Insanidade motorizada

Mais de oitenta toneladas de peso. Quase vinte e cinco metros de comprimento. E lá veio o bicho raivoso e esbaforido, como que querendo exterminar quem estivesse em seu caminho. Pela condução temerária na direção do monstro do asfalto, parecia que o motorista estava a perder o trem com destino a Minas Gerais. Apesar de a sinalização vertical determinar a velocidade máxima em 60 km/h para aquele trecho da via, eis que o apressado teimava em afrontar a legislação de trânsito ao exceder a velocidade permitida para o local, não guardar a distância de segurança do veículo à frente e deixar de sinalizar a cada mudança de direção. Essa conduta agressiva não faz jus à classificação de motorista profissional e acaba sendo uma das causas de graves acidentes de trânsito, provocados por condutores imprudentes a bordo dessas máquinas colossais cada vez mais potentes e tecnológicas, uma vez que pelo seu porte avantajado, a intimidação deliberada sobre os demais veículos é evidente.

Mas não é só o tamanho que assusta aqueles que têm como regra, o respeito integral às normas de trânsito. Motociclistas cada vez mais arrojados se imaginam investidos dos poderes mágicos de Jaspion, do Motoqueiro Fantasma ou outro herói sobre duas rodas, a julgar pelas traquinagens intermináveis perpetradas atrás de um guidão motorizado. O exibicionismo gratuito parece mover essa juventude inconsequente, em que mais vale a adrenalina do momento do que a preciosa integridade física. São manobras incrivelmente ousadas e desnecessárias, colocando em risco a própria vida e a dos demais usuários de vias públicas. Aos condutores de veículos de quatro ou mais rodas, resta ceder prudentemente o espaço para o “corredor” interminável de motocicletas, sob o risco de acabar com o espelho retrovisor arrancado ou outros danos de maior monta. O noticiário mostra diariamente o resultado nefasto dessa cultura alienada, que acomete parcela significativa dos motociclistas desse País. Não procede nem convence a justificativa de que existe urgência nesses deslocamentos, uma vez que a segurança no trânsito haveria de prevalecer sobre quaisquer outros interesses.

Nesse atual caldo cultural movido pela conectividade digital, as pessoas não conseguem se distanciar por algum tempo sequer dos aparelhos de telefonia celular, mesmo quando na direção de veículos automotores. Segundo dados da Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego), o uso do aparelho celular ao volante é a terceira maior causa de acidentes de trânsito com vítimas fatais no Brasil, sendo que 54 mil pessoas perdem a vida todo ano como consequência dessa prática. Não obstante os números expressivos da tragédia anunciada, esse costume nocivo parece enraizado no comportamento do motorista brasileiro, estimulado pela deficiência de fiscalização e punição apropriadas. Diante da flagrante incapacidade das autoridades constituídas em identificar e responsabilizar com eficiência e celeridade os infratores contumazes, o jeito é utilizar as vias públicas com cautela redobrada. Porque a qualquer momento poderá aparecer um condutor negligente ao celular ou algum maluco disposto a exibir suas estripulias insanas em via pública.