A insignificante condição humana
Uma imagem vale mais do que mil palavras. Essa frase muito antiga se mostra absolutamente atual no momento em que a mídia divulga um acontecimento inesperado envolvendo Tenzin Gyatso, o atual Dalai Lama. Autor de dezenas de livros, ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 1989, doutor Honoris Causa pela Universidade de Seattle (EUA) entre outros reconhecimentos oficiais, o líder espiritual aparece beijando a boca de um menino em um evento público, fato que gerou pedido de desculpas por parte de sua assessoria. E por mais que se tente minimizar o ocorrido, o estrago na credibilidade do monge tibetano é inegável.
Certamente o guia espiritual em questão não ignora as consequências de seu ato, uma vez que, por conta de sua influência internacional, está familiarizado com os costumes do Ocidente. Não obstante a fama de “extrovertido e brincalhão” com seus interlocutores, faltou ao ilustre em questão respeitar determinados limites acionando preventivamente o sempre eficiente “desconfiômetro”, ainda mais quando a interação envolver menores de idade. Esse comportamento, mesmo que impulsionado por propaladas singularidades presentes na personalidade do monge como ingenuidade e expansividade, é uma prova incontestável das imperfeições que acometem absolutamente todos os seres humanos. Nota-se que as pessoas costumam conferir atributos de supremacia àqueles expoentes reconhecidos por suas posturas na defesa dos direitos primordiais da humanidade, pela luta incessante na busca da paz ou outras iniciativas de caráter humanitário.
Esses fatos mostram a pretensa onisciência do ser pensante, que reiteradamente se imagina detentor do conhecimento absoluto sobre tudo. Alçados deliberadamente a um nível de ilusória primazia, algumas pessoas se tornam idolatradas e passam a incorporar status de divindades, cujas condutas obviamente, haveriam de ser irrepreensíveis. Imprevistos envolvendo personalidades públicas acabam por expor as fragilidades que acometem todo indivíduo em maior ou menor escala, enquanto inseridos em sociedade e que decorrem da natureza falível da espécie humana.
Cientistas e pesquisadores constroem máquinas com capacidade para realizar inimagináveis viagens interplanetárias, manipulam os destrutivos poderes elementares do átomo, desvendam tratamentos para moléstias das mais variadas possíveis, desenvolvem tecnologias que transformam continuamente a vida das pessoas, mas ainda não se conseguiu conceber sequer uma única e minúscula semente que viesse a germinar e produzir frutos. A humanidade não detêm os poderes da criação, apenas se vale da inteligência privilegiada e da capacidade de improvisação para alcançar seus mais obscuros objetivos. Estamos, pois, todos no mesmo plano terreno, independentemente de títulos honoríficos ou proclamados predicados de transcendência suprema. Essa simplória, mas verdadeira constatação evidencia a insignificância da condição humana, enquanto reles resultados da evolução daquele evento divino que originou a vida.