Cuidado com os achismos
Se há algo que pode ser bastante irritante é ouvir uma pessoa falando achismos como se fosse a dona absoluta da verdade. E o que é um achismo? É algo que uma pessoa diz baseada naquilo que acredita ou que acha ser verdade, ou seja, algo que não se baseia em uma fundamentação lógica ou científica. Assim, podemos dizer que preconceitos como o machismo ou o racismo são meros achismos, pois não há nenhuma teoria científica que prove que um gênero ou que uma determinada etnia é superior ou inferior. Infelizmente, muita gente não reflete e acredita nesses achismos sem se dar conta do quanto são ridículos. E, graças à velocidade com que as informações circulam na Internet, o que não falta é quem acredite nesses achismos. Vamos dar bons exemplos de afirmações que são achismos. Há quem acredite que vacinas causam autismo. Qual é a prova de que o autismo é provocado por vacina? Do mesmo jeito, pessoas acreditam que o coronavírus é parte de uma estratégia de controle populacional e parte de um plano para a implantação de uma Nova Ordem Mundial, na qual seria instaurado um governo único com uma única moeda. Façamo-nos umas perguntas: quais as provas de que estamos caminhando para um governo único ou de que o coronavírus foi produzido em laboratório e é parte de um plano maquiavélico para reduzir a população mundial? Podemos dizer o mesmo acerca de quem diz que a terra é plana ou de que o homem nunca foi à lua. Mas o problema maior desses achismos é que muita gente acredita neles talvez por ignorância ou talvez por preferir dar asas à fantasia e à imaginação.
Vamos citar alguns achismos altamente ridículos. Um bom exemplo ocorreu recentemente com o digno deputado Nikolas Ferreira – que foi o deputado mais votado do Brasil e adora dar declarações polêmicas – a respeito da reforma tributária. Se alguém acessar o Youtube, saberá que Nikolas Ferreira disse que a esquerda brasileira conseguiu colocar a ideologia de gênero na reforma tributária, afirmando a respeito do parágrafo 5 do artigo 56(que fala sobre cashback), que “um homem que se sentisse mulher poderia comprar um absorvente”. Acontece que o nobre deputado deveria ter lido melhor o texto, pois a proposta dele é reduzir as desigualdades de renda, gênero ou raça. Porém, Nikolas Ferreira, como todo bolsonarista radical, parece acreditar piamente em coisas como o kit gay e ideologia de gênero. Não podemos esquecer que ele, no dia 8 de março (o dia internacional da mulher), colocou uma peruca e insinuou que os transexuais estariam tirando o espaço da mulher. Analisemos o que ele disse. Qual a lógica disso? Com certeza, se perguntarem a uma pessoa qual o gênero dela, querem saber se ela é homem ou mulher. Ademais, a teoria da ideologia de gênero e do kit gay é uma coisa ridícula. Não se pode ensinar ninguém a ser homo, hetero, trans ou bissexual. Gostar do gênero oposto ou do mesmo gênero ou mesmo de ambos ou se sentir uma mulher tendo nascido no corpo de um homem não é algo que se ensine nem uma escolha, mas uma inclinação natural com a qual a pessoa simplesmente nasce. Lamentavelmente, muitas pessoas votaram em Bolsonaro por acreditar nessa bobagem de kit gay, como se se pudesse ensinar alguém a gostar de um gênero.
Uma outra pessoa pródiga em dizer achismos é Damares Alves(que foi ministra de Bolsonaro). Ela chegou a afirmar que o Brasil viveria uma “ditadura gay”. Alguém deveria perguntar à respeitável senhora quais são as provas de que nosso país seria governado de forma ditatorial pelos homossexuais. No entanto, todas as coisas estapafúrdias ditas pela sábia Damares não param por aí. Quem a conhece sabe bem que ela já disse que as meninas da Ilha Marajó sofreriam estupro por não usar calcinha e que a Igreja evangélica perdera espaço por ter permitido que a teoria da Evolução fosse ensinada nas escolas. Vamos refletir um pouco. Onde ela viu que as meninas desse lugar seriam estupradas por não usar peça íntima? Será que ela ignora que os países com maiores índices de estupro são aqueles como a Índia, Paquistão ou então os de maioria muçulmana, onde as mulheres andam praticamente vestidas dos pés à cabeça? Aliás, é bom acrescentar que o ilustre Jair Messias Bolsonaro, que foi nosso presidente, disse um achismo que se tornou realmente antológico, o de que “filho gay é falta de porrada.” E ser homossexual é falha moral, desvio de caráter? Desde quando a falta de rigor na educação seria determinante na orientação sexual de alguém? Lembremos também de Cássia Kiss, que disse que haveria beijódromos nas escolas e que crianças pequenas estariam sendo ensinadas a se beijar desde cedo, sendo desmentida tanto por colegas de profissão quanto por pessoas que trabalham em escolas. Não foram poucos os que a desafiaram a apresentar provas de suas afirmações extremamente graves. É triste ver que há gente que crê nos achismos ditos por essas pessoas.
Talvez digam que não devemos nos incomodar com quem diz achismos todavia é bom não esquecer que, sendo a Internet um terreno fértil, essas opiniões sem fundamento se espalham como um vírus. Nós, que temos conhecimento e usamos o raciocínio, temos a missão sagrada de tentar alertar as pessoas para não acreditarem no que muitos saem dizendo como se fossem verdades absolutas. Ainda temos que lembrar que bons exemplos de achismos são as superstições e não falta quem acredite nelas. Afinal, qual a lógica da superstição de que gato preto dá azar, que coruja aparece para anunciar que alguém vai morrer ou que a sexta-feira treze é um dia azarado? Mas não falta quem acredite nisso. Assim como há quem diz achismos errados sobre pessoas que seguem determinados credos religiosos ou contra os ateus e agnósticos. Devido a preconceitos que dizem que os adeptos de religiões de matriz africana são seguidores do diabo, terreiros de umbanda ou candomblé são depredados e, nas escolas, estudantes umbandistas ou candomblecistas sofrem bullying por serem “da macumba.”
Os religiosos dizem muitos achismos contra os ateus, dizendo que eles não passam de revoltados com Deus que não têm conhecimento da Bíblia, não possuem raciocínio lógico ou mesmo conhecimento científico. Estranho que muitos ateus são cientistas renomados não é? Quem pesquisar sobre Stephen Hawking saberá que ele era ateu. Caso alguém diga que o fato de haver cientistas ateus não torna o ateísmo científico, cabe-nos admitir que o fato de haver cientistas religiosos não torna nenhuma religião científica também. Muitos também acham que os ateus não têm ética ou princípios morais ou que podem até ser bons mas, por não praticarem a Palavra, seriam desprovidos de santidade. Vamos esclarecer alguns enganos. Vários ateus são formados em Teologia, isto é, são teólogos. Tornaram-se ateus justamente depois de ler a Bíblia. Evidentemente, não adianta explicar isso a um religioso radical, que logo se sairá com a desculpa de que se alguém se tornou ateu após ler a fundo a Bíblia é porque não leu com a sabedoria do Espírito Santo. Como vemos, é difícil ter um diálogo civilizado com muitos religiosos, pois não são poucos os que preferem acreditar em achismos e dogmas.
Concluindo, temos que tomar cuidado com pessoas que se aproximam de nós ou aparecem na Internet falando “verdades”. Vamos usar a inteligência que temos, raciocinar, tentar saber se aquela pessoa disse aquilo se baseando em algum estudo científico ou argumento lógico para não sairmos espalhando fake News, achismos, preconceitos e teorias conspiracionistas.