Marginal, eu? Marginal, você? Marginais, nós.
A “Operação Escudo” da Polícia Militar no Guarujá teve desenrolar trágico: Como sempre, na suposta “guerra ao crime”, morreram os que podem menos, os que moram onde dá, comem o que dá e geralmente tem poucas opções de lazer ou ensino. Moradores da periferia. Não foi surpresa a postura do atual governador do Estado, o “extremamente satisfeito Tarcísio”. A operação policial ceifou vidas inocentes, atrapalhou a rotina de trabalhadores e estudantes. Causou medo. Não há nada satisfatório.
Ainda sobre o asssunto, outra coisa me incomoda: O uso da palavra “marginal” sempre com um sentido pejorativo. Marginal, dentre outras coisas, significa “O que está à margem” e, sim, nós (e aqui me incluo),habitantes da periferia, estamos “à margem” da sociedade de consumo, muitas vezes “à margem” dos serviços essenciais. Mas estar “ à margem” não significa ser criminoso. Quem atirou no PM da rota não deve ser tratado por “marginal” pelo ato cometido. É uma pessoa que cometeu um crimedeve que ser julgada dentro das leis de nosso país (que não incluem pena de morte). Os PMs envolvidos na chacina que aconteceu durante a operação escudo são pessoas vis que devem ser julgadas e punidas: Agridem e matam, com as bênçãos do governador e aplausos de boa parte da sociedade que não entende estar mais próxima dos “marginais” do que do topo da pirâmide social.
Fechando a semana, uma reportagem sobre a prisão de um cantor por plantar alguns “pés proibidos”. Nos comentários, muitas pessoas chamando o artista de “marginal”, cobrando da polícia uma ação violenta ao invadir a casa do rapaz, nos moldes aplicados em comunidades. Estão lutando pelo avesso: Deveriam pedir que a Polícia entre na comunidade com o mesmo respeito que entrou na casa do cantor de classe média, não o contrário. Não queremos pagar impostos para sustentar um sistema assassino… Ou queremos? Eu não quero.
Na na natureza, as margens de lagos e rios são lugares cheios de vida e fundamentais para a saúde do próprio rio. Por qual motivo não começamos a olhar com a população “marginalizada” da nossa sociedade como parte fundamental do país,, valorizando sua cultura, seu trabalho e cuidando para que “às margens” dessa sociedade doente em que vivemos, possa brotar uma nova sociedade, melhor, mais educada e consciente que a atual? Que o Estado se lembre que não é pago para promover vingança, saiba valorizar o que há de bom em cada cidadão e regue nossas margens com saúde, educação, possibilidades…
Sobre a importância de dar nomes aos bois e utilizar os referenciais linguísticos corretos, deixo aqui o link para o vídeo da linguista Jana Viscardi. Ela é didática e explica de uma forma bem melhor que eu o motivo pelo qual não devemos sair distribuindo tratamentos pejorativos em nosso linguajar.