Crise de identidade
Psicanalista e escritor, Daniel Alves pena
Esta aludida crise processa-se tanto no âmbito individual quanto em nosso sentimento de identidade grupal e social.
De fato, a acelerada mudança dos valores éticos, morais e religiosos, somada a todas as formas de violência urbana que regem o modo e a finalidade de viver, tornou os indivíduos, inseridos em um mundo que, cada vez mais, exige uma velocidade crescente para uma exitosa adaptação aos padrões vigentes, algo ansiosos, confusos e perdidos quanto à sua identidade, isto é, quem eles são, como devem ser, para o que e para quem eles vivem.
Um outro fator que vem contribuindo para uma confusão de identidade nos indivíduos, comunidades e nações consiste no fato de que a crescente globalização acarreta uma diminuição e um borramento das diferenças entre os indivíduos, quando é sabido que a manutenção das inevitáveis diferenças representa a matéria-prima na formação de qualquer sentimento de identidade.
Na linguagem psicanalítica, essa disparidade é conhecida como um conflito entre “Ego ideal” versus “Ego real”. Esse tipo de estado conflituoso tem gerado um crescente valor de que, falsamente, o sujeito vale mais pelo que tem ou aparenta ser do que, de fato,
é ou, autenticamente, pode vir a ser.
Em outras palavras, a ânsia por um reconhecimento pelos demais é tão premente que está aumentando significativamente o número de pessoas portadoras de um falso self, e, da mesma forma, quando não há o referido reconhecimento, a cultura narcisista força uma baixa da autoestima do indivíduo, o que acarreta um maior surgimento de estados depressivos.
Trecho do livro _ Manual de técnicas psicanalíticas de David E. Zimerman