Caminho da Paz

Todos sabemos que o caminho da paz e da concórdia seja difícil e requer muita persistência, muita força de vontade, muito tempo de investimento. Dá muito trabalho. Sempre pensamos a paz a partir das relações internacionais, e poucas vezes a partir das relações pessoais. Na verdade, fugimos desse olho no olho em qualquer de nossas relações cotidianas. Somos covardes por natureza. O outro sempre se apresenta como ameaça, como inimigo.

 

Mudar esse olhar e essa forma de aproximar-se do outro é um grande desafio. Então as aproximações tantas vezes são apenas por interesse. Mesmo nas relações entre namorados a questão é complexa. Muitas vezes, se tirarmos o tesão sexual entre dois amantes não sobre um olhar de carinho, uma ação de solidariedade, um gesto de cuidado. As relações definham e se acabam na ausência do cuidado. Somos exageradamente descuidados. Queremos possuir o outro muitas vezes. Outras tantas vezes e pode ser até maior o número, é amor mesmo, de cuidado e de carinho.

 

O caminho mais fácil e rápido de nos vermos livres do outro é o atalho. Aqui começa o inferno na terra cotidiana. É vã e herética a ideia de um inferno a posteriori. O inferno com seus demônios vive entre nós. Localiza-se tantas vezes dentro da própria casa. Então é mais fácil demonizar o outro que amar o outro. O atalho é demoníaco. Não é agradável a Deus. No atalho o perfume é enxofre, é carne queimando, é carniça apodrecendo. O primeiro passo na demonização não tem volta. Começa ali mesmo o inferno inpiedoso. Por exemplo, na primeira investida em que o marido ou a esposa iniciar a demonização do outro, ali mesmo começa a separação. Não tem volta. 

 

Somos tantas vezes fiéis escudeiros dos processos de demonização dos outros. Demonizamos o colega de trabalho, o chefe, o subalterno, o outro que pensávamos amar. Demonização entre casais. Demonização entre namorados. Demonização da vida cotidiana, do vizinho, da vizinha, do atendente da loja, do pobre coitado que dorme ao relento. A demonização é o oposto da misericórdia. Essa sendo divina, a outra só pode ser do reino das trevas, do inferno.

 

Quando será que podemos ter a vergonha na cara de buscar o caminho mais difícil para a prática do amor. Amar não é coisinha que se encontra numa esquina como se fosse um sorvete. E quanto se fala em amar, não estamos querendo reduzir às relações entre as pessoas em seu modo singular de conviver, mas das relações internacionais. Não há diferença entre uma guerra mundial entre nações e uma guerra individual entre duas pessoas que um dia pensaram que se amavam. As guerras mundiais travadas no entorno das famílias são muito piores. Os mortos nessas guerras nunca aparecem. São literalmente deixados de lado. Mata-se o outro, e joga-se uma pá de cal sobre o cadáver.

 

Muitas vezes nem matamos o outro. Deixamos na estrada morrendo aos poucos, sofrendo cada apunhalada sofrida e sangrenta. O outro morre aos poucos em nossos processo de demonização. Melhor seria, talvez, se a apunhalada fosse letal, fatal. Assim estancaria a dor, as dores. Duro é deixar que a morte demore a chegar. Muitas vezes jamais chegará, mas a espada enfiada ali permanece promovendo sangramento e dor.

 

Somos os algozes de nossos próximos, semelhantes, amantes. As guerras são mais de cunho relacional e pessoal que mundial. De nada adiante rezar a Deus. De nada adiante ir aos Templos depositar a oferta e entregar o dízimo. São coisas desagradáveis a Deus. Jesus não suportou os vendilhões do Templo. Os algozes da demonização são os atuais vendedores do templo. Exploram a carne do outro, o abraço do outro, a dádiva do outro.

 

Diante do juiz queremos justificar nosso processo de demonização do outro. Mas a misericórdia de Deus não comporta essa prática traiçoeira de tercerizar nossos desamor. Na confissão que é o reconhecimento da culpa por ato praticano jamais Deus fará essa pergunta: "Por que você fez isso?" Deus jamais nos julgará a partir de atenuantes. A misericórdia de Deus não pesa pecado. Não busca interpretar o ato a partir do Direito ou da Constituição. Deus perdoa por outros critérios. O tribunal divino não é a reprodução dos tribunais humanos.

 

Os pecados na terra tornaram-se mercadoria de compra e venda. O que vai por lixo sem misericórdia, como todos os processos de demonização do outro, e os que vão para serem avaliados. Nesse caso, está em jogo o que se ganha ao manter o outro vivo. Ou seria melhor meter a espada no coração?

 

No juízo final, vamos ser postos diante dos caminhos que percorremos nas relações. Se escolhemos os atalhos ou enfrentamos os desafios de amar sempre, SEMPRE, independente de qualquer coisa.

 

A guerra mundial é entre duas pessoas e cresce até atingir as nações ou a humanidade. A paz depende de todo esse percurso.

Edebrande Cavalieri
Enviado por Edebrande Cavalieri em 09/05/2023
Reeditado em 09/05/2023
Código do texto: T7783839
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