CORPO, MULHER, ESCOLA

CORPO, MULHER, ESCOLA

Ainda que estejamos no século XXI e que tanto se alardeie o discurso de que avançamos bastante, suscita-nos perplexidade o fato de homens e mulheres optarem por não ter filhos. Passados mais de 50 anos desde a revolução sexual, com o advento da pílula que proporcionou à mulher o controle (parcial) sobre o seu corpo, ainda discute-se a maternidade e o dever da procriação como se fosse cláusula pétrea na vida dos casais. Essa discussão faz parte de um currículo oculto que merece ter destaque na escola, se a considerarmos de fato um espaço em que a identidade se constrói e a esta se vinculam questões relacionadas a gênero e sexualidade.

Assim, convém trazer à discussão no ambiente escolar questões relacionadas à sexualidade, o que requer bastante cuidado por parte da instituição/dos docentes, pois muitos da sociedade, os ditos conservadores, confundem essa abordagem com uma espécie de “iniciação sexual”. Todavia, por que não abordar esse tema nas salas de aula, se há uma série de estereótipos que precisam ser debatidos, uma vez que a questão da procriação, por exemplo, passa pela necessidade de pensarmos em planejamento familiar, o que se atrela a uma questão de saúde pública. Nesse sentido, o Governo/a Escola, em parceria com a família deveriam ser os mais preocupados com essa pauta.

De acordo com SILVA (2005) as teorias pós-críticas nos abriram para compreensão de processos de dominação. E o currículo tradicional exercia/exerce isso sob uma forma de coerção que começa a partir do corpo, sobretudo o corpo das mulheres. Quando o movimento feminista clamou pelo direito de cada mulher ter posse sobre o seu próprio corpo, muitos não compreendiam que estávamos diante de uma reivindicação que ultrapassa a esfera física para adentrar no contexto da subjetividade. Afinal, conforme o relembra o autor supracitado “o pessoal também é político”, bordão disseminado pelo movimento feminista. E sabemos que esse é um legado no qual ideologia e ciência se digladiam, entre tantos outros tantos aspectos sociológicos.

Por isso, a teoria pós-crítica deve se unir à teoria crítica para nos fazer pensar acerca das relações de poder que ainda se perpetuam, mas que, se repensarmos (e implementarmos) o currículo poderemos trazer mais poder, identidade e saber para tantos outros grupos, além das feministas/mulheres, que foram e são – ainda – alvo de muita opressão. Ou seja, é preciso descentralizar o poder e as teorias pós-críticas têm contribuído para isto: despertar consciência, trazer “lugar de fala” a quem por tanto tempo foi silenciado.

Referência

SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo. Belo Horizonte: Autêntica, 2005.