Os sonhos alheios

Temos que nos conscientizar de que nossa vida é nossa, apenas nossa, e de que viver para satisfazer aos sonhos alheios só nos trará infelicidade, insatisfação e todos os tipos de frustração. Imaginemos que você tenha sido forçado ou forçada a fazer um curso superior para o qual você não tem a menor vocação. Mesmo nos nossos tempos, ainda há muitos pais que agem como se estivéssemos vivendo nos tempos antigos, em que os pais decidiam a vida dos filhos. Por que será que tantos pais ainda agem assim? Difícil responder, porque as pessoas são diferentes e os motivos podem ser os mais diversos. Há pais que são opressores, há os que queriam ter seguido tal carreira e, por não terem conseguido, desejam que o filho ou filha siga tal caminho e muitos outros motivos. Em todo caso, pais que agem assim são muito egoístas e não entendem que não cabe a eles determinar assim o futuro dos filhos. Os pais podem orientar, é verdade, mas orientar não significa querer e decidir que alguém seja médico, engenheiro ou professor. A vida é da pessoa e é ela que tem de decidir. É verdade que, muitas vezes, quando os jovens estão ainda no ensino médio e começam a sentir a pressão para decidir que carreira irão seguir eles podem acabar decidindo por uma carreira para depois descobrir que não era o que queriam. Acontece que isto não deve servir de motivo para que os pais obriguem os filhos a seguir nenhum caminho. Se uma pessoa decidiu por um curso e depois viu que não era o que combinava com ela, que ela mesma então reflita, procure saber o que dá certo e busque seu próprio caminho. Cometer erros faz parte de ser humano e é muito comum que escolhamos um curso e depois não nos identifiquemos com ele. E se um filho ou filha optou por um curso e depois não deu certo nele isso não deve nunca servir como motivo para os pais se intrometerem dizendo aos filhos o que eles devem fazer. Para que uma pessoa realmente amadureça, ela tem que correr o risco de fazer escolhas erradas para no final ver, por ela mesma, o que lhe convém.

Um outro fator que deve ser considerado é que, quando uma pessoa, por imposição paterna, termina por fazer um curso superior sem vocação ou passa a exercer uma profissão que não queria, isso acaba se tornando um fardo muito pesado para ela. Imaginemos alguém fazendo um curso que não gosta, sentindo-se um completo estranho no meio dos colegas, tendo de estudar matérias que não tem a menor vontade de aprender. É uma situação realmente frustrante. Para piorar, há pais que não querem entender quando os filhos tentam dizer que não estão felizes fazendo cursos para os quais não têm vocação. É terrível quando os pais não entendem que os filhos estão infelizes e não são poucos os que recorrem à pressão psicológica e chantagem emocional para obrigar os filhos a continuar fazendo cursos que eles não gostam. É muito fácil os que estão de fora dizerem que os filhos são fracos e deveriam se impor, mas lembremos que não é fácil viver sob todos os tipos de pressão. E ainda há os que passam pano nas atitudes desses pais egoístas, dizendo que os filhos devem obedecer, porque os pais só estariam querendo o bem dos filhos, já que, segundo crença geral, os pais “sabem o que é o melhor para os filhos”. Nada mais errado. Se uma pessoa às vezes nem sabe o que é bom para ela, como saberá o que é bom para outra pessoa? Cada pessoa é uma e todos nós estamos neste mundo para descobrir, por nós mesmos, o que nos serve, que carreira devemos seguir, com quem iremos casar, etc. Aliás, pais que querem decidir a vida dos filhos não estão apenas sendo opressores. Eles estão subestimando a capacidade dos filhos de tomar as suas próprias decisões. Como é para um filho já adulto conviver com pais que ficam em cima dele dizendo o que é para ele fazer como se ele tivesse oito anos de idade e não dezessete ou dezoito? Tudo tem de ter limite. Os pais têm que criar os filhos para que eles um dia sejam capazes de fazer suas escolhas. Pensemos também como será para uma pessoa que passou boa parte de sua vida com os pais decidindo tudo por ela. Ela se tornará uma pessoa insegura, incapaz de tomar suas decisões e, ao contrário dos filhos que foram estimulados desde cedo a ser independentes, elas sentirão muito quando tiverem que se virar sozinhas já que não foram estimuladas para isso.

Outra coisa que tem que ser observada é que nossa vida é importante demais para perdermos tempo e energia satisfazendo aos sonhos alheios. Se seu pai quer que você seja médico, entenda que você não pode sacrificar sua felicidade por causa dos sonhos dele, não importa se seu pai é médico e quer que você siga o mesmo caminho ou se ele queria ser e não pôde sê-lo. Não cabe aos pais decidir o que os filhos podem ser, que capacidades eles terão. Não se deve ter filhos para projetar neles seus sonhos. Os filhos são seres com direito a ter seus próprios sonhos, como todo mundo. Você quer passar o resto da sua vida frustrado porque abriu mão de sua individualidade para satisfazer a um capricho dos seus pais? Porque, se virmos bem, fazer apenas o que os outros querem é abrir mão da felicidade pessoal. E quando uma pessoa usa de chantagem emocional e pressão psicológica para obrigar você a fazer o que ela quer ela está mostrando que não respeita seus sentimentos, usando de um golpe bastante baixo: a manipulação. Nenhum genitor tem o direito de fazer isso com seus filhos. Claro que não se está dizendo que uma pessoa que fez um curso porque os pais obrigaram foi fraca. Apenas a pessoa sabe a pressão que sofreu. Então, a partir do momento em que tomamos consciência de que nossos pais não jogaram limpo com a gente, devemos lutar com todas as nossas forças para sairmos desse círculo vicioso. Pais que desejam decidir a vida dos filhos não sabem o que é educar. Educar não é obrigar alguém a ser qualquer coisa, seja o que for.