UMA CONVERSA ENTRE MARIDO E MULHER
Prólogo
Embora seja ficcional os nomes dos personagens foram trocados em respeito às privacidades de fraternos amigos virtuais deste autor. Quaisquer semelhanças com outras pessoas vivas ou falecidas terão sido meras coincidências. – (Nota deste autor).
Quem sabe se comunicar, exaltar o potencial do diálogo, tem mais chances de ser compreendido. Comunicar-se faz com que um pedaço do nosso mundo se torne parte de outra pessoa. – (Nota deste autor).
As sociedades sempre foram moldadas mais pela natureza dos meios que as pessoas usam para comunicar-se que pelo conteúdo da comunicação. Podemos entender que comunicação não é o que você fala, mas o que o outro compreende do que foi dito. – (Nota deste autor).
O INÍCIO DA CONVERSA
Fernando estava muito ocupado. Ele lubrificava e organizava suas armas e ferramentas em uma sala recém-preparada com o fim de melhor usufruir de seu passatempo favorito: Tiro ao alvo e miniconsertos domésticos.
Quando não estava escrevendo Fernando gostava de fazer pequenos e diversos consertos em sua minifazenda de dois hectares. – (Um hectare equivale a dez mil metros quadrados. – Nota deste autor).
– Amor... Como se escreve a palavra brechó? Não sei se é com “ch” ou com “x”. – Perguntou sua amável e gentil esposa Lindalva, 32 anos, embora aparentasse no máximo 22 anos de idade.
– Depende querida. – Respondeu impaciente Fernando, nascido em 1º de janeiro de 1949, do alto de sua experiência de 73 janeiros.
– Depende? Como assim? É com “ch” ou com “x”? Estou perguntando para poder avisar às amigas sobre esse evento que se realizará na próxima quinta-feira.
– Depende se você deseja ser compreendida em sua mensagem ou se quer ser alvo de zombaria. De uma forma ou de outra, do jeito que você escrever, haverá comunicação, mas o certo é escrever brechó com “ch”.
– Ah! Mas já vi a mesma palavra escrita com “x” em algum lugar. – Arguiu Lindalva fazendo trejeitos femininos de caras e bocas.
– Querida... Existem pessoas que conseguem cometer três erros em uma só palavra. Isso ocorre por escreverem do mesmo jeito que pronunciam, mas você ainda não percebeu que no momento estou sem tempo para essa conversa?
– Sei. Sempre ocupado, mas se eu lhe convidasse para uma boa sacanagem, aqui ou na cama, você num instante arranjaria tempo. – Refutou a esposa, infantilizando a voz, mas séria querendo parecer mais adulta do que era.
– Desculpe-me querida. É que existe o Google e dicionários para lhe ajudar, mas você está sempre me perguntando algo que você mesma poderia pesquisar e sanar sua dúvida.
– É. Mas certa ocasião você me perguntou como devia fazer um brioche para o lanche dos filhos dos nossos amigos Laura e Cardoso. Lembra-se do que eu respondi? Não se lembra, mas fui à padaria de Seu Josias e comprei o bastante para todos nós e você adorou.
O brioche é considerado uma “viennoiserie”, pois é feito da mesma maneira básica que o pão, mas tem o aspecto mais rico de um item de confeitaria/pastelaria, devido à adição extra de ovos, manteiga, líquido (leite, água, creme e, às vezes, conhaque) e ocasionalmente um pouco de açúcar. ... O panetone é um tipo de brioche. – (Nota deste autor).
– Claro que me lembro! Lembro até que você escreveu “brioxe” com “x” e nem assim você deixou de ser atendida por Seu Josias com cortesia.
– A propósito, cortesia é com “s” ou com “z”? E paralisia? Como se escreve? Com "s" ou com "z"? – Perguntou Lindalva fazendo muxoxo.
– Por favor querida... Oh! Mania de perguntar o trivial. Consulte o Google! Aliás, vou lhe matricular no curso de gramática e literatura que o meu amigo Eugênio está abrindo em seu (dele) colégio.
– Tudo bem, não sei o significado da palavra "trivial". Acho que você esta me embromando. Vou consultar o Google, farei isso, mas qual é a palavra sobre a qual alguém poderia cometer de uma só vez três erros?
E quanto ao curso de gramática e literatura do tio Eugênio só aceito se eu puder vestir minhas minissaias... Posso? Prometo que não cruzarei as pernas e me sentarei sempre com os joelhos bem juntinhos (risos).
– Lindalva! – Quase gritou Fernando. – Depois a gente conversa sobre esse seu atrevimento (saliência).
O FERNANDO PROFESSORAL
– Bochecha é o certo! As pessoas escrevem "buxexa", cometendo três erros numa só palavra, por pronunciarem errado (risos tendenciosos à gargalhada). – Respondeu o ancião marido Fernando. – Também escrevem "Girimum" (dois erros em uma só palavra. – Nota deste Autor) quando deveriam escrever Jerimum.
– Ah! Sim. Compreendi, mas continuo entendendo que deveriam considerar certo escrever como pronunciamos. – Asseverou Lindalva.
– Querida... A linguagem coloquial é como falamos, mas é a linguagem formal, escrita, que nos faz ser aprovados em concursos sérios. – Finalizou Fernando já desistindo de continuar em seu prazeroso labor (Limpeza de armas e ferramentas).
– Obrigada por seus ensinamentos meu "pirulito" (risos) mais doce. Essas conversas com você sempre me fazem aprender um pouco mais. Tenho a absoluta certeza que não sou exceção nesse aprendizado tão edificante. Só mais uma pergunta. Posso? Como se escrevem exceção e excesso?
– Minha doce menina.... Não confunda a palavra excesso com a palavra exceção! Exceção escreve-se com "ç" e excesso com "ss". Estas palavras não partilham o mesmo radical. São palavras distintas com significados e grafias distintas. Veja essa simples explicação: Exceção significa o ato de excluir ou excetuar. Excesso é o resultado do ato de exceder.
CONCLUSÃO
"Ora, se o povo fala "girimum", com “gi”, "buxexa", com "u" e dois "x" há uma tendência muito forte para escrevermos errado. Contudo, é preciso diferenciar a linguagem coloquial (informal) da linguagem formal.
A linguagem coloquial, informal, natural ou popular é uma linguagem utilizada no cotidiano em que não exige a atenção total da gramática, de modo que haja mais fluidez na comunicação oral.
Cito o exemplo do escritor João Guimarães Rosa, conhecido como “o inventor de palavras”, em sua obra Grande Sertão: Veredas, além de criar novas palavras, utilizou o estilo coloquial de linguagem, uma estratégia eficiente para que o leitor possa construir a imagem de alguns de seus personagens do sertão nordestino.
Todavia, nos certames sérios o que realmente reprova é escrever do jeito que se fala ou com o som que se ouve. Portanto, jia é com “j” e jerimum, jenipapo, jiboia, jiló, jeito e jeremias também. Todas são com “j” apesar do som ser ouvido como “g”. Ah! Conferi no Google e vi que Fernando tem razão. O certo é Brechó, com "ch" e bochecha, com ("o" e "ch").