O que se espera do psicanalista?
Por Daniel Alves pena psicanalista
Espera-se que ele tenha bem claro para si os seguintes aspectos:
1. Qual é a natureza de sua motivação predominante para aceitar tratar analiticamente uma certa pessoa: se é por um natural prazer profissional, ou prevalece uma oportunidade para uma determinada pesquisa; uma necessidade única de prover os ganhos pecuniários; uma obrigatoriedade devido a uma certa pressão de pessoas amigas ou, no caso de candidatos, unicamente pelo compromisso da obrigação curricular do instituto, ou é um pouco de cada um desses fatores, etc.
2. Ele deve ter definido para si qual é o seu projeto terapêutico, se o mesmo está mais voltado para a obtenção de “benefícios terapêuticos” ou de “resultados analíticos”.
3. Diante de um paciente bastante regressivo, o analista deve ponderar se ele reúne as condições de conhecimento teórico-técnico, notadamente das primitivas fases do desenvolvimento emocional primitivo e se está preparado para enfrentar possíveis passagens por situações transferenciais de natureza psicótica.
4. Da mesma forma, ele deve avaliar se preenche aqueles atributos que Bion (1992) denomina “condições necessárias mínimas” e que aludem à empatia, continente, amor às verdades, etc.
5. Partindo da assertiva de que não deve haver uma maneira única, estereotipada e universal de psicanálise, e que uma mesma técnica pode – e deve – comportar muitas e diferentes táticas de abordagem e estilos pessoais de interpretação, faz parte do papel do analista reconhecer se ele domina o eventual uso de “parâmetros” (diz respeito a possíveis intervenções do analista que, embora transgridam algumas regras analíticas, não alteram a essência do processo analítico).
6. O terapeuta deve estar em condições de reconhecer a natureza de suas contra-resistências, contratransferências e possíveis contra-actings.
7. Ele deve ter condições de envolver-se afetivamente com seu paciente, sem ficar envolvido; ser firme sem ser rígido, além de, ao mesmo tempo, ser flexível, sem ser fraco e manipulável.
8. Também entrou em voga, desde Bion (1970), a questão referente a se a análise deve se desvincular de toda pretensão terapêutica, tal como essa é concebida e praticada no campo da medicina.
9. Assim, creio que existe um risco de o analista levar exageradamente ao pé da letra a recomendação de Bion de que a mente do analista não fique saturada de desejos de cura (grifei a palavra “saturada” porque muitos interpretam mal essa recomendação e pensam que ele fez uma apologia da abolição de qualquer tipo e grau de desejo). Nesse caso, o analista corre o risco de suprir um natural desejo de que seu paciente melhore, e, no lugar disso, ele pode adotar uma atitude de distanciamento afetivo.
10. Penso ser muito importante que o analista, por maior que seja a sua demanda de pacientes, trabalhe em condições de conforto físico, emocional e espiritual. Para tanto, é imprescindível ele conhecer os limites de sua resistência física (o número de horas que trabalha; se os seus horários não interferem com sua vida privada; se não é excessivo o número de pacientes regressivos que lhe provocam um grande desgaste e preocupações...), assim como deve reservar uma parte do seu tempo para prazeres e lazeres.
11. É útil que o terapeuta observe atentamente “que perguntas o paciente se faz e que respostas ele se dá” e, da mesma forma, se o analista tiver um claro conhecimento de “com quem” e “como” o seu paciente se relaciona, fica aberto o caminho para ele reconhecer a estrutura básica da personalidade do paciente em avaliação.
Extraido do livros Manual de Técnica Psicanalítica de David E.Zimerman