BOM DIA, FAMÍLIA DORIANA... VAMOS TOMAR O CAFÉ ?...
Quem não se lembra daquela propaganda de televisão, onde toda a família reunida com os filhos tomavam o café da manhã, a mesa toda arrumada e impecável.
Todos sorridentes e do lado um lindo cachorro!.
Era a imagem da felicidade e como não se emocionar com uma família tão feliz assim?
Sentados à mesa tínhamos o pai, a mãe, os filhos, um grau de hierarquia
que jamais se imaginava que poderia ser quebrada.
A sociedade vai se modificando, assim como a cultura, os costumes, e com a família naturalmente não poderia ter sido diferente.
Hoje, sentados à mesa, ( isto quando a mesa está posta), vemos diversos modelos de família. É a mãe ou o pai que cuida sozinho dos filhos ou a guarda compartilhada dos mesmos; filhos adotivos e seus cuidadores; a madrasta, o padrasto com as suas famílias recompostas; casais homoafetivos com ou sem filhos; as "mães de coração" ou outros membros cuidadores fora da família, e nunca se esquecendo dos tios, tias e avós , que muitas vezes, cuidam sozinhos dos seus netos.
E tantos outros rearranjos familiares são possíveis, amparados pela própria constituição e pelas leis.
Daquele modelo patriarcal , antes centrada no pai, foram surgindo avanços com a emancipação da mulher, os seus direitos foram garantidos , o divórcio foi regulamentado.
A mulher, antes mãe e simples "dona de casa", passou aos poucos a ocupar o mercado de trabalho e conquistar o seu espaço. Assim, os papéis foram se redefinindo e os pais passaram a ser mais participativos na educação dos filhos, e as tarefas domésticas, muitas vezes, hoje são divididas pelo casal.
De famílias numerosas, hoje vemos famílias reduzidas, quando muito, famílias sem filhos.
Aquele filme e a frase : "Os Meus, os Seus e os Nossos", parece nos dar uma ideia de como tudo teve que ser reorganizado frente aos novos modelos familiares, impondo novos desafios e novas reflexões às novas famílias.
A antiga configuração familiar com papéis fixos e definidos ( pai, mãe e filhos), cede lugar para papéis mais flexíveis com as novas parentalidades e os novos modelos de família.
Independente do modelo familiar, os pais e cuidadores devem continuar zelando e se responsabilizando pelo bem estar de suas crianças, dando carinho, respeito e afeto, para que elas percebam que o amor se propaga com as pessoas que com elas convivem, independente de laços consanguíneos ou não.
Visto por esse viés há enormes ganhos, principalmente para as crianças que aprendem a se relacionar e a interagir melhor com os diferentes ; aumenta a tolerância, a empatia e a socialização das mesmas, tão importantes para um desenvolvimento saudável.
Porém, as novas parentalidades podem vir carregadas de dificuldades na suas convivências, pois cada membro da família já traz a sua história familiar anterior, suas regras e seus costumes; faz- se necessário a criação de novos vínculos.
Percebemos também que os pais com mais habilidades interpessoais lidam melhor com as questões familiares, separando o que é do casal, das questões parentais, o que são relacionados aos filhos.
Portanto casais mais saudáveis são aqueles que conseguem identificar e separar os diversos papéis que exercem fora e ao longo do exercício da paternidade ou maternidade.
Falar sobre as dinâmicas familiares é muito abrangente e bastante complexo; elas reproduzem, muitas vezes, um sistema fechado, onde os "segredos" não são partilhados e os membros da família não conversam entre si.
Não raro, vemos as famílias aglutinadas, aquelas onde todos os membros absorvem e se envolvem nos problemas de todos, acabam perdendo a autonomia e a individualidade de cada um.
Vemos também as famílias dispersas, negam os problemas, pois enfrentá-las se torna muito difícil em meio a um sofrimento muito grande.
Temos que ter muito cuidado para não olhar os rearranjos familiares com um viés preconceituoso; devemos aceitá-las da forma como elas são e como elas são compostas ou recompostas.
Para isso, é preciso se despojar das próprias referências, dos próprios costumes e valores. Na diversidade, não se admite "rótulos" ou "classificações". Precisamos estar abertos ao novo, entendendo que a família é um sistema aberto e dinâmico.
O mais importante é que os membros se respeitem entre si, que haja afeto, diálogo e desenvolvam o exercício da tolerância, da empatia, da paciência mútua no contato com o outro.
Achei oportuna a citação da autora: Terezinha Férez Carneiro, no livro - Casal e Família (Transmissão, Conflito e Violência) :
"A multiplicidade de modelos inter-relacionais que nos rodeiam leva-nos a questionar o quanto homens e mulheres sentem-se seguros de si e conscientes daquilo que lhes foi transmitido. Não podemos nos esquecer de que sempre seremos devedores e credores do que nos antecedeu e do que há de vir, diante das escolhas e do modo de realizá-las."