ALÉM DOS CANTOS DOS DISCOS E DOS LIVROS... BELCHIOR

"Não quero lhe falar meu grande

amor

Das coisas que aprendi nos discos

Quero lhe contar como eu vivi

E tudo que aconteceu comigo"

(Belchior)

Estou ouvindo esta música tão bonita do Belchior e em meio a melodia surgem algumas reflexões.

Muitas vezes, as pessoas que procuram ajuda em caráter emergencial, querem apenas falar e desabafar os seus problemas, como diz a música ( quero lhe contar como eu vivi e não do que aprendi nos discos).

Querer "interpretar" logo as falas, nesse momento, pode não ser de grande ajuda.

Abre-se um abismo muito grande, de um lado alguém querendo falar, encontrar um ombro amigo, e do outro, alguém já tentando "dar respostas" para os dilemas humanos tão complexos.

Nós, como todos os profissionais que estamos envolvidos com a dor do outro, temos que ter zelo, cuidado, respeito pelo tempo e pelo ritmo do paciente, respeitando os seus limites e a suas dores.

Pode acontecer também um encontro das diferenças, quando a nossa realidade e nossos valores forem muito diferentes das pessoas envolvidas.

Isto é muito comum nos trabalhos com populações específicas, grupos ou Comunidades , onde os mesmos costumam ter o seu próprio funcionamento, as suas próprias regras, seu próprio estilo de viver.

Então, é preciso conhecer o território e as formas como eles interagem, isso ajuda a ampliar nossos olhares e a nossa própria visão de mundo.

Penso que é um eterno trabalho de desconstrução e reconstrução, o despojamento das nossas próprias referências, para realmente "entrar no mundo" daquelas pessoas e entender a realidade, as vivências daqueles que sofrem, para realmente poder acolher e conseguir ajudar.

E a música toca os corações!.

"Viver é melhor que sonhar, eu sei que o amor é uma coisa boa e qualquer canto é menor do que a vida de qualquer pessoa ".

É tão bom sonhar, mas despertar para a realidade vivida, por vezes, é tão cruel, muito mais difícil do que ficar nas leituras dos escritos dos livros e das suas músicas.

Só quem sofre sabe a dimensão da sua dor!.

E hoje, vivemos em um mundo da "banalização" e da "naturalização" do sofrimento humano.

Será que ainda se consegue ficar perplexos e indignados diante de tantas tragédias, das guerras, das mortes e da violência a qualquer nível?

A música é linda, mas enxerguemos além das suas letras, pois a realidade pode ser muito mais cruel do que imaginamos.

O nosso conhecimento adquirido através dos discos e dos livros,como diz a música, é importante sim, porque as teorias do conhecimento ajudam a entender o funcionamento da mente humana. Mas, diante da angústia de quem sofre, nada substitui o acolhimento, a escuta atenta, a presença e a aceitação incondicional da sua forma de ser.

Nenhuma teoria do conhecimento substitui o contato humano.

Lidar com pessoas é a todo momento se desprender dos nossos valores, preconceitos e julgamentos, reconhecendo que somos tão incompletos e imperfeitos como os demais!.

Reflexões feitas ouvindo

Belchior ( Como Nossos Pais).

A música inspira, traz lembranças,

libera emoções e ajuda nas suas

reflexões!.