A verdade sobre as pessoas conservadoras

Muitas pessoas se queixam de que existe preconceito contra o conservadorismo e alegam que é mentira a ideia geral de que os conservadores são pessoas retrógradas e inimigas do progresso. Será que dá para concordar com tal ideia? Para saber se podemos concordar ou não com a afirmação de que quem diz que conservadores são pessoas reacionárias está ou não com a razão, vamos primeiramente analisar o que significa ser conservadorismo. De acordo com os dicionários, conservadorismo equivale a se opor às mudanças e desejar manter as coisas como elas se encontram. Então, podemos deduzir com facilidade que uma pessoa conservadora tende a se agarrar às coisas vigentes e não costuma aceitar as mudanças, sejam elas políticas ou sociais. Talvez alguns, tentando dizer que não é verdade que os conservadores são retrógrados, falem que eles não se opõem ao progresso. Porém, devemos entender a que tipo de progresso eles estão se referindo. Será ao progresso econômico ou ao científico e/ou tecnológico? Ou ao progresso social? Temos de analisar isso porque sabemos muito bem que pessoas conservadoras têm bastante dificuldade em aceitar que os valores sociais mudam e também devemos considerar que uma pessoa pode muito bem ser liberal e receptiva em questões econômicas e tecnológicas e defender valores conservadores quanto a questões sociais, defendendo que uma mulher deve casar virgem e condenando a homossexualidade, por exemplo.

Sejamos racionais ao observar certos fatos que ocorrem em nossa sociedade atual. Vejamos os casos de meninas de onze ou dez anos que sofrem abuso sexual e engravidam e, por não terem condições de levar uma gravidez adiante já que, devido à pouca idade, podem morrer ao darem à luz, precisam abortar. Já houve o caso de uma menina de dez anos que foi submetida a um aborto e várias pessoas fizeram barulho nas portas do hospital chamando a menina de assassina. Foram pessoas liberais ou conservadoras que fizeram isso? O que dizer de uma sociedade na qual existe a cultura do estupro, que tende a culpar a vítima de um crime hediondo e ainda chama uma criança que não tem outra alternativa para continuar viva que não seja o aborto de assassina? Aliás, observemos o passado em relação aos direitos da mulher. Quem era contra as mulheres terem direito ao voto? Os conservadores ou os liberais? São pessoas conservadoras ou liberais que dizem que “lugar de mulher é na cozinha”? Embora as mulheres tenham conquistado direitos, temos de admitir que o machismo ainda é muito forte na nossa cultura e foram sempre os mais conservadores que se opuseram a que as mulheres conquistassem direitos.

Uma outra coisa a observar em relação às mulheres: em tempos não muito remotos, pregava-se que uma moça deveria casar virgem, chegar pura ao casamento. Uma moça que perdesse a virgindade seria considerada desonrada, muitas vezes sendo até expulsa de casa pela família. Quanto aos homens, um rapaz que perdesse a virgindade nada sofreria. Dir-se-ia dele que ele tinha “se tornado homem”. Hoje, ainda bem que isso não existe mais, mas, se dependesse das pessoas mais conservadoras, moças que perdessem a virgindade continuariam sendo enxotadas pelas famílias, sendo vistas pela sociedade como vagabundas e prostitutas. Um bom exemplo de como essas coisas eram comuns até pouco tempo atrás é o filme The Magdalene sisters (Em nome de Deus na versão brasileira), que mostra como na Irlanda do século XX moças consideradas impuras e desonradas eram mandadas para os asilos das irmãs Madalenas e obrigadas a trabalhar em regime de semiescravidão em lavanderias, sendo continuamente maltratadas e humilhadas pelas freiras que comandavam tais lugares. Mandavam-se moças que fossem mães solteiras, houvessem perdido a virgindade ou sido estupradas ou fossem mesmo consideradas inconvenientes por serem bonitas demais e chamarem a atenção dos rapazes. Qualquer um que pesquisar no Google verá que não se está mentindo nem aumentando nada. Pensemos nos países de maioria muçulmana e conservadora. Nesses países, se os pais acham que os filhos estão se comportando de maneira errada, eles têm inclusive o direito de matá-los.

Façamos também uma pergunta: pensemos nos casos de jovens que são expulsos de casa e rejeitados por suas famílias por pertencerem à comunidade LGBTQIA+. Quem faz isso? Pais conservadores ou liberais? Lembremos que por muito tempo homossexualidade, bissexualidade, transexualidade, etc, foram consideradas anomalias e doenças e que, em muitos países, homossexualidade era crime. Aliás, em países muçulmanos, homossexualidade é crime punido com a morte. Atualmente, muitos são os que fazem oposição aberta aos direitos conquistados pela comunidade LGBTQIA+ e, com certeza, os que são contrários são pessoas conservadoras, que falam que homossexualidade é um “pecado grave aos olhos de Deus”. E o que podemos falar sobre os casos de crimes de ódio, em que gays, travestis e pessoas trans foram espancadas até à morte? Quem fez tais coisas? Gente conservadora ou liberal? Se alguém tem dúvida de que existem crimes de ódio contra trans e homossexuais deveria ver os noticiários sobre assassinatos de pessoas das comunidades LGBTQIA+ ou assistir ao filme Meninos não choram, que conta a história real de Teena Brandon, uma moça americana que se sentia, agia e se vestia como rapaz e foi brutalmente assassinada por sua maneira de ser. Vamos ser realistas e admitir que uma pessoa conservadora não aceita facilmente que as regras sociais mudam.

Agora, falemos a respeito dos negros no Brasil e nos Estados Unidos. Está certo que o fato de uma pessoa não gostar de pessoas de pele escura não significa que ela seja conservadora, porém, com certeza, não foram pessoas liberais que lutaram contra os movimentos abolicionistas nos Estados Unidos e no Brasil, não é? E nos Estados Unidos, mesmo quando já não havia escravidão, havia uma forte segregação racial, tanto que negros não podiam frequentar os mesmos lugares que os brancos. Muitos líderes, como Martin Luther King e Medgar Evers perderam suas vidas lutando pelos direitos dos negros e organizações conservadoras como a Ku Klux Klan perseguiam ferozmente os negros e todos aqueles que se dispusessem a apoiar a luta contra o apartheid. Aqui, no Brasil, não chegou a haver tal segregação, mas sabemos bem que os negros, após a abolição, não conseguiram encontrar formas de sobreviver com dignidade, tendo que aceitar subempregos.

Na atualidade, o que temos visto aqui em nosso país? Vimos uma figura ridícula como Jair Bolsonaro se eleger por causa do seu discurso que encantou justamente os mais conservadores e retrógrados, dizendo ser pela família e pela Pátria e usando como lema “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”. Agora, Bolsonaro não conseguiu se reeleger, o que mostra o quanto havia gente desiludida com seu governo e, mesmo assim, muitos não querem aceitar que foi a vontade da maioria que venceu. E são os conservadores que estão fazendo papel ridículo bloqueando estradas, pedindo intervenção militar e até atrapalhando a vida das pessoas. Houve mesmo o caso de um pai revoltado com o bloqueio das estradas porque seu filho precisava se submeter a uma cirurgia. É triste ver como certas pessoas desejam que a realidade se adeque às suas ideologias. São pessoas conservadoras ou liberais que estão fazendo essas coisas ridículas?

Tudo bem que não devemos julgar uma pessoa por ela se dizer mais conservadora, até se ela for idosa, no entanto a verdade é que gente conservadora tende a se agarrar a valores arraigados e será muito difícil que mude seu ponto de vista. Cabe a nós ter muito cuidado ao lidar com elas, principalmente se elas forem do tipo que costumam discutir com ignorância e não aceitam pontos de vista diferentes dos seus.