Espelho partido: A violência na escola como reflexo da sociedade violenta que insistimos em não ver.
A educação é um serviço que tem um impacto significativo na sociedade, e nos últimos anos tem sido alvo de desmontes, cortes de verba, terceirizações e reformas, além de uma pressão pela implementação de modelos militarizados de ensino. Isso porque a escola é vista como o início de uma sociedade saudável, e as classes dominantes não têm interesse em uma geração que cresça dona de seus próprios corpos e pensamentos, com capacidades argumentativas e de liderança. Essas elites reservam a educação de qualidade para seus filhos, deixando os filhos da classe trabalhadora destinados a serem mão de obra barata, o que amplia ainda mais as diferenças sociais e econômicas.
No entanto, o problema não é apenas o descaso público com a educação. A violência também é uma ameaça constante nas escolas, especialmente em regiões periféricas onde as aulas são interrompidas por trocas de tiros durante invasões policiais no bairro. Embora essa violência não seja novidade, quando ela deixa de ser uma situação distante e se torna uma ameaça sem rosto e sem alvo definido por classe social, como aconteceu em Columbine, Realengo e Blumenau, ela passa a assustar. E como o Brasil não é para amadores, as redes sociais pululam com chamados para a repetição desses feitos.
Parte da sociedade começa a clamar por uma presença ostensiva da segurança pública nos espaços escolares. No entanto, se o aumento da presença de forças repressoras fosse a solução para o problema, teríamos uma solução fácil. É preciso investir em outras soluções de segurança, mais tecnológicas e que dificultem o acesso de pessoas estranhas e potencialmente mal intencionadas, mas acima de tudo, é preciso investir em educação de qualidade.
A educação de qualidade inclui espaços para o brincar seguro, aulas com foco no desenvolvimento emocional, além de uma rede de apoio com serviços de saúde mental e assistência social dentro do ambiente escolar, acolhendo alunos e familiares. Além disso, é necessário entender que, enquanto a sociedade for violenta, a escola continuará sofrendo com o mesmo problema.
Nos últimos anos, o Brasil viveu uma escalada de violência, um endeusamento das armas e criou um ambiente propício à expressão de diversos preconceitos. As sementes do mal encontraram terreno fértil no país e se espalharam. Refletir a sociedade brasileira é olhar em um espelho partido e insistir em não enxergar o monstro da violência. É preciso arrancar suas raízes com doses de cultura, consciência social, filosofia e direitos humanos. É necessário matar os próprios monstros e sufocar os ovos da serpente do fascismo que ainda existem, caso contrário, continuaremos a ver situações dantescas nas escolas e fora delas.