A direita é escravagista
Em primeiro lugar, quem é a direita? Historicamente, era a porção da sociedade ─ negociantes, empreendedores, empregadores, proprietários de terras e de bens, leais à monarquia, enfim, os burgueses ─ que tomava lugar à direita do presidente da Assembleia Nacional a partir da Revolução Francesa, no final do século XVIII. À esquerda do presidente tomavam lugar aqueles que ganhavam seu sustento com o próprio trabalho, e que eram partidários da revolução e fim da monarquia.
Com o tempo, “esquerda” e “direita” foram acumulando sentidos, adicionados pelos acontecimentos relacionados com o sistema econômico e a luta de classes: trabalhadores de um lado, empregadores donos do capital do outro. No Brasil, a direita identificou-se com séculos de escravagismo: acorrentou nativos ─ quase totalmente exterminados devido à “não adaptação ao jugo” ─ e negros africanos ─ “mais dóceis e adaptáveis”. Sociólogos como Jessé Souza e outros alertam que esta direita sentiu-se lesada quando da Lei Áurea, que extinguiu a escravidão, pois não foi indenizada pela perda de sua “propriedade”, os escravos negros. Perda que o Estado lhes impunha.
Essa direita, ressentida com a obrigatória expropriação da mão de obra que a servia, concedeu-se o direito de explorar, da mesma forma que o fizera com os escravos, os novos trabalhadores que viessem servi-la. Daí amiúde afirmar-se, desde Gilberto Freyre, que a escravidão no Brasil ─ ou a casa grande que a representa ─ não é uma instituição histórica, mas é uma estrutura mental vigente. A direita, ou a “elite” dona do capital, os injustos exploradores do trabalho, continua vendo o trabalhador como sua propriedade, pertencente a uma “casta” inferior, sem direitos, muito menos o de sonhar com justiça, igualdade e prosperidade. A direita não é só insaciável em sua ânsia de poder e lucro; ela se considera um ser humano diferenciado, autorizado a discriminar, subjugar e explorar a mão de obra que a serve. O escravagismo está enraizado na direita.
Alguns fatos recentes fazem evidenciar a luta direita x esquerda no Brasil. Com a quebradeira de bancos e o tumulto do mercado mundo afora, o Banco Central mantém no país a taxa de juros que é a mais alta do planeta. Garantia de que a população ─ os trabalhadores ─ continuem suprindo o pagamento das rendas aos donos do capital, que emprestam ao Estado. Bolsa de valores caiu, dólar subiu! Os grandes veículos da mídia ─ o “partido das elites” de acordo com Jessé Souza ─ atribuem o mal desempenho do mercado brasileiro à fala de Lula, presidente de esquerda, que criticou as altas taxas de juros. Houve raras exceções admitindo que a turbulência do mercado na verdade tem outras razões fundamentais: a alta taxa de juros, que freia o crescimento econômico, e as incertezas no mercado internacional.
O presidente esquerdista ─ que não é comunista, como a direita insiste dizer ─ é obrigado a vir a público para alertar que a direita sempre vai reagir negativamente às iniciativas que procurem igualar oportunidades para toda a sociedade, tais como o fim da fome, o emprego e salário dignos, a casa própria, educação e saúde gratuitos e de qualidade, chance de cursar uma universidade, mais justiça tributária...
A direita não é só escravagista. Em nome da defesa do escravagismo é capaz de todo tipo de manipulação, intimidação, desumanidade e mentira.