BUSCANDO GENTILEZA PARA OS INDÍGENAS EM NOVOS TEMPOS
Davi Silva de Carvalho*
Antes de partir para a temática, inicio a escrita desse pequeno texto com um trecho da música “Gentileza” de Marisa Monte: “Apagaram tudo, pintaram tudo de cinza”. Assim se encontrava e encontra-se o atual cenário dos povos indígenas, alvos de conflitos em suas terras e demarcações dos seus territórios.
Em 17 de janeiro de 2023 tivemos a lastimável notícia do assassinato de dois indígenas pataxós no Extremo Sul do Estado da Bahia. Vítimas da cruel covardia de pistoleiros na região, fruto dos atritos envolvendo ocupações de fazendeiros e os indígenas residentes. Karla Mendes, repórter investigativa da Mongabay no Brasil aponta: “Os crimes supostamente ocorreram quando os dois indígenas retornavam a uma área de retomada dentro dos limites da Terra Indígena Barra Velha, reconhecida como tradicionalmente ocupada pelo povo Pataxó em 2008, mas desde então aguarda a conclusão do processo de demarcação”.
Vale destacar que os impasses não só envolvem posses de terras, mas também a exploração de madeira, garimpo, grilagem e mineração em áreas ilegais. Problemas geofísicos intensificando desmatamentos e queimadas, consequentemente danos e prejuízos aos nativos como a grave situação da violência sexual de crianças indígenas, feminicídios, desnutrição, insegurança alimentar, ausência de assistência médica e serviços básicos. Situações desumanas onde a dignidade dos habitantes originários locais é violada principalmente no Norte e Nordeste do País.
Em terras Yanomamis (RR), a situação lamentável. Uma verdadeira crise humanitária e sanitária.
Nos últimos quatro anos essas problemáticas sociais e ambientais se fortaleceram ainda mais. A cor cinza foi “pintada” nesse triste cenário até então demonstrado. Entretanto, com o governo atual houve a criação do Ministério dos Povos Indígenas. Ficando na responsabilidade à ministra Sônia Guajajara (PSOL) para ser articuladora e via das resoluções dos ataques existentes contra seus povos. É crucial o presente Ministério, pois terão o amparo decente e justo, bem como à proteção da FUNAI, órgão que ficou no escanteio na gestão executiva antecessora. Além disso, por lei, o art. 231 da Constituição da República Federativa do Brasil, 1988 - legitima a proteção dos referidos povos e se faz muito necessário no atual momento, pois lá estão a garantia dos seus direitos.
Não será apagada, muito menos o cinza voltará a ficar presente no ambiente dos indígenas, pois são sujeitos históricos da História do Brasil. Tentaram apagar sua História, mas não conseguiram. Depois de muitos anos das ocupações dos europeus em regiões até então ocupadas por povos originários, a sobrevivência ainda está presente mesmo diante das dificuldades. Muitos dizimados, outros silenciados, mas agora terão voz ativa em tempos de ouvidos conciliadores e sua tutela ainda mais reforçada.
Ressalto novamente, o apagamento da História não se efetivou. O que comprova a inserção de uma mulher guajajara no âmbito político ministerial depois de vários séculos de caos e barbárie. Vê-se também o avanço de representantes indígenas trabalhando em prol de maiores e melhores políticas públicas. Agora, também integrando espaços de trabalho com brancos e negros fazendo desde já um Brasil ainda mais plural e buscando gentileza para sua sociedade. Esperança em dias melhores...
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
MENDES, Karla. Ministério dos Povos Indígenas cria gabinete de crise para apurar morte de 2 Indígenas Pataxó. Notícias Ambientais, Mongabay. Brasil, 2023.
Disponível em: https://brasil.mongabay.com/2023/01/ministerio-dos-povos-indigenas-cria-gabinete-de-crise-para-apurar-morte-de-2-indigenas-pataxo/. Acesso em: 20 abr. 2023.
(*) Davi Silva de Carvalho é escritor, professor e historiador com formação acadêmica pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).