mostrou Bandura (e.g. 1986), a probabilidade de aprendizagem de um comportamento reforçado positivamente é maior do que a de um comportamento do mesmo tipo que é punido, sendo que a ausência de punição é percebida como uma recompensa (Walters e Parke, 1964). A pesquisa tem mostrado que a violência que não é claramente punida não só tem efeitos sobre a aprendizagem da normatividade dos comportamentos agressivos, como provoca mais medo e ansiedade (Bryant et al.,1981).
A gravidade das consequências da violência exibida foi também estudada. Pode concluir-se, das pesquisas realizadas, que as imagens violentas que mostram elevado sofrimento da vítima e as consequências graves de tal tipo de comportamentos produzem ansiedade nos espectadores e menor probabilidade de imitação (e.g. Baron, 1971). A "violência feliz" (Gerbner, 1992), as imagens violentas que não mostram o sofrimento das vítimas e a gravidade das consequências da agressão, ou ainda aquelas que não mostram a vítima, são mais facilmente imitadas.
A prevalência da violência na sociedade é um problema complexo que não será resolvido facilmente. Investigadores referem constantemente que a violência nos media é apenas uma manifestação do grande fascínio da sociedade pela violência. Contudo, a violência nos media não é apenas um reflexo da violência na sociedade, é também um contributo. Se a nossa nação deseja produzir gerações futuras de adultos produtivos que rejeitem a violência como um meio de resolver problemas, temos de reafirmar o papel vital do Governo em proteger os seus cidadãos mais vulneráveis e, juntos, trabalhar para que os media façam parte dessa solução.
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