A brevidade da vida

No filme “O livro de Eli” ambientado em um futuro pós-apocalíptico por conta de conflitos nucleares, o protagonista tem a missão de preservar o único exemplar restante do Livro Sagrado, cruzando um continente caminhando para garantir a reprodução de cópias em lugar seguro. A mensagem implícita no longa-metragem traz uma reflexão acerca da dualidade da fé, força invisível que impulsiona e delimita caminhos no comportamento humano. Essa verdade remete à história emocionante da empresária paranaense que aos 45 anos, foi vencida por uma moléstia grave. Apesar do sofrimento com o doloroso tratamento, demonstrou firmeza inabalável ante o diagnóstico desalentador. Deixou uma carta de despedida, em que evidencia a necessidade de se viver a intensidade da vida a cada novo dia.

Independentemente de doutrinas, dogmas ou fundamentos de cunho religioso, a humanidade é levada a buscar por respostas para diferentes questionamentos da vida. Ainda que por natureza sejamos indivíduos únicos desde a concepção, a ancestralidade comum coloca todos no mesmo plano terreno, enquanto detentores do livre arbítrio. Com o privilégio de possuir a percepção sensorial, função cerebral que permite desenvolver habilidades cognitivas e afetivas e que diferencia o ser humano das demais espécies animais, algumas pessoas imaginam-se realmente superiores, inclusive aos da própria linhagem classificados como bípedes inteligentes. Seja por estratificações sociais, etnia, credo religioso, regionalismo ou outros fatores, demonstram comportamentos de primazia exacerbada, totalmente incompatíveis com os preceitos que regem a convivência em sociedade.

A constatação, portanto, diante de determinados comportamentos é a de que estamos por aqui de passagem. Nascemos com prazo de validade previamente estipulado. Na ausência de alguma intercorrência mais severa durante a jornada, em oito ou nove décadas nossa existência se extinguirá naturalmente. Evidentemente que o desejo maior é poder desfrutar de vida longa, profícua e saudável. Não obstante a busca incessante pela idolatrada felicidade ser apenas um flerte transitório com a utopia, é próprio da condição humana ambicionar a longevidade. Em suma, buscamos paz e tranquilidade rodeados por aquilo que imaginamos ter direito. Isso inclui bens materiais, recursos naturais e tudo o que proporcione bem-estar ao indivíduo. Alguns ainda almejam obstinadamente poder e influência, outros notoriedade e estrelismo. E nesse frenesi tecnológico da atualidade, os limites do bom senso são continuamente arremessados literalmente para o espaço. Qual o legado a ser deixado para as gerações vindouras? Em quais condições de habitabilidade o planeta estará no futuro, no momento em que invertemos intencionalmente a ordem das prioridades privilegiando o “ter” sobre o “ser”, supostamente para poder usufruir de uma “vida digna”?

Não restam dúvidas de que temos muito mais do que realmente precisamos para viver. É tempo de refletir sobre nossa missão temporária nesse mundo, empreitada que requer a companhia inseparável de generosas doses de valores éticos e morais. Daqui não se leva absolutamente nada, pelo contrário. Restarão apenas os registros em megapixels dos bons momentos de convivência. Porque conforme o ensinado em Gênesis 3,19, “... és pó e ao pó retornarás”.