O feminismo não é o machismo das mulheres
Muitos são contra o movimento feminista, alegando que ele nada mais é que o machismo das mulheres. Acontece que tal afirmação é equivocada porque, em primeiro lugar, o feminismo não luta contra os homens, assim como os movimentos que combatem o racismo não têm como objetivo promover guerras entre etnias, mas combater preconceitos infundados e garantir a igualdade de direitos àqueles que são alvo desses preconceitos. Embora tenhamos de admitir que algumas feministas são extremistas e é errado dizer que “nenhum homem presta”, precisamos entender definitivamente que o feminismo não tem o objetivo de promover uma guerra entre os sexos. Muitos que são contra o feminismo dizem que basta as mulheres irem à luta e mostrar o seu valor, porém vamos ver a história da Humanidade. No passado, poucas eram as mulheres que se destacavam no campo do conhecimento porque no geral não havia oportunidade para as mulheres. Entre as poucas mulheres que se destacaram havia a filósofa Hipátia, de Alexandria que, por ser mulher e se dedicar à filosofia e à matemática, não era bem vista inclusive pelo Cristianismo.
Também foram muito poucas as mulheres que tiveram posição de relevância na política, como a rainha inglesa Elizabeth I e Catarina, a Grande, da Rússia. Devemos inclusive lembrar que as mulheres precisaram ir à luta para ter o direito ao voto e, do mesmo jeito que os negros, nos Estados Unidos, precisaram se organizar para lutar pelos seus direitos, as mulheres conquistaram direitos porque precisaram se organizar e clamar por eles ao longo da História, combatendo ideias erradas que pregavam a inferioridade natural da mulher. Vale salientar que há homens feministas e mulheres machistas. Quantas mães não tratam de forma diferenciada os filhos e as filhas? Além disso, por muito tempo (isso diminuiu nos tempos atuais) defendeu-se que, enquanto a filha devia se manter virgem para o casamento, os rapazes deviam, assim que chegavam à adolescência, ter logo sua experiência sexual para provar que eram “homens”. Antes, era comum que os filhos fossem criados com muito mais liberdade e as filhas fossem mantidas presas em casa, com hora certa para chegar. E não podemos esquecer da vergonhosa cultura do estupro, que culpa a vítima, insinuando que a vítima provocou o estuprador. Aliás, dizer que a vítima provocou o estuprador acaba sendo ofensivo até para os homens, porque dá a entender que o homem que vê uma mulher com uma saia curta ou uma roupa mais sensual é como um animal que vê uma fêmea no cio: incontrolável.
Entre os muitos argumentos usados pelos que alegam que o feminismo é apenas o machismo das mulheres, está o de que a lei Maria da Penha não passa de uma lei sexista que discrimina os homens e que a violência doméstica existe porque as mulheres hoje não respeitam os seus maridos. Vamos então nos fazer uma indagação: desde quando um erro justifica outro? Se uma mulher não trata seu companheiro com o devido respeito, isso torna legítimo que ela seja espancada e até morta? Um outro fator que derruba essa afirmação desprovida de fundamento é que a Lei Maria da Penha também pode ser aplicada se a violência for praticada pelo sexo feminino, visto que não podemos deixar de admitir que há mulheres abusivas e que homens também podem ser vítimas de violência. Então, novamente, temos que reforçar que o feminismo não visa colocar as mulheres contra os homens e sim combater ideias erradas e garantir direitos. Antes que alguém diga que isso é fricote, pensemos nos negros e outras etnias discriminadas e em tudo que esses povos têm sofrido ao longo dos anos. Não é justo que reivindiquem seus direitos e exijam ser tratados com respeito e dignidade? Por que as mulheres não podem fazer o mesmo? Não basta uma mulher provar que é competente porque isso não a livrará de sofrer com assédio sexual, discriminação e estupro. Devemos lembrar que, mesmo que uma mulher tenha escolaridade (as mulheres estudam mais do que os homens, segundo pesquisas) seja competente, ela costuma sofrer discriminação no ambiente de trabalho e muitas vezes recebe uma remuneração menor.
Vamos reforçar novamente que o feminismo não pretende colocar as mulheres contra os homens pois lutar para que as mulheres sejam tratadas com dignidade não significa santificar as mulheres e demonizar os homens até porque caráter não está relacionado a gênero. Alegar que nenhum homem presta ou que quase todo homem é cafajeste é uma afirmação preconceituosa. Assim como há homens de péssimo caráter há mulheres de mau caráter. E homens podem, inclusive, ser vítimas de violência doméstica, seja em relacionamentos heterossexuais ou homossexuais. Não podemos esquecer ainda que homens podem sofrer violência sexual embora isso não seja tão divulgado. Dessa forma, entendamos, de uma vez, que o feminismo não se trata do machismo das mulheres contra os homens. Se há correntes feministas que demonizam os homens, elas estão erradas porque são extremistas. E devemos tomar cuidado porque a História já nos mostrou que nenhum extremismo é saudável nem tem consequências positivas. Lembremos do nazismo, fascismo e das ditaduras comunistas e do terror que implantaram.
Uma coisa que precisa ser salientada é que a cultura machista que ainda persiste em nossos dias também prejudica os homens. Com quantos conceitos limitados acerca do sexo masculino nós não temos convivido por tantos anos? Diz-se que “homem não chora”, que é insensível, grosso, cafajeste e que é natural que os homens traiam suas parceiras. Como vemos, esta nossa cultura sexista dá uma ideia errada dos homens. Muitos homens, por anos, não puderam expressar seus sentimentos devido ao preceito de que homem tem que ser durão e não pode mostrar fraqueza. Rapazes que se mostrassem mais sensíveis eram logo malvistos pela sociedade por não terem jeito de “macho”. Diz-se também que homem é grosso mesmo, que nenhum homem é fiel e tudo o mais. Percebe-se então que a nossa cultura machista dá um retrato limitado dos homens, como se todos os homens fossem saídos de uma única forma. Muitas mães que tiveram casamentos ruins diziam às filhas que “nenhum homem presta”. Claro que essa é uma ideia equivocada, afinal há homens que prestam e que não prestam e não é porque um homem é cafajeste que isso quer dizer que todos o sejam.
Vemos que ainda temos muito que evoluir. Temos que entender que tanto a mulher como o homem são seres capazes e dignos e que o feminismo não pretende colocar as mulheres contra os homens. Pretende, simplesmente, que as mulheres conquistem seu espaço e tenham seus direitos reconhecidos.