“Salve, símbolo augusto da paz!”
“Salve, lindo pendão da esperança/ Salve, símbolo augusto do paz!/ Tua nobre presença à lembrança/ A grandeza da Pátria nos traz./ Recebe o afeto que se encerra/ Em nosso peito juvenil/ Querido símbolo da terra/ Da amada terra do Brasil.”
Se refletirmos sobre estes primeiros versos do Hino à Bandeira do Brasil, talvez eles consigam remeter-nos de volta a um tempo, não muito longínquo, em que tínhamos uma outra ideia do país e de sua bandeira. O final da década de 1980, quando saíamos de duas décadas das agruras da ditadura militar, foi um tempo de regozijo dos anseios de democracia e união nacional. Promulgou-se a Constituição Cidadã de 1988, consolidaram-se partidos políticos que davam expressão a aspirações de trabalhadores e idealistas, elegeram-se lideranças populares, democráticas e progressistas. O Brasil parecia respirar, aliviado e esperançoso. Isso depois de um longo período em que era crime sonhar com um país livre, soberano e confiante em um futuro que fizesse jus a sua grandeza, que almejasse ser mais que uma colônia submissa e empobrecida.
Desde então, a nova desordem mundial hegemônica ─ nas palavras do eminente cientista político Luiz Alberto Moniz Bandeira ─ instalada após a dissolução da União Soviética, tem revelado que os países imperialistas não vão tolerar o surgimento de novas nações prósperas e independentes, como o Brasil vinha ensaiando fazer. Por aqui, a democracia e suas instituições vinham se consolidando, sucediam-se eleições que, se não chegavam a ser irrepreensivelmente justas, eram livres e respeitadas.
As coisas começaram a mudar depois que alguns fatores se somaram: elegeu-se um governo popular, que aspirava a soberania do país, o progresso e justiça social; prosperamos e chegamos a ser a sexta economia mundial, desbancando nações tradicionais; e, talvez o fator capital, descobrimos o petróleo do pré-sal, que nos credenciava como potenciais exportadores da estratégica commodity que, embora ambientalmente condenada, ainda é a principal componente da matriz energética mundial.
As reações imperialistas foram imediatas. Começou-se a cultivar na população, principalmente por meio da manipulação midiática, o descrédito na política ─ toda ela tida como corrupta ─, a reação passional e violenta aos partidos políticos e celebridades identificados com ideologias em prol da emancipação do país. Foi reativada a Quarta Frota de Guerra dos EUA, destinada a operações no Atlântico Sul, que fora desativada em 1950. Sinais claros: tornamo-nos uma ameaça, ainda que nossa intenção fosse somente prosperar, fazer melhorar a vida da população como um todo.
A pior consequência das reações ao “risco” de prosperarmos foi o condicionamento reflexo da população. Resumindo, passamos a odiar o diferente, a desacreditar da democracia, a desacreditar do futuro e da possibilidade de emancipação do país e do povo.
E o hino à bandeira? Bem, vemos lá, nos primeiros versos, as palavras “paz”, “grandeza”, “afeto”, “amada terra”. Em novembro comemoramos do dia da bandeira. Mas que desde já, e sempre, que tais palavras, junto com o lindo pendão verde-amarelo, nos despertem, e nos remetam de volta ao tempo em que acreditávamos na capacidade do povo brasileiro unir-se em torno do ideal de prosperidade, solidariedade e justiça social que já compartilhamos antes.