Maria vai com as outras

"Maria vai com as outras" é uma expressão de meu tempo de criança e adolescência, usada para aquelas pessoas sem vontade própria, frouxas de caráter, que sempre tinham que copiar ou o padrão pré-estabelecido pela maioria ou a marca imposta por uma gangue. Há muito tempo não ouço nem vejo essa expressão. Hoje ela certamente sofreria a reprovação do politicamente correto. Embora ainda vivamos um mundo machista e misógino, já aprendemos a reconhecer que, mesmo amorosas e pacíficas, as mulheres ─ as "marias" ─ mostram muito mais firmeza de caráter que os homens. Não consigo atinar com uma expressão atual que bem substitua a arcaica "maria vai com as outras". Visualizo uma folha seca ao vento. Não uma rês tangida no meio de um rebanho comportado. Esse é o gado! Pois gado é uma expressão que tem sido usada para uma turba de indivíduos massificados. Não serve para aquele sujeito que chamava a atenção por ser a "maria vai com as outras" num bando variegado.

Talvez a diferença seja justamente esta. Nos últimos 60 anos aperfeiçoou-se muito a capacidade de sequestrar a vontade própria e o comportamento das pessoas. Se antes as "maria vai com as outras" eram aquelas esporádicas pessoas que tinham por natureza baixa autoconfiança e a tendência de seguir vontades alheias, hoje rebanhos imensos de pessoas são manipulados para seguir vontades ditadas por sofisticadíssimas tecnologias de propaganda, informação e desinformação. Mesmo que nos consideremos indivíduos com vontade própria, não é fácil resistir aos impulsos que nos reduzem aos cães de Pavlov, que reagem com reflexos condicionados a estímulos cientificamente planejados.

Para quantas finalidades temos sido manipulados! Alguns exemplos: a obediência à moda e ao status, que faz descartar vestuário, veículos, eletrônicos, utilidades, etc. ainda em bom estado, para não sermos rotulados de antiquados e fracassados; a crença que a felicidade é comprar, é possuir, que nos faz escravos de um consumismo compulsivo e nos aliena de valores como autenticidade, parcimônia e solidariedade; a submissão a tirânicos sistemas econômicos que fazem com que acreditemos que a artimanha e o dinheiro dos patrões tenham mais valor que o trabalho; a crença em mentirosas ideologias políticas que nos dizem que o sonho de um mundo de justiça social ou é uma utopia ou é a máscara que encobre regimes totalitários e cruéis; a glorificação de nações guerreiras e que almejam o poder hegemônico mundial a qualquer custo, como se elas fossem os berços da audácia, da liberdade, da oportunidade e dos direitos humanos; a obediência a igrejas que endeusam o dinheiro e a prosperidade, esquecendo valores sagrados.

Qual expressão deve substituir o antiquado "maria vai com as outras" para designar a manipulação coletiva que tem transformado grande parte da população num grande rebanho mundial? Sozinhas, as palavras alienação, ilusão e logro parecem não dar conta da tarefa. Talvez robotização? Pois, tal como os robôs, deixamos de ter vontade própria. Somos condicionados para reagir conforme a programação a que fomos submetidos.