O plantio é voluntário, a colheita é obrigatória - a violência nas escolas

A frase acima, de autoria ignorada, é muito divulgada. É um daqueles consagrados ditos da sabedoria popular. Ela é uma tradução do “livre arbítrio”: a liberdade de ação, mas com reação inevitável. Se semearmos o bem, colheremos o bem; se semearmos o mal, colheremos o mal.

O Brasil está consternado com os insanos atos de violência nas escolas e a proliferação de mensagens nas mídias sociais incitando tal barbárie. Autoridades estão atônitas tentando encontrar as maneiras de evitar o desvario, perpetrado até por adolescentes contra crianças! O que está acontecendo com o país do carnaval, samba, futebol, ginga, alegria e amizade? Que era reconhecido mundo afora como um país de paz e acolhedor anfitrião?

Pensadores como Leonardo Boff têm procurado responder: estamos colhendo os frutos de intolerância, ódio e violência plantados nos últimos tempos. Não só nos quatro últimos anos, quando foram agudizados. Mas nas últimas décadas, desde quando os esforços para a justiça social, emancipação e soberania do país provocaram a raivosa reação daqueles que não querem mudar a história de exploração predatória do Brasil, colônia sempre servil aos impérios mundiais e pátria de elite entreguista que não superou o escravagismo.

Os semeadores do ódio e da intolerância têm sido a grande mídia ─ o “partido da elite” de Jessé Souza ─ e sua criatura, Bolsonaro e o bolsonarismo. Indesejada e inesperada criatura pela grande mídia tupiniquim que a pariu, mas não pelos que a manipulam desde o hegemônico império do Norte. Lá se escolheu a dedo o inqualificável presidente que semearia o ódio e a discórdia entre nós, perpetuando o Brasil no papel de submisso quintal produtor e exportador de matérias primas baratas. A velha e sempre eficaz máxima “dividir para governar”.

Boff tem reiterado que os humanos são movidos por dois impulsos antagônicos, ou complementares: Eros, o princípio da vida, e Tânatos, o princípio da morte. Podemos traduzir como sendo o cordeiro e o lobo que a sabedoria popular diz existirem dentro de cada um de nós. Cumpre reconhecer que os dois têm sua importância: se formos só cordeiros, decerto logo seremos devorados pelos muitos lobos que ainda encarnam na humanidade; se formos só lobos, estaremos sempre promovendo a guerra e a selvageria, com outros lobos e os cordeiros. A conclusão é que temos de saber manter um possível equilíbrio entre os dois. Talvez eles tenham dificuldade de conviver, mas têm que aprender qual seu lugar, seu momento e sua forma de agir, e quando devem deixar que o outro predomine. Um aprendizado que demanda o exercício do discernimento, da compreensão, da têmpera e da amorosidade.

Há décadas, no Brasil, tem-se alimentado o lobo, semeado a intolerância, o ódio, a violência. Agora, mesmo apeado da presidência, o culto ao ódio prossegue fazendo seus prosélitos e suas vítimas.

Estamos colhendo o fruto amargo que tem sido plantado. Que a perversidade que ora extravasa seja a dura lição que nos faltava aprender.