CORPUS CHRISTI EM CAPANEMA: CAMINHOS ABERTOS NA ARTE E NA FÉ!

Nessa reflexão não desejo argumentar sobre as perspectivas histórica – europeia e capanemense – ou teológica da solenidade da presença de Cristo no sacramento da Ceia do Senhor (Eucaristia). Para tanto, em nosso mundo de cibercultura, facilmente se pode descarregar e ler em dispositivos conectados à internet o meu livro “Cultura e Turismo Capanemenses”[ CAPANEMA-PARÁ: CULTURA E TURISMO, CAPANEMENSES: numa visão através da fé (recantodasletras.com.br)] para o conhecimento histórico das origens universal e da tradição dos tapetes em nossa cidade; a “Suma Teológica” – III Parte, questões 73 a 83 – de Sto. Tomás de Aquino [Suma Teológica - Santo Tomás de Aquino PDF Grátis | Baixe Livros] a encíclica “Ecclesia de Eucharistia” de S. João Paulo II [Carta Encíclica Ecclesia de Eucharistia (vatican.va)] ou a exortação apostólica “Sacramentum Caritatis” de Bento XVI [Sacramentum Caritatis: Exortação Apostólica Pós-Sinodal sobre a Eucaristia fonte e ápice da vida e da missão da Igreja (22 de fevereiro de 2007) | Bento XVI (vatican.va)]. Deter-me-ei numa reflexão mais contextual, social e artística sobre a origem da tradição capanemense

Ano 1976. Era o contexto político do regime de exceção militar no país, Ernesto Geisel era o presidente, Aloysio Chaves: governador do Pará. O contexto político, ético e pedagógico era marcado por uma forte disciplina no sentido de manter a ordem social, evitando qualquer ocorrência não prevista pelas leis ou que destonassem da marcha social pretendida pelos aparelhos do Estado, com forte ameaça de repreensão, vigilância e punição. O ideal a ser mantido era de um povo ordeiro, bom, patriota e trabalhador.

Com a assunção da Paróquia em Capanema por Frei Hermes Recanati (1964), seus colaboradores italianos e o então sistema de educação das Irmãs, a Igreja Católica local, em sintonia com o sistema pastoral tradicional do então Arcebispo Dom Alberto Ramos, distanciou-se do modelo de pastoral militante ligado à Teologia da Libertação, inclusive de um modelo pastoral de simbiose ou sincretismo com a cultura popular (que se manteve na Igreja de Bragança) como fora a festividade religiosa e folclórica do S. Benedito da então Praça Moura, desaparecida junto com a capela na década de 1960; predominava, assim, uma pastoral catequético-sacramental. Frei Hermes, por sua amizade com autoridades eclesiais, políticas e famílias abastadas da época e valendo-se dos seus conhecimentos gerais adquiridos na Europa, fez-se valer como guia moral e religioso, uma espécie de “Padre Cícero” em Capanema.

Deve-se considerar, ainda, o sistema de disciplina de país para filhos ao interno das famílias, a qual o nível máximo de educação tinha acesso a população em geral e com qual didática; qual o contato com o mundo – um contato censurado pelo regime – através de rádios, da rádio porte local, do jornal impresso? Como era a diversão da juventude? Os jogos esportivos, festas juninas, o cinema, balneários? A frequência aos movimentos e grupos da Igreja, as celebrações aos sábados e domingos, as novenas... O trabalho precoce.

É nesse contexto que os jovens do curso Treinamento de Liderança Cristã, resolveram inovar e se expressar, recriando a tradição dos tapetes de Corpus Christi de Minas Gerais em Capanema; (sob a orientação da irmã Almerinda e do Fr. Hermes). Numa situação de extrema disciplina e manutenção da ordem em todos os níveis sociais, aquela juventude do TLC, fazendo jus ao objetivo do curso, encontrou uma forma de expressar sua criatividade através da arte numa temática religiosa. Era, provavelmente, uma maneira da juventude cerceada em suas energias vitais pela ordem e estreitamento das margens da liberdade, expressar sua potência criativa e mostrar a diferença de sua ação e eficácia deslumbrando a sociedade capanemense da época com a grandiloquência da arte sacra... Não podendo chegar com facilidade e de modo democratizado aos píncaros do desenvolvimento da ciência e do pensamento universitário, deram vazão ao seu poder de expressão através da criação artística, como trabalho em conjunto, mudando o curso da história cultural, religiosa e turística etc, da sociedade capanemense.