Dissecando o fascismo

Não é preciso ser do ramo. Temos visto muitos textos, vídeos, entrevistas, mesas-redondas de psicanalistas, sociólogos, filósofos que tentam explicar o momento de psicopatia, a ascensão do fascismo, que temos vivido, no Brasil e no mundo. Mas há de se reconhecer, os movimentos radicais em favor das sombras sempre trazem junto a reação de tudo que significa o contrário: a iluminação. Foi assim, por exemplo, no Iluminismo, o “Século das Luzes”, que sucedeu a Idade Média, a “Idade das Trevas”.

Os sociólogos dizem que o fascismo, a tradução da extrema-direita, é um recorrente produto do capitalismo. Este concentra a riqueza, dissemina a pobreza, exclui a grande maioria da população. Origina imensas frustrações, não cumpre a promessa de prosperidade que hipocritamente alardeia. A massa desiludida precisa então encontrar um “bode expiatório” onde evacuar sua frustração e revolta. O capitalismo constrói esse inimigo a ser odiado: ora os judeus, ora os negros, ora os imigrantes, ora os comunistas, ora os mais letrados, ora os ainda mais pobres, ora os petistas, ora o torcedor do outro time, ora o adepto da outra igreja...

Os arautos do capitalismo ─ a elite econômica e seus cooptados prepostos da classe média ─ são mestres em manipular as massas e criar o inimigo a ser odiado. Assim, anulam o que seria a justa e lúcida crítica e revolta contra o sistema, o qual enriquece cada vez mais os ricos, às custas do aprofundamento da exploração dos cada vez mais pobres. Sofisticados e custosos recursos são empregados no logro e na incitação das massas contra elas próprias, e não contra o verdadeiro inimigo. Uma forma refinada do antigo “dividir para conquistar”, que há séculos orienta os impérios para manter enfraquecidas e submissas suas colônias.

As estratégias atuais incluem o científico controle da informação e das mídias, que visam a manipulação das massas: um misto de desinformação e mentira com estímulos que reforçam os reflexos condicionados. Instintos que mais fazem o ser humano parecer uma fera selvagem do que um ente que se presume racional e sensível. Não são só os cães, como mostrou Pavlov, que podem ser condicionados a reagir irracionalmente a estímulos falsos. Os seres humanos reagem igual.

O poder que insufla as massas contra si mesmas, encolerizando-as e dividindo-as, tem muitas faces: são as nações imperialistas que querem a hegemonia do poder mundial; são as corporações transnacionais que detêm o controle da economia; são os prepostos locais, os super-ricos, que controlam capatazes da classe média; são todos aqueles inescrupulosos indivíduos ressentidos, em busca de resgate ou de supremacia a qualquer custo, que tornam-se os herdeiros dos capitães do mato do escravagismo, os responsáveis diretos pela tapeação das massas.

No mundo, particularmente no Brasil, há recursos suficientes para que não existisse pobreza. Ela só existe porque os bens produzidos são espoliados da massa de trabalhadores que os gera. Vão enriquecer ainda mais os que já são super-ricos.

Só há uma maneira de romper com a avareza deste sistema: as massas precisam acordar, deixar de ser manipuladas; precisam unir-se na luta contra a milenar exploração.